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Confira entrevista exclusiva com Renato Teixeira, autor de clássicos, como “Romaria”


Renato Teixeira sem dúvida é um dos artistas que está acima de qualquer estilo. Exímio músico e compositor, o artista tem o respeito de toda a classe musical e influencia músicos nos mais variados estilos.

O repórter Marcos Cesar, do site A Ilha do Metal, conversou com o músico sobre sua carreira, influenciar toda uma geração, os tempos da Ditadura Militar e sobre o atual mercado da música .

Renato Teixeira é um músico e compositor como poucos. Compôs “Romaria”, famosa na voz de Elis Regina, “Dadá Maria”, que também cantou em dueto com Gal Costa, e “Frete”, tema de abertura do seriado “Carga Pesada”, da Rede Globo, entre tantos outros sucessos.

O músico concedeu uma entrevista exclusiva para A Ilha do Metal, em parceria com a Midiorama, e os detalhes vocês podem conferir abaixo.

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A Ilha do Metal – Renato, muito obrigado por nos receber. 46 anos de carreira dedicada à música regional. O que você pensa que deixou de legado a música brasileira?

Renato Teixeira – Toda a música é regional, ela vem de alguma região, de algum lugar do planeta, então eu nunca pensei de uma maneira regionalista. Acho que nossa função é tocar o nosso jeito de viver, nosso jeito de pensar a poesia, o espírito do brasileiro… talvez esse seja o grande legado, porque a química, a matemática, a construção da coisa foi assim: pegar a música caipira, que tem uma linda história, que é, na verdade, a música folk brasileira, aquela música da terra, aquelas coisas de aplicar a MPB na música caipira – mais ou menos o que o pessoal do jazz fez com o samba e criou a Bossa Nova – e pegar a MPB com a música caipira. Isso cria um produto muito forte, para você poder expressar suas verdades, a gente não cria nada, as músicas estão aí no ar para serem compostas. Então tem aquela música muito cerebral, aquela coisa que você pode fazer , pode armar um “castelo de cartas”, com soluções mágicas, caminhos inusitados e tem aquela música natural, como se achasse o fio da meada, que ela vai se desenrolando. Eu sou mais para esse lado de desenrolar a música de maneira natural, que assim o povo tem o que cantar, né? É mais ou menos isso.

A Ilha do Metal – Eu venho do rock, mas o som da viola, do seu jeito mais folk, raiz, sempre chamou minha atenção, principalmente pela sua técnica. Mas se fosse para você indicar um CD e conhecer sua carreira qual seria?

Renato Teixeira – Todos… qualquer um, qualquer disco, desde que a pessoa tenha capacidade de se posicionar no tempo. Mas você falou, que se diz, “eu venho do rock”, eu não acredito, sabe? O rock vem da gente, a música vem da gente, essas coisas vem da gente, essas referências que eu trabalho, que é a música da terra, a música da batida, é a mesma referência que o pessoal no resto do mundo usa para desenvolver sua música popular. Então você fica permanentemente ligado a essas coisas, em todos momentos o que você faz é sua verdade. Talvez hoje eu não faria o disco que fiz em 80, entendeu? Mas aquele lá, naquele momento, se você ouvir… eu gosto de todos meus discos, gosto de todas as minhas músicas, o compositor natural, ele tem um mecanismo que as que você não se identifica você esquece, então acaba ficando na sua memória as que você gosta, então é uma relação bastante saudável.

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A Ilha do Metal – Nos anos 70 você gravou um dos jingles que marcou a vida de muitas crianças e eu sou uma delas. Como foi a gravação da Bala de Leite Kids? E você esperava aquele sucesso?

Renato Teixeira – Foi um momento da Ditadura Militar, que a música entrou num recesso brabo aqui no Brasil e eu fui para a publicidade. Fiquei muitos anos na publicidade e ela, de uma certa forma, me manteve a par dos acontecimentos do planeta. Com a venda da censura e dentro da publicidade conseguíamos ler revistas que vinham de todos os países, tinha acesso a noticias internacionais… enfim a publicidade pra mim foi uma porta aberta para as modernidades. O trabalho que eu fiz eu me orgulho muito, maior barato. A publicidade é uma arte linda e a ideia é você fazer, criar um jingle, uma música  que ajude a vender um produto, e não é nada mais que isso. Mas você pode fazer com uma certa arte, com um certo capricho, com uma fórmula poética, objetiva, que encante as pessoas também. Assim potencializa mais. O “Roda Baleiro”, tem outra também, “Ortopé Ortopé tão bonitinho”, são coisas que ficam na memória afetiva das pessoas e isto é muito interessante para mim, pois não se vende mais o produto, nem existe mais, mas ficou no coração das pessoas. Isso deixa a vida da gente mais interessante, você se sente mais confortável .

Eu me sinto muito confortável em ter passado pela publicidade. Eu saí da publicidade, mas a publicidade não saiu de mim. Hoje eu sou um cara que pensa publicitariamente, então os jingles são um dos momentos mais gostosos da minha carreira

E nós só temos a te agradecer que tivemos uma infância melhor.

A Ilha do Metal – O que você acha da música sertaneja de hoje, o sertanejo universitário?

Renato Teixeira – Não, Eu não entro por esse lado, não. Eu não costumo analisar a qualidade do conteúdo, porque isso depende muito da situação do país, da situação cultural, do ensino… enfim, depende de uma série de circunstâncias, até a segurança interfere na qualidade musical. Se hoje não tá bom, outras vezes também não esteve. Não há nada de novo acontecendo. Só existe uma coisa nova que está acontecendo e isso, sim, me interessa muito: a música está plena, muito trabalho, muitos shows, muita gente assistindo, o mercado movimentado muito dinheiro, muito emprego, enfim uma industria cultural muito saudável. A questão de conteúdo já é outro problema, outra história, que não vem ao caso. Nós já tivemos momentos ruins na música, teve um momento nos anos 50, outra um pouquinho antes da bossa nova… a música tem uma coisa que é muito interessante, que define tudo, ela acompanha os momentos, os momentos sócio-políticos. Na época do Getúlio tinha um tipo de música, aí veio o Juscelino, veio a bossa nova, aí vem a época da Ditadura Militar e a MPB, que é mais engajada. Foi a primeira vez que os artistas começaram a emitir opiniões políticas, assumindo o papel de formador de opinião que antes não tinha e aí depois acaba esse negócio, vem esse outro momento populista, que esta acontecendo no Brasil. Logicamente a música tem que ser populista também. A qualidade musical que se ouve no Brasil representa a qualidade cultural do nosso país também.  E isso que vamos fazer, é lutar contra isso, ajudar o país a crescer, fazer escola, educação, é por aí que resolve isso. Não é questionando, nem pichando. Não se pode falar mal desses meninos que estão aí, eles estão fazendo o trabalho deles, eu conheço a maioria deles, pessoal trabalha sério, são dedicados, todos os meninos de famílias boas, são meninos ajuizados, eles fazem esse mercado girar. Olha a quantidade de dinheiro que esses meninos fazem girar! Isso não tem importância? Acho que tem muita importância.

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A Ilha do Metal – A sua parceria com Sérgio Reis e Almir Sater ainda poderá nos render outros trabalhos ou turnês?

Renato Teixeira – Agora, a partir de maio, a gente começa nosso show, que vai chamar Comitiva, eu o Almir e o Sérgio. Nós conseguimos formar um publico, ter um espaço dentro do mercado da música. Eu e o Sérgio fazemos meio que um trabalho de curadoria dentro do repertório da cultura caipira, mostrando os seus valores. Quando junta com o Almir, a ideia é colocar no mercado essas coisas que tem um lado mais cult, eu falo assim… eu venho do lado mais acadêmico da música caipira. O meu caipirismo é o caipirismo do Lobato, do Mario de Andrade, do Guimarães Rosa, da Tarsila, que é um pessoal que me identifico muito com a cabeça deles, com o pensar deles, porque eu tive oportunidade de ler e conhecer, tive acesso a esse negócio. Eu estou lançando esse disco com o Almir, o Ar, que a gente gostou muito e está muito bonito, inclusive estamos fazendo o segundo, com o Sérgio Reis, e eu tenho o projeto Amizade Sincera, que já está no segundo disco. Inclusive este ano ganhamos o Grammy de melhor disco, somando tudo eu faço, uma media de 120 shows por ano, o Almir e o Sérgio também (o Sérgio faz até mais), a gente canta para públicos enormes, com 20, 30 mil pessoas cantando com a gente. O mais importante é aquele carinho no ego, que você canta e tem um silêncio teatral, que as pessoas curtem. Está tudo certo! E antes de questionar o trabalho da moçada, que faz o sertanejo universitário, que faz a roda girar, os movimentos que os puristas chamam de oportunistas, tentando mesclar com esse lado que sou eu, o Almir, o Sérgio, o Boldrin, somos nós que damos um pouco do lastro, a gente vai e fala “perai, não é bem assim” (risos). E uma coisa posso garantir pra vocês: nós quatro que citei, eu, Almir, Sérgio e Boldrin, nós somos, sim, referência para esses meninos, eu sei porque eles chegam na gente, nos procuram e são boas pessoas, então tá tudo certo. A grande noticia é que apesar do Brasil estar vivendo um momento difícil, a nossa música vive um momento glorioso, como sempre.

A Ilha do Metal – Obrigado e envie uma mensagem aos leitores do Midiorana.com

Renato Teixeira – Pessoal da Midiorama, um grande abraço pra vocês e muita música na veia.

Agradecimento Especial a Poliana e Erica, do Sesc Pinheiros, por toda a atenção.

Por A Ilha do Metal


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