Em 2015, o Pearl Jam encerrou mais uma turnê no Brasil com um show apoteótico no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro.
A turnê tinha tudo para ser normal, se é que dá para usar essa palavra em se tratando de Pearl Jam. Mas essa foi, sim, especial.
Vamos começar falando da primeira passagem de Eddie e Cia. por Belo Horizonte. Foi a primeira vez que nossos queridos mineirins viram a trupe em suas terras.
Mas não foi só isso.
Foi em Belo Horizonte que a palavra especial ganhou um outro status nesse curto período da banda por aqui. Lá, Vedder disse, no palco do Mineirão, que doariam seus cachês para as vítimas do desastre em Mariana.
Doar o cachê é, por si só, louvável, mas para nós – e quando digo nós, me refiro a todos os brasileiros -, é muito mais do que especial. Somos um povo tão carente de proteção, de carinho e cuidado.
Um povo tão passado para trás por essa corja de governantes corruptos que vêm de séculos atrás, sem escrúpulos e empresas privadas que não dão a mínima para nós em TODOS os aspectos, que o Pearl Jam doar o cachê para ajudar Mariana teve um contexto maior.
Eddie pediu, em nome de todos nós e das vítimas da cidade, punição. Sua voz alcança o mundo e com ela as atenções se voltaram para cá. Vide diversos sites internacionais falando sobre a atitude do grupo.
Enquanto muitos de nós “brigávamos” em redes sociais para mostrar qual dos problemas era maior ou mais importante, Mariana ou Paris, o Pearl Jam deu uma lição de humanidade. Isso porque eles também mencionaram a capital francesa por aqui, inclusive tocando um cover de Eagles of Death Metal.
Como se não bastasse, a banda financiará projetos para a redução do carbono no Brasil e no Peru. Sim, a turnê de uma banda emite muito carbono e para compensar eles vão trabalhar em conjunto para que isso não seja tão destrutivo quanto é.
“O Pearl Jam compensará suas apresentações, que vão de 4 a 28 de novembro, mediante projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação de Florestas que estão se desenvolvendo no Peru e no Brasil”, informou o Serviço Nacional de Áreas Protegidas pelo Estado do Peru.
Tal qual a Alemanha, personagem maior do – ainda falado e que toma tanto tempo das mídias por aí -, 7 a 1, que deixou um enorme legado para Santa Cruz da Cabrália, o Pearl Jam deixa o seu.
Já falamos aqui sobre o fato de grandes bandas, com uma história incrível na música, fazerem de seus shows espetáculos dignos do valor tão caro que é cobrado nos ingressos. Três horas de hits, simpatia e um vocalista falando português contrastam com os estrelismos de novas bandas com seus showzinhos burocráticos beirando a falta de respeito para com o público.
Se fosse “só” isso já estaria de bom tamanho. Mas tal qual o normal, com o Pearl Jam não é só isso.
O que o Pearl Jam deixa pra gente é que não devemos brigar porquê alguém troca sua foto de perfil do Facebook se solidarizando com um país. Isso não significa que ela está esquecendo a tragédia daqui. Tragédias são tragédias em qualquer lugar, solidariedade também. Se ao invés de brigar a gente se unisse…
O Pearl Jam deixou para nós algo como “vocês podem se solidarizar com todos, vocês devem”. Chamou a atenção do mundo para Mariana e agora cabe a nós fazer jus e continuar a mostrá-la para o mundo e cobrar, cobrar veementemente daqueles que têm que ser punidos. Ainda que não seja pela falha justiça brasileira, mas que seja por nós.
O Pearl Jam nos ensinou que nosso dinheiro é suado e que temos que dar valor a ele. Se você paga por algo, tem que receber o devido. O público brasileiro é o melhor do mundo em se tratando de shows. Todos sabem disso, agora cobrem, porque nenhuma banda vem aqui de favor e não tem que sair do palco depois de 1h20 de um show mais ou menos.
A música é tão transformadora na vida de tanta gente, seja ela rock, rap, pop e qualquer outra, mas temos que começar a colocar essa transformação para fora e transformar a vida das outras pessoas, só assim passaremos o que foi aprendido. Tá na hora, sério.
Lições de humanidade, respeito ao próximo, parar de faláceas, principalmente em redes sociais, e agir; valores, se importar e fazer o melhor. Esse é o legado. Cuidem dele.
Por Rock Noize