Quando fui apresentado à banda O Terno, ela logo me atraiu. O primeiro disco que eu ouvi foi o último que havia sido lançado até então, o “Melhor Do Que Parece” – um disco de rock que trata de temas como culpa, desapego e paixão, com um bom humor que faz você ver o melhor lado das coisas. Percebi então que essa era uma constante na discografia da banda. As letras de Tim Bernardes contam sempre com esse tom agridoce de trazer o lado ruim, com um filtro bom de que tudo vai dar certo.
É de se imaginar que, ao ouvir um artista com esse tipo de abordagem, essa abordagem seja constante, comum em toda a sua obra, mas Tim Bernardes entendia do agridoce, e entendia o quanto mais amarga a vida, às vezes, pode se tornar.
Desde a faixa de abertura de Recomeçar, completamente instrumental, somos introduzidos a esse sentimento doloroso, com uma amostra de tudo que será apresentado nas 13 faixas do disco.
As trilhas seguintes viajam entre fases da vida – da infância à fase adulta – colocando sempre uma visão negativa e dolorosa, como na canção “Quis Mudar”, que começa bastante pessoal, falando sobre a dificuldade que é se adaptar, mudar quando necessário e abandonar o passado.
Tais características se repetem em diversos momentos do disco, que foi gravado com uma orquestra, utilizando diversos sinais para que a nossa viagem auditiva seja mais envolvente, alternando entre instrumentos para nos fazer sentir mais ou menos íntimos do cantor e, em outros momentos, estarmos sozinhos com nossas dores, revivendo-as.
A cada música, Tim sintetiza um pouco dos muitos relacionamentos que viveu, mas nunca relembra as partes boas, como que em um desabafo, no qual suas dores são as de todos nós.
“Ela Não Vai Mais Voltar”, com seus curtos 1:29, é direta e certeira em atingir as dores de quem já foi apaixonado e teve que ver seu amor partir. “Pouco a Pouco” e “Não” falam muito de aceitação, tanto de si quanto do mundo. Não, inclusive, é a palavra que define o disco e sua aura negativa.
Apesar de todo o sofrimento que serve de linha para o disco, assim como os traumas de um relacionamento mal acabado, as coisas vão se curando e melhorando. O álbum tem uma jornada que, em seus 43 minutos, te faz passar por um dos momentos mais difíceis que cada pessoa pode viver: a perda, o amadurecimento e a superação.
As faixas “As Histórias do Cinema” e “Recomeçar” fecham o disco com perfeição, quase que servindo como uma recompensa, devolvendo a esperança aos corações amargurados com tanto sofrimento.
Falando sobre tristeza e crescimento, Tim Bernardes começa sua carreira solo com um disco que é um soco necessário, tanto no estômago quanto no coração, compartilhando conosco suas dores mais pessoais e nos dando espaço para confessarmos em silêncio e superarmos o que de pior pode ter acontecido.
Consideravelmente jovem, com seus 26 anos, Tim abre o coração e mostra que a dor não tem idade e que pensar nela é algo que pouco fazemos, e muito precisamos, para crescermos e amadurecermos.
Como ele sabiamente diz na frase que encerra o disco:
“A dor do fim vem pra purificar. Recomeçar.”
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Por Miguel Arcanjo do Iradex.