zoom

Marcos Lessa: com voz marcante e muito carisma, ele veio do Ceará para conquistar o Brasil


Um jovem cantor, extremamente talentoso e militante em defesa da MPB. Revelado pelo The Voice Brasil, em 2013, hoje canta por todos os país e tem muitos planos e grandes projetos na música.

Marcos Lessa é cearense, nascido e criado em Fortaleza, e tem o dom de cantar. Com uma voz marcante – que não é fácil encontrar por aí-, muito carisma, técnica, amor pela música e jovialidade, Lessa vem encantando plateias por todo o Brasil.

O cantor se tornou conhecido pelo grande público ao participar do programa “The Voice Brasil”, em 2013. Logo em sua primeira apresentação, foi elogiado por Carlinhos Brown:

“Seus graves são excepcionais. Não importa quem você escolher, sua voz é uma fortaleza e me emocionou. Me lembrou uma das vozes mais belas do Brasil: Emílio Santiago” _Disse Brown

Marcos Lessa chegou a semifinal do programa, quando fez uma apresentação memorável de “Travessia”, de Milton Nascimento. Vale rever:


Marcos Lessa interpreta grande sucesso de… por natpluy2201

De lá pra cá, Lessa foi amadurecendo sua arte e conquistando cada vez mais espaço na música brasileira. Primeiro com o CD “Entre o Mar e o Sertão” e atualmente em turnê com “Estradas: um tributo a Gonzaguinha”, CD lançado no fim de 2015 em comemoração aos 70 anos de Gonzaguinha.

E ninguém melhor que o próprio Marcos Lessa para contar um pouco mais de sua história e inspirações. Essa entrevista é quase uma aula sobre música popular brasileira.

Antes de mais nada, quem é Marcos Lessa?

“Marcos Lessa é um cantor e compositor cearense, de 25 anos, que tem procurado desde que começou a cantar, defender com militância a música feita no Brasil e a música feita no Ceará. Procuro dar nova roupagem a essas músicas, e a essa escola de se fazer música, pela qual eu me apaixonei: com harmonia, com melodia, com letra, com pesquisa e sem perder o lado comercial. Músicas geniais como “Vai Passar” , de Chico Buarque e Francis Hime, é uma música genial e um hino de toda uma geração. Marcos Lessa é um cantor que poderia estar buscando atalhos através de estilos musicais que dessem sucesso mais efêmeros e imediatos, mas vai fazendo seu trabalho de formiguinha. É meio velho (risos) tem praticamente 70 anos de idade, pensa como alguém que nasceu nesse tempo e carrega um pouco consigo um legado dos barítonos populares, de uma escola de cantar de Simonal, de Dick Farney e de Frank Sinatra, até! Tá na luta, na defesa da música popular brasileira e de cada vez mais fazer chegar nas pessoas como eu vejo o mundo através das minhas canções.”

Como iniciou na música, o que e quem mais te inspirou a seguir este ofício?

“Eu comecei na música, eu acho que na barriga da minha mãe ainda, meu pai era músico erudito, tocava em orquestra e minha mãe sempre ia lá nos ensaios, na catedral, e dizia que eu ficava mexendo na barriga quando a orquestra começava a tocar. E também ver o meu pai, músico, desde pequeno em casa, tocando e ouvindo música brasileira e muita música clássica, com certeza isso e estimulou bastante. Se eu for buscar minha primeira memória, eu já queria ser cantor! As memórias que eu tenho da minha vida já são memórias onde já tinha o sonho de viver da música. Isso se soma também, e acho que até mais forte ainda, na família da minha mãe, que todos os tios dela são seresteiros, tocam violão e tem uns vozeirões graves. Na família da minha mãe está bem presente isso! Inclusive, esse meu lado compositor vem da minha mãe que é compositora, escritora de livro infantil, contadora de história. Então sempre foi muito forte isso em mim de querer viver da música.

Com 12 anos, mais ou menos, eu ouvi no rádio a Elis Regina, e quando acabou a música eu ouvi também, pela primeira, vez esse nome: Elis Regina. Foi através da Elis que eu me apaixonei mais ainda pela música brasileira. Ela foi um fio condutor, eu ouvi todos os discos dela, aí veio “Bala com bala”, música que ela gravou em 72, aí eu via que o compositor foi João Bosco, aí eu ia ouvir João Bosco. Vi que ela gravou “Rebento” do Gil, em 80, aí fui ouvir Gil, vi que ela gravou “Mundo Novo Vida Nova” em 79, e assim que eu comecei, neste tempo já, o meu estudo de música popular brasileira e a saber o nome dos compositores de cada música. Através dessa paixão que eu fiquei pela Elis, foi que eu quis levar esse sonho de ser músico, que já estava dentro da minha família, para ser cantor, né?! Adentrei mesmo! De cara, assim, de saber quais foram os músicos que tocaram com ela em cada faixa de quase toda a discografia. Então, a minha grande, GRANDE inspiração de ser cantor foi mesmo Elis Regina. Depois foram surgindo novas referências, né?! Como o próprio Gonzaguinha e Tom Jobim, eu ouvi muita bossa-nova, muito! Mais pra frente fui ouvir o povo da minha terra também, Fagner, para ser um cearense também que cantasse o forró com o sotaque do ceará. Mas a primeira referência depois dessa ligação da minha família, de querer ser cantor, sem dúvida alguma eu posso dizer com toda tranqüilidade que foi a Elis!

E esse ano está fazendo 10 anos que eu entrei em estúdio pela primeira vez, mas considero que virei cantor profissional, em 2010, já com 19 pra 20 anos. Foi quando comecei a cantar com Manassés e Souza, que é um grande instrumentista do Ceará. Ele gravou com todo mundo! Gravou com Caetano, com Raul Seixas, fez uma história acompanhando Fagner, fazendo arranjo dos principais sucessos do Fagner. Ele me viu cantando, em Guaramiranga, que é uma serra lá no Ceará, e me chamou pra banda dele. Ele criava no show um momento me apresentando, eu entrava no palco e fazia 10 músicas com ele, cantando os compositores cearenses: Belchior, Ednardo, Fagner, Petrúcio Maia, Fausto Nilo, que também são grandes referências no meu trabalho. E aí o Manassés foi morar em Brasília, e eu fiquei em Fortaleza, o meio musical ficou me conhecendo bastante, por causa dessa ligação com Manassés e eu montei a minha banda, que está comigo até hoje, e foi quando eu comecei a cantar profissionalmente fazendo shows, ganhei alguns festivais, cheguei a fazer show em Brasília, Natal, Porto Velho. Então aí já estava bem definida a minha posição na música popular brasileira. Então o “The Voice” chegou, em 2013, eu já estava há 3 anos cantando profissionalmente, eu já tinha uma certa estrutura. O “The Voice” divulgou o meu nome e minha imagem. Começamos a viajar o Brasil, fiz dois shows em Nova Iorque e um, inclusive, no Blue Note, que é um templo do Jazz. Então foi depois do “The Voice” que deu essa ampliada na minha carreira, que saiu de nível regional, para ir a nível nacional.”

Estamos na semana da cultura nordestina, e o que mais te encanta na cultura do nordeste?

Olhe, o que mais me encanta na cultura nordestina é o que me encanta também na bossa-nova e me encanta também na cultura do norte do país. Os artistas nordestinos conseguiram passar muito bem através da sua arte, desde o coro do Seu Espedito Seleiro, que o pai dele fazia os calçados de Lampião e ele já fazia o gibão de Luiz Gonzaga; desde o barro lá de Caruaru do Mestre Vitalino; desde a música de Gonzaga, a música de raiz nordestina e cearense, que é a música de Belchior, de Lauro Maia. Esses artistas todos conseguiram através da sua arte, colocar a realidade onde eles estavam inseridos. Do sertão, que é muito marcado na cultura tanto na parte musical, quanto na parte do artesanato, da parte das artes plásticas, é muito forte essa marca. Mas é muito forte também a marca da FORÇA.

O forró, por exemplo, você escuta o forró de Gonzaga dos anos 50, que é o auge aí do Baião, principalmente, você consegue ver no forró a trilha sonora, a paisagem sonora do sertão, do retirante da seca, do sertanejo que saiu do Ceará e foi embora pro Rio de Janeiro, do que ficou, da salvação da lavoura, do gado, de tudo isso. O que mais me encanta na cultura nordestina é que os representantes dessa cultura conseguiram imprimir na sua arte a realidade onde eles estavam inseridos, com muita poesia, conseguiram transformar o sofrimento em poesia, em testemunho para um sertanejo que passa pelo o que ele passou na seca, dos anos 50, anos 60 e até hoje também, ouvir uma música de Gonzaga e sentir renovada a esperança, conseguir se ver dentro dessa cultura. Então é isso que me encanta.

Você está em turnê com “Estradas: um tributo a Gonzaguinha”. Fale um pouco sobre a concepção e desenvolvimento desse lindo trabalho:

Esse trabalho começou com um sonho lá atrás, eu era criança ainda, quando meu pai e minha mãe colocavam para eu ouvir a música “Sementes do Amanhã (nunca pare de sonhar)” com participação de Daniel Gonzaga, filho do Gonzaguinha. Foi a primeira música que ele gravou, ele era criança, fez parte do coral junto com Erasmo Carlos e é uma música linda, é uma música que eu ainda hoje quando escuto a gravação original, me emociono. Então Gonzaguinha chegou no meu conhecimento aí, mais pra frente eu, já maiorzinho, fui redescobrir o Gonzaguinha através da música “Redescobrir”, que a Elis gravou em 1980 no álbum “Saudade do Brasil”. E eu achei um CD do Gonzaguinha lá em casa, “Novo Millennium”, uma coletânea com 24 músicas, e esse disco virou a trilha sonora da minha vida por meses. Eu, com 15 anos, ouvia o disco quase todos os dias quando ia tomar banho, quando chegava do colégio, botava lá no som, desligava a luz do meu quarto, fingia que estava cantando, me imaginava fazendo um show cantando aquelas músicas, então era um sonho mesmo! Então chegou o ano de 2015 e eu vi em alguma reportagem que naquele ano seriam os 70 anos do Gonzaguinha, se estivesse vivo. Coincidentemente, pouco tempo antes disso, eu conheci de uma grande figura chamada Paulo Vanderley, o principal detentor de tudo que se quer ver a respeito de Gonzaga, Gonzaguinha e Dominguinhos. Ele que é um dos principais tutores do Museu Cais do Sertão, que é o museu de Gonzaga no Recife. Então eu falei a Paulo que queria gravar um álbum cantando Gonzaguinha e ele que fez a ponte com Daniel Gonzaga, que hoje é o editor da Editora Moleque, criada pelo Gonzaguinha nos anos 70, que é onde está toda a obra do Gonzaguinha. A gente entrou em contato com Daniel para saber quanto ele cobraria pra gente regravar as obras do Gonzaguinha, e ele gostou tanto da ideia que ao invés de cobrar, ele financiou o disco, através do coletivo célula. Então eu me juntei com Cainã Cavalcante, que é um grande violonista, um dos maiores desse país mesmo, junto com Eduardo Holanda que é outro parceirão e é o meu diretor musical, e fizemos o CD. Eu batizei esse trabalho de “Estradas: um tributo a Gonzaguinha”, que é o nome de uma música que o Gonzaguinha cantava e que não tinha nenhuma versão de estúdio, até a minha. Gravamos o disco acústico, voz e violão, que é um formato que o Gonzaguinha gostava muito. O disco foi dirigido pelo Daniel Gonzaga e tem participação especial também da Fernanda Gonzaga e da Amora Pêra, filhas do Gonzaguinha. Foi a realização de um sonho, né?! Um sonho que eu cultivei ao longo de todos esses anos e, de repente, eu estava aí com a família do homenageado me dirigindo, me apoiando e feliz de saber que eu estava entendendo as mensagens que o Gonzaguinha deixou.

O show, onde a gente já passou com ele, a gente tem ficado muito emocionado. Realmente o Gonzaga Júnior emplacou muitos sucessos, é um cara muito querido por diversas vertentes, pela face dele sambista, carioca, pela face dele filho do Rei do Baião, pela face dele engajada. Passamos hoje por coisas muito parecidas com o que ele batalhava quando estava vivo, nos anos 80, então eu acho que a importância de renovar esse catálogo da obra do Gonzaguinha é trazer de volta todas essas mensagens, toda essa escola de fazer música popular brasileira, nesse contexto de hoje que a música no nosso país, a MPB, está precisando muito de nós. Então é trazer para essa nova geração, da qual eu faço parte, essas músicas lindas e eu já ouvi muitas pessoas falando que não ouviam Gonzaguinha, mas que já gostavam do meu trabalho, e da minha voz, e conheceram Gonzaguinha depois de me verem cantando. E pra quem era fã, é emocionante: eu tive no Acre, em Rio Branco, onde ele cantou no show de inauguração do Teatro Plácido de Castro, e depois do meu show a diretora do teatro veio me dizer que os dois shows que ela mais se emocionou foi o de inauguração com Gonzaguinha e o meu cantando Gonzaguinha. Então é uma honra isso, agente ta trazendo de volta essas canções, dando vida a essas canções e garimpando umas que não são tão conhecidas como “Todo Boato Tem Um Fundo Musical”, que é uma música que ele gravou nos anos 80 e está super atual. Então essa é a história do “Estradas”, e ainda estaremos na estrada com esse projeto até o próximo ano.

E para o futuro próximo, algum novo projeto engatilhado?

Eu tô viajando ainda com o “Estradas”, mas tem um novo trabalho por aí sim. Na verdade tem dois! Tudo indica que no próximo ano sairão dois discos meus. Um deles é o “Sal”, um disco basicamente autoral, de músicas minhas inéditas. Vai ter uma música que eu ganhei do Tunai, que é o compositor de “Frisson”, outra cedida por Moraes Moreira e Fausto Lino, e Margareth e o Carlinhos Brown também me deram uma música pra esse disco. Estamos aguardando esse projeto com boas expectativas.

E o disco que eu estou me debruçando é o “Aquiri”. No ano passado iniciou toda uma história de amor minha com o Acre, eu fui fazer um show beneficente pra uma associação ecológica, chamada “Novo Encanto” que tem uma sede num seringal, dentro da floresta amazônica, uma área de 3.000 hectares com igarapés, com resquícios para manter acessa a história dos seringueiros, os soldados da borracha. Eu fui convidado para ser embaixador dessa associação de ecologia Novo Encanto e aí comecei a ir bastante para o Acre, me encantei por essas terras, os shows que a gente fez no Acre todos foram sucesso de público. Eu fiz 10 músicas aqui pro Acre, então a gente vai agora em fevereiro pra lá, já temos até o apoio do estado e vamos montar um estúdio móvel dentro da floresta, na beira do igarapé preto, que aí vai pegar o som dos passarinhos cantando, o som do vento, dos rios. No álbum está prevista participação especial do João Donato, que é acreano, e dos índios ashaninkas, vou lá na aldeia gravar com eles. Então estou sonhando com esse projeto, que está sendo muito bem recebido aqui no Acre, vai sair no próximo ano mostrando essa minha relação com a natureza, todo com músicas minhas, que eu fiz pro Acre. É um projeto inusitado que vamos gravar dentro da floresta.

Para fechar, vale ouvir e assistir Marcos Lessa cantando “Sangrando”, de Gonzaguinha:

Por Natália Brandão


Deixe seu comentário


Envie sua matéria


Anexar imagem de destaque

Por favor, anexe uma imagem com 920 pixels de largura e 625 pixels de altura.