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Novos discos de Deftones, Garbage e Weezer trazem de volta os anos 90


De volta aos anos 90? Garbage, Deftones e Weezer lançam ótimos discos nessa primeira metade de 2016

GARBAGE (Strange Little Birds)

Apesar de possuir músicas que pedem para ser cantadas junto do público e compartilhadas com as pessoas, como o single “Empty” e “We Never Tell”, a maior parte de Strange Little Birds é íntima e confia na relação do ouvinte com a voz de Manson e a forma como Vig, Erikson e Marker usam seus instrumentos, como já deixa claro a atmosférica “Sometimes”. Não é nada raro ouvi-los trocando seus instrumentos por sintetizadores, teclados e baterias eletrônicas. Duas das melhores músicas do disco comprovam a maturidade da manipulação eletrônica no contexto da banda. O trabalho acaba soando como um misto de ameaça e melancolia que definiram o clima down e urbano do Garbage há 21 anos e que volta com tudo agora.

“So We Can Stay Alive” tem uma das letras mais distópicas do disco. É onde Shirley Manson reflete sobre o estado das coisas, da decadência do país e da fragilidade da sociedade e do indivíduo, tocando também no tema dos direitos humanos. E “Night Drive Loliness” veio de uma carta que uma fã russa de 19 anos da banda deu à cantora após um show. No texto, ela descrevia como era dirigir pela cidade e pensar no sofrimento a partir dos locais que visitava.

Apesar das comparações que se possam fazer com o début de 1995, não espere ver Stranger Little Birds soar como Garbage ou como anos 90. Butch Vig e Shirley Manson são experientes o suficiente para não caírem nessa armadilha. O novo disco é um produto de nosso tempo, musicalmente e no conteúdo das letras que claramente mostram uma banda de quarentões tão descontentes com o mundo e a cultura atual quanto muitos dos jovens que estão descobrindo o Garbage agora. As músicas ainda são, definitivamente, rock alternativo, mas há uma predominância do eletrônico. O que há de mais parecido em 2016 com 1995 é, assim, a atitude contestadora – o que não é pouca coisa, já que a maior parte dos rockstars com 20 anos de carreira acabam estacionando, se acomodando, não querendo mais incomodar ninguém e nem contestar o status quo do qual também fazem parte.

 

WEEZER (White Album)

Mesmo não primando por inspiração, o Weezer consegue agradar na maior parte do tempo sem fazer força. Apesar de não ter absolutamente nada de novo no front, “LA Girlz” (que lembra bastante “Holiday”, do álbum azul); “Endless Bummer”, com sua introdução suave só na voz e violão e que vem a desaguar na guitarreira típica que ilustra bem a mistura de peso e delicadeza característica do conjunto e “King Of The World” (a melhor do disco), uma singela carta de amor dedicada à esposa de Rivers, Kyoko, são pequenas pérolas que poderiam estar muito bem em seus álbuns clássicos.

O primeiro álbum conceitual do Weezer desde Pinkerton (tudo aqui gira em torno do clima californiano de praia, paquera e curtição, quase como se fosse uma paródia dos Beach Boys, como a faixa de abertura “California Kids” evidencia) tem mais acertos do que erros, mas a sensação que passa no final é a de que eles não queriam levar-se tão a sério e tentaram soar propositalmente como um mix de clichês bregas do rock.

Comparado ao brilhante trabalho anterior, White Album pode até ser visto como um pequeno deslize, que ainda assim insistiremos em prestigiar. Porque da mesma forma que vamos ao cinema assistir a um novo “Star Wars” sabendo que não terá o encanto de outrora, aguardamos por aquela fagulha de inspiração e magia que impeça o amor de morrer. Hoje a coisa ainda deu liga, resta saber até quando…

 

DEFTONES (Gore)

O Deftones chega ao seu oitavo trabalho de estúdio com mesma pegada que marcou seus trabalhos mais inspirados. A única diferença deste para os outros, é talvez a motivação do grupo em sua caminhada. Desta vez, eles escolheram economizar nos riffs grudantes e se concentraram na junção de uma química honrosa entre melodia e texturas.

Se nos dois discos anteriores (Diamond Eyes e Koi No Yokan) o Deftones já tinha chegado próximo da fórmula consagradora de White Pony, em Gore a coisa fica mais profunda. Tanto que tem fã dizendo por aí, que o disco é uma cópia do Palms, projeto paralelo de Chino Moreno – o que não chega nem perto de ser verdade. Hoje, o Deftones caminha como poucas bandas no que se diz respeito à criação musical e estética no rock. A banda segue de forma muito mais intuitiva do que planejada e constrói progressivas colchas de retalhos melódicos, que por muitas vezes beiram à melancolia, é verdade. Mas que também chega a ser assustadoramente brutal.

Em Gore, o grupo traz a sua considerável exploração sonora, protegida por uma parede maciça de guitarras (mais limpas que de costume) do talentoso – e subestimadíssimo – Stephen Carpenter. O guitarrista, que chegou a mostrar certo incômodo sobre a direção musical do grupo em algumas entrevistas, acerta em cheio nas escolhas de texturas, como pode ser conferido nas palhetadas deleitosas de “Acid Hologram” – uma das melhores do disco. No entanto, ele também tem espaço para mostrar sua veia metal em “Doomed User”, que além de arregaçar no peso, não economiza nos acordes abertos – uma de suas marcas registradas.

Embora haja alguns resquícios de sua origem tribal, o Deftones segue cada vez mais embriagado em fontes de bandas como Radiohead e Depeche Mode – comprovado na “achatada” mas igualmente brilhante “Phantom Bride”. Porém, o que podemos dizer hoje, é que enfim a banda parece ter encontrado algo que muitos procuram durante toda a carreira: estabilidade criativa.


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