A distribuidora de filmes independentes Imovision nos convidou para assistir o drama “Uma Mulher Fantástica”, ganhador de prêmio de melhor roteiro no Festival de Berlim de 2017.
O longa narra a história de Marina (Daniela Vega), uma mulher transexual, garçonete, que busca reconhecimento como cantora pelos bares de Santiago, Chile. Após a morte de seu companheiro Orlando, é obrigada a lidar não somente com a perda, mas também o embate da família do falecido.
No momento cultural e político onde as questões da representatividade e transexualidade são amplamente discutidas, o filme é perspicaz em limitar seu foco no embate e sofrimento da protagonista, porém sem deixar de ser uma boa ferramenta no combate a transfobia e demais preconceitos de gênero.
Para isso o elemento utilizado foi a empatia. Ao tomar o ponto de vista de Marina, podemos vivenciar a negação de se chorar por um ente amado pela família que esconde atrás da dor seus próprios preconceitos e suas tentativas de retirar qualquer tipo de herança, seja material, como carro e apartamento, ou sentimental, como a cachorra do casal, a simpática Diabla.
A câmera do diretor Sebastian Lélio passa a maior parte da película na face da protagonista, nos guiando através da narrativa que carrega na tensão não somente pela intolerância demonstrada, mas pelo fato de que existe uma tentativa de imputar responsabilidade de Marina na morte do parceiro. Daniela Vega, quena realidade é cantora lírica, é capaz de corresponder, não comprometendo a sensibilidade e dignidade que o roteiro assinado também por Gonzalo Maza, entrega para a transexual.
Vale chamar a atenção para uma cena bastante tocante onde a protagonista tenta se refugiar das perseguições da família de Orlando no apartamento de seu professor de canto lírico, num diálogo mostrando alguém que acredita no seu talento, chamando a atenção para maior dedicação e confortando de maneira paternal.
Por fim, o drama apresenta com dignidade as dificuldades sociais enfrentadas por uma mulher transexual e força que todo ser humano precisa para seguir em frente.
Por Guilherme Lourenço