A Bahia nunca saiu do pensamento de Raquel Virgínia, e é o palco escolhido para o lançamento, ao lado de O Poeta, de um debochado pagodão baiano, tão provocante e sensual quanto a inusitada dupla de cantores que parou a Feira de São Joaquim, em Salvador, para gravar o clipe de “Consumo”.
A música chega às rádios baianas e plataformas digitais a partir de 16 de janeiro e antecede o lançamento oficial do projeto.
Em vias de lançar seu primeiro projeto solo pela Warner Music, a cocriadora do prestigiado trio “As Baías e a Cozinha Mineira” resolveu voltar à cidade em que um dia pisou com o sonho de subir em trios para cantar Axé. Agora, ela volta sabendo quem é, e a fim de reescrever sua jornada musical, que começou ainda na adolescência na periferia de São Paulo, quando se chamava Rafael Cassio Vitor, e escrevia, em um caderno escolar, hipotéticas canções que imaginava um dia serem gravadas por Ivete Sangalo.
O tempo passou, Rafael se formou em história pela USP, e seguiu a carreira de professor até assumir sua verdadeira e definitiva identidade, Raquel Virginia, uma mulher trans determinada a vencer ou vencer.
O sonho de cantar Axé ficou para trás, mas foi à frente da transgressora e prestigiada banda de MPB “As Baías” que Raquel Virgínia conquistou reconhecimento artístico, duas indicações ao Grammy Latino e até gravou a música ‘Mãe’ com Ivete Sangalo durante a pandemia.
A banda se dissolveu, Raquel enveredou por uma bem-sucedida carreira de empresária na área de marketing com sua agência de inovação NHAI!, passou a atender a grandes marcas de consumo de massa e deu voz à causa LGBTQIAPN+ em entrevistas, consultorias e até na ONU.
Em janeiro de 2025, durante o mês da visibilidade trans, Raquel Virgínia retorna a Salvador para lançar uma parceria inusitada com O Poeta, novo nome promissor da cena musical baiana.
“Tinha que ser na Bahia, lugar da mistura, onde as fronteiras do preconceito são atravessadas pela alegria e pela liberdade, onde um homem hetero pode contar uma história divertida ao lado de uma mulher transexual sem problemas. Eu quero falar com o povão dessa terra ímpar, servir diversão, dança, ousadia e fazer pensar. Se foi na Bahia que descobriram o Brasil, é lá que quero me redescobrir”
Gravado na eclética e tradicional feira de São Joaquim, entre temperos, pescados, artesanato, frutas e legumes, o clipe de “Consumo” é mais um capítulo do projeto “Raquel à Venda”, um trabalho onde assume uma personagem pop que quer falar do capitalismo, do consumo, uma fotografia social contemporânea.
“Raquel à Venda” é o projeto para o “alterego” criado por Raquel Virgínia para contar uma história que vem sendo narrada em seus últimos clipes, “Da me más” e “Hipnose”, inspirados por Pedro Almódovar, nas divas do pop e no mercado consumidor onde qualquer um parece estar disposto a pagar o tal preço da fama.
No universo de Raquel Virgínia, nada é o que parece ser, e cada peça dessa experiência serve para contar uma história provocadora, onde a própria artista se permite ser a cobaia da experiência sem querer ser literal, óbvia ou presa a padrões e tendências.
“A despretensão e a liberdade de escolhas são a essência desse trabalho, que foge de rótulos e formas pré-definidas. Meu único compromisso é ser quem eu sou, onde, quando e como eu quiser”, afirma.
O Poeta
“Escuta o Poeta, outro sabor”: o chamado atiça o público crescente de O Poeta, como se proclama John, baiano de Praia Grande no subúrbio de Salvador. Revelação do carnaval de 2020, ele se diz um homem hetero, preto que carrega a bandeira de seu pagodão.
Dono de letras picantes e batidas envolventes, O Poeta agora une forças com Raquel para ajudar a descontruir as barreiras do preconceito.
O encontro se deu por intermédio do produtor Rafinha RSQ, que apresentou a música e a parceira a O Poeta, conquistando-o por sua história.
“A energia bateu de cara, Raquel é uma artista inteligente, leve, comunicativa, uma gigante. A música é contagiante e tem a cara da Bahia. O Baiano é um povo a mais de mil, receptivo, e com Raquel não seria diferente, certamente a receberão de braços abertos”, diz O Poeta.
Estar ao lado de uma cantora trans e mexer com o tema da libido e sexualidade, não pareceu impedimento para selar a parceria.
“Podemos perceber que, a cada tempo que passa, coisas novas surgem em todas as áreas, na música, na dança, e com a sexualidade não é diferente. As coisas evoluem. Eu entendi a temática da música e a proposta de Raquel. Tenho certeza de que todos irão curtir muito”, afirma o cantor.
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