Um dia desses, conversava com meu amigo Horacio Brandao sobre os empurrões que o destino dá na vida de um fã. Ele lembrou de um seguidor da Xuxa que abriu uma empresa de transportes a partir de uma oportunidade que surgiu para ficar mais perto da “rainha”. Eu posso dizer que devo a descoberta da minha vocação aos Titãs.
Para quem não sabe, sou fã da banda desde os 12 anos, quando os vi pela primeira vez, boquiaberta, cantando “AA UU” no Globo de Ouro. No dia seguinte, fui à banca atrás de informações sobre o então octeto. Me apaixonei. Pelas caras, pelas frases, pela postura, pelas referências… A partir daí, virou uma saudável obsessão. Tudo o que saía sobre eles eu devorava. Ouvia incansavelmente não só os discos do grupo, mas os dos artistas que eles diziam que gostavam (Pixies, Sugercubes, Lou Reed, Caetano, Mutantes, Clash…). Lia os livros dos escritores que citavam (Rubem Fonseca, Bukowski, Torquato Neto, Neruda…). Incorporava palavras novas (pra mim) que os caras usavam ao meu vocabulário. Para uma adolescente no interior do Rio na década de 80, não é exagero dizer que os Titãs foram o meu contato com o mundo.
Comecei a organizar meu acervo sobre eles em pastas e abria cada fase com um texto de apresentação. Depois, passei a fazer minhas próprias resenhas dos discos. De repente, lá estava eu curtindo a brincadeira de me fingir de jornalista. E quando tive que decidir a sério o que fazer pelo resto da minha vida, pensei: “Por que não?”.
Sempre fui uma fã tranquila e discreta. Ia a tantos shows quanto podia e ficava invariavelmente colada no palco, cantando todas as músicas e tirando fotos. Mas nunca persegui, jamais pensei em ir pra porta de hotel ou camarim. E até depois de jornalista formada dois temores me mantinham à distância. O primeiro: descobrir que meus ídolos não eram assim tão legais como eu imaginava. O segundo: não ter o que dizer e fazer papel de boba. Contei com a ajuda do grande Luiz André Alzer para vencer meus medos e, quem diria, me tornar biógrafa da melhor banda de todos os tempos. Graças ao grande parceiro, pude ver que, sim, de perto eles são muito melhores. E fomos muito sortudos de começar nessa carreira com caras tão profissionais, além de serem os gênios que todo mundo conhece.
Isso tudo foi pra dizer que hoje é dia de rock, hoje é dia de roqueiro, hoje é dia do incrível Sérgio Britto.
Ao aniversariante do dia, que daqui a pouco abre o Palco Mundo do Rock in Rio, obrigada pela inspiração, pela atenção, pela gentileza, pela confiança e por ter aberto a conexão que mudou a minha vida naquele Globo de Ouro. Muitos anos de vida e rock!!!
Herica Marmo é jornalista e editora do Jornal Extra