“Ana Carolina poderia muito bem fazer um disco só voz e violão…” disse o produtor musical Liminha, que na época produzia seu álbum Estampado, que em 2003 também foi registrado em DVD, o primeiro da carreira de Ana Carolina. Liminha estava certo em sua afirmação. Hoje em 2016, Ana Carolina nos presenteia com o convite irresistível de passear por suas raízes de Juiz de Fora- MG, onde o banquinho, o violão e essa voz tamanha são os elementos que preenchem o espetáculo intitulado “Solo”.
O Teatro Bradesco em São Paulo é lindo, sua arquitetura é impecável, o bordô e a madeira predominante no teatro, desperta a sensação de aconchego, assim como a intenção do show. Ana Carolina, sem cerimônia, entra no palco e ganha o ambiente, voltando para 2008 e cantando “Eu Que Não Sei Quase Nada Do Mar”, canção que compôs com Jorge Vercilo, para um CD de Maria Bethânia, em 2008.
Não somente o formato, mas o setlist do show é extremamente intimista, pessoal e próprio de Ana Carolina. Canções de artistas como Chico Buarque, Djavan, Belchior e Seu Jorge são interpretadas e ganham tantos outros sentidos na voz de Ana… Feliz por hoje entender quando canta “de tantas mil maneiras que eu posso ser, estou certa que uma delas vai te agradar”. Ana Carolina são tantas e tantos, dentro de um furacão, que mesmo sentado na plateia, ela te faz suar do palco, é melhor que pular de paraquedas. Garanto!
A adrenalina que sempre saio dos shows da Ana é característico, já faz parte do pós espetáculo. Esses anos acompanhando-a sempre me deparei com shows, que obviamente tinham canções mais plenas e quietas, hora certeira de desligar os bastões e tiras “piscantes” e prestar atenção nela ali sentadinha com seu violão. E também músicas como “Elevador”, que libera toda dose serotonina armazenada, momento em que o palco se torna um camarim. Somando tudo isso, mesmo sendo de Humanas, o resultado do show “Solo” eu já sei: a passividade mais inquietante que já presenciei. Ao mesmo tempo em que o único desejo é permanecer encostada na poltrona só absorvendo, como se tivesse no sofá de casa, existem fogos de artifício explodindo dentro de você. É, ou não é, o equilíbrio mais maluco e denso já relatado?
Todo esse “frenesi” pelo “Solo” era quase certo, até mesmo antes de vê-lo, pois sabia que Ana Carolina preparava uma turnê com canções de compositores incríveis e que seria um show crítico, socialmente falando. Isto é, cheio de ironias e diretas, muito bem posicionadas, com a dose de humor que Ana Carolina sabe muito bem administrar.
Há quem separe os melhores elogios para os artistas que produzem espetáculos grandiosos, com diversos elementos no palco, acrobacias, cores, inúmeros pontos de foco, mas eu peito a dizer que coragem mesmo tem quem arrisca se expor com o mínimo, em sua totalidade pessoal e natural máxima.
Essa brincadeira séria com violão, sem qualquer dúvida, merecia o registro em DVD, que por ora não teremos, daí por um lado meu lamento e pelo outro lembro da própria Ana que ironiza durante o show, sobre nossa dependência pelo registro, estamos sempre armados com o celular, ignorando o presente que de fato é aquilo, pois a preocupação com a xérox daquilo que um dia foi. Seria muito bem vindo ao mercado fonográfico e aos nossos olhos de espectador o show em DVD, mas se não, a brilhante colocação de Ana Carolina me faz acreditar que meu olhar totalmente íntimo, supera as lentes de uma câmera.
Por Viviane Carvalho – Cara de Caneca FC
Crédito foto: Luane Santos