No meio de um mar de cabeças está Matt Shultz. Resgatado pelos seguranças, ele retorna palco descabelado, sem camisa, com as costas arranhadas e sem um de seus sapatos dourados. O vocalista é exatamente o que sobrou dessa primeira apresentação do Cage The Elephant no Rio de Janeiro.
Essa é a terceira vez do grupo no Brasil, mas apenas a primeira fora da grande São Paulo. A banda formada em Kentucky, e que foi apadrinhada por Dave Grohl nos grandes festivais europeus, demonstra crescimento avassalador nos últimos anos. Tanto que seu disco mais recente, Tell Me I’m Pretty, já leva a batuta de um GRAMMY, como melhor disco rock de 2015. Na apresentação desta noite, a banda divide o repertório neste e em seu melhor trabalho, Melophobia. Ao todo, são catorze músicas das dezenove que formam o setlist do show. Não haveria melhor combinação.
A abertura com “Cry Baby”, seguida da quebradeira “In One Ear”, mostra a capacidade do Cage The Elephant em entreter plateias em arenas de todos os tamanhos. Num local como o Circo Voador, a coisa pega mais pressão ainda. E tudo isso é conectado por um público sedento, que se espreme, que invade o palco, que canta todas as músicas. Diferente da apresentação no Lolla [saiba como foi AQUI], a banda resolve não só incluir mais canções, mas modifica a ordem. “Aberdeen”, faixa composta em homenagem à Kurt Cobain, é inclusa logo no início do show. Essa é apenas uma das duas músicas do segundo disco do grupo (o menos lembrado nesta noite).
O palco do Circo Voador é pequeno para Matt Shultz. E fica menor ainda quando várias fãs resolvem subir para agarrar o cantor, que divide o microfone e acha graça quando a uma delas arrisca um stage dive. Aprendiz de Mick Jagger, o vocalista é incansável e rouba a cena. Bate cabeça o tempo inteiro, dança e tenta recuperar fôlego para cantar coisas mais melódicas, como a ótima “Too Late To Say Goodbye” – que é acompanhada pela cantoria dos fãs. É sim, um dos shows mais intensos que o Circo Voador recebeu nos últimos anos. Essa intensidade se faz pela performance de palco da banda (principalmente dos irmãos Shultz) e na força que as canções ganham ao vivo. Um grande exemplo é “Back Against The Wall”, que conecta banda e público em um refrão explosivo.
Coube a duas canções de seu melhor disco (“It’s Just Forever” e “Come A Little Closer”) um fechamento digno antes do bis programado. Que veio mais suave com “Cigarette Daydreams” e uma das mais esperadas da noite, “Shake Me Down”. Para encerrar, o rock voraz de “Teeth”, com direito ao tradicional mergulho na galera de Matt, que na volta ao palco, se envolveu numa bandeira do Brasil e saiu aclamado. Longe de pirotecnias, telões e elementos eletrônicos, o Cage The Elephant utiliza apenas uma fórmula, que é também a mais funcional para um show de rock: transpiração. Que show meus amigos, que show!
Por Bruno Eduardo do Rock On Board