Trazer uma sequência de matérias sobre os Rolling Stones no Brasil, aqui no Midiorama.com, é absolutamente inevitável! Afinal, o último show deles em solo brasileiro aconteceu 10 anos atrás, na Praia de Copacabana, e muitos estão dizendo que a turnê Olé pode ser a última a passar pelo Brasil. Óbviamente, torcemos que eles voltem ainda muitas vezes.
Os próximos shows dos Rolling Stones, em solo brasileiro, serão dias 24 e 27, em São Paulo, no Estádio do Morumbi, e depois segue para Porto Alegre no dia 02 de março. Vamos acompanhá-los, claro!
Nesta matéria, a nossa midioramiga, Paula Coelho, nos teletransporta para a noite de 20 de fevereiro. Ela estava lá, como fã da banda, e nos conta com detalhes a emoção de assistir aos Rolling Stones no Maracanã.
Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood, Charlie Watts e todos os instrumentistas com os quais a banda conta, sobem ao palco ao som de “Start Me Up”. Depois de uma chuva torrencial e um atraso de lei, o público encharcado vibra com a entrada da banda. Com roupas coloridas e um ânimo inigualável e até inesperado devido a idade dos integrantes, os quatro brincam e parecem estar se divertindo mais do que o público. Mesmo de longe era possível enxergar a cabeça branca de Keith Richards, o corpo magro de Ronnie Wood e o sempre elegante Charlie Watts na bateria com sua blusa amarela. Mick Jagger, como sempre, era uma explosão de cor, brilho, presença e carisma.
“It’s only Rock ‘n’ Roll (But I Like It)”, a música que traduz todo o sentimento por trás de qualquer fã de Rock e de Rolling Stones, é mais hino do que música e tudo o que os roqueiros queriam que as outras pessoas entendessem. É apenas Rock ‘n’ roll, mas nós amamos.
O show continua, seguido de “Tumbling Dice” e “Out of Control”, e apesar de um dos telões estar deixando a desejar com uma de suas metades apagada, o público não se importa e não tira os olhos do palco, vibrando a cada riff feito por Keith Richards.
Ao longo do show, Mick se comunica com o público falando em Português e fazendo piadas, além da referência ao show de 10 anos atrás feito para mais de um milhão de pessoas na praia de Copacabana.
O show segue com “Like a Rolling Stone”, música mais votada na web para fazer parte da set list do show no Rio que surpreendentemente fez cada alma presente naquele estádio cantar com todas as letras a composição de Bob Dylan. Foi certamente um dos momentos mais emocionantes do show, quando todos juntos gritaram “How does it feel?” com todas as suas forças e fizeram Mick Jagger, dessa vez espectador, se emocionar e olhar surpreso para o show que o público estava dando.
Após esse turbilhão de emoções, foi a vez de “Doom and Gloom”, single lançado em 2012 na coletânea GRRR. A música que normalmente não está presente nos repertórios e é muito mais pesada do que o que estamos acostumados, fez todos dançarem e cantarem sorrindo. O que não foi suficiente para chegar aos pés da reação do público quando “Angie” começa a ser tocada – uma das composições mais tristes e bonitas dos Rolling Stones, escrita por Mick Jagger e com rumores de que foi feita para a primeira esposa de David Bowie. Todos pareciam ter uma relação de carinho com “Angie”, alguns choravam, outros sorriam, e a interpretação de Jagger mostrava claramente sua relação com a música – transparecendo para todos ali presentes o que ela causava no cantor.
“Paint it Black” chegou meio inesperada, para animar o público, depois de um momento tão intenso. As guitarras de Richards e Wood gritaram, avisando que agora não teria choradeira, mas dança, sensualidade e o Roll do Rock ‘n’ Roll. O Maracanã simplesmente gemeu junto com Mick Jagger. E gemeu até o fim.
“Honky Tonk Women” antecipou as apresentações da banda, quando Mick citou Ronnie Wood como “o mascote das Olimpíadas” e Keith ganhou os mais longos aplausos.
“You Got The Silver” e “Before They Make Me Run” integraram o repertório com Keith nos vocais e, apesar de todos terem esquecido de Mick Jagger quando a cena foi roubada por Richards, “Midnight Rambler” começa e não seria 1/3 do que é sem as improvisações instrumentais e sem a gaita tocada por Mick.
Mais uma vez a cena é roubada e, agora por um ‘’figurante’’ dos telões mas um dos protagonistas da banda, Darryl Jones. O baixista dá início a ‘’Miss you’’ e suas linhas de baixo são expostas no telão durante longos minutos, hipnotizando cada espectador e justificando sua participação na banda.
“Gimme Shelter”. Esse foi o ponto alto do show! Quando Sasha Allen se apresenta para o público, adentrando o palco e fazendo Mick Jagger deixar de ser visto por uns segundos. Sua voz e presença são fatores essenciais para integrar uma das mais clássicas e lindas dos Stones. Sasha chega perto da multidão, lá no palco central, para e começa a cantar, alguns entram em choque, alguns abrem a boca e ficam parados, alguns vibram e gritam junto com ela, mas todos se arrepiam. Depois do seu show particular, se junta a Jagger e ambos ofuscam todo o resto enquanto repetem verdadeiramente “It’s just a shot away”.
O show segue na mesma linha, milhares de aplausos, milhares de vozes cantando juntas, Keith e Ron com seus devidos cigarros acesos em vários momentos – não os impedindo de tocar ao mesmo tempo em que fumam– Mick se sacudindo no palco e Charlie Watts com o pescoço erguido, tocando bateria como um gentleman.
Depois de “Brown Sugar”, é a vez de “Sympathy for the Devil”. Só quem estava lá pôde ver a alucinante arte exposta no telão, os desenhos, animações e toda aquela vermelhidão referente à demonização exposta na música. Mick adentrou o palco vestido de preto e com uma capa de pluma vermelha, como se fosse o próprio Lúcifer chegando em sua casa. Mas ele não foi o único a chamar atenção, pois quando chegou a hora do solo estridente de Keith Richards, todos do palco sumiram, menos Sasha Allen que ensaiou uma sambadinha.
O show é “encerrado” com “Jumpin’ Jack Flash”, e todos saem do palco.
Quando as luzes se acendem novamente, vemos um coral de mulheres cantando a introdução de “You Can’t Always Get What You Want”. Foi anunciado, semana passada, que o coral da PUC Rio se apresentaria no show de ontem. Como mais um dos incontáveis momentos de pura emoção, esse foi um que transbordou talento.
Encerrando, como todos esperavam, com “(I can’t get no) Satisfaction”, tendo 50 anos e um lugar cativo na vida de cada fã dos Stones, além de conhecida por todo o mundo e um hino do Rock, fechou dignamente o espetáculo da noite de 20 de fevereiro de 2016. Com Charlie Watts de amarelo, Ron e Mick de azul e Keith de verde, tivemos uma clara homenagem ao nosso país, concretizada quando uma bandeira do Brasil foi jogada ao palco e usada em volta do ombro pelo baterista Charlie Watts.
Os caras mais legais do mundo tocaram na nossa terra, os coroas mais vivos, os mais talentosos e os mais carismáticos. Tivemos uma aula completa de Rock ‘n’ Roll, a banda mais tradicional e crua do gênero, uma das pioneiras e uma das mais influentes (senão a mais).
Quando os artistas têm humildade o suficiente pra chamar o público pra acompanhá-los, além de conversar e tocar a música mais votada pelo mesmo, não tem quem supere. Não tem quem supere a presença de Ronnie Wood, os solos de Keith Richards, a elegância e talento de Charlie Watts e a arte de Mick Jagger. A banda mais clássica de todos os tempos acaba de nos dar a melhor noite de nossas vidas.
Por Paula Campos Coelho para Midiorama