Muitas das pessoas que sempre puderam encarar o mundo sem deficiências visuais ficam imaginando como os cegos percebem seu ambiente. Será uma claridade monocromática ou somente uma grande escuridão? Em “Por Trás dos Seus Olhos”, o diretor alemão Marc Foster utiliza diversos recursos para expressar na tela o que seria a visão de um deficiente visual. Imagens duplicadas, junções de quadros, variações nas cores que estamos acostumados…
Muitos acabam nos remetendo ao caleidoscópio de nossa infância, que é a fase da vida onde a protagonista Gina (Blake Lively) sofre um acidente automobilístico que retira a sua visão. A trama foca justamente em sua relação amorosa com James (Jason Clarke) e como a privação desse sentido afeta a vida do casal.
O conformismo permeado de resiliência de Gina parece encantar o marido, que por sua vez, encontra uma satisfação suficientemente disfarçada para que os mais desatentos não percebam o prazer que sente ao ver as limitações e dependência da esposa. Um sinal de um relacionamento abusivo que toma rumos interessantes após a possibilidade de Gina voltar a enxergar com uma cirurgia inovadora. A partir daí, podemos acompanhar o encontro com um novo mundo e o despertar de sensações que aparentemente são novas, porém seria possível encontrar traços das mesmas no primeiro momento em que somos apresentados a protagonista.
Neste despertar, a mudança da dinâmica do casal fica clara, começando assim a demonstrar as diversas camadas que Marc Foster, que também escreve o roteiro, tenta nos levar sutilmente. A leveza deste movimento pode acabar gerando um desconforto ao telespectador, pois a exposição das questões centrais e paralelas, e consequentemente as suas resoluções, não são fáceis de se perceber, porém são forte o suficiente para gerar a inquietação que um bom suspense é capaz. Talvez seja um reflexo da personalidade artística de Foster, que dirigiu obras de sintonias bem diferentes como “Guerra Mundial Z” e “O Caçador de Pipas”.
“Por Trás de Seus Olhos” carrega consigo aspectos do cotidiano de qualquer casal, ao mesmo tempo que leva a rumos nada óbvios, permeado de sexualidade, egoísmo, controle, ciúme e, por que não, amor. Provavelmente é uma daquelas obras que quando revisitadas suscitará novos olhares e percepções de diferentes dimensões.
Por Guilherme Lourenço
