A aposta em grandes medalhões como headliners parece que deu certo. O maior Lollapalooza Brasil da história reuniu 300 mil pessoas em três dias de muito sol e bateu o seu recorde de público com os três dias esgotados – sendo que dois antecipadamente. Surgido em 1991 no intuito de criar uma celebração artística de várias tendencias culturais, o Lollapalooza teve um generoso fortalecimento comercial, e hoje tem um modelo pré-estabelecido que vende bilhetes de forma global, reunindo gigantes do mainstream e as principais marcas do mercado publicitário. Com todo esse desenvolvimento estrutural, inclusive no Brasil, onde acampou por dois anos no Jockey Club e há cinco leva milhares de pessoas ao Autódromo de Interlagos, o Lollapalooza é um evento feito nos moldes de seu público – seja no Brasil ou no Chile. E não há o que questionar: Ele é imbatível na sua proposta.
Lolla é festival para gente jovem de espírito
O Lolla é feito especificamente para gente jovem (de espírito principalmente), disposta a aproveitar todas as aventuras e desventuras que os aguardam. Gente que quer estar lá não só para ver shows, mas para explorar cada metro quadrado do gigantesco Autódromo de Interlagos, ganhar brindes, fazer selfies, namorar, beber cerveja, brincar nos brinquedos, deitar na grama, dormir na rede, e, se der tempo, conseguir assistir algum bom show (que sempre acontece). Por conta dos horários e da localização dos palcos, é humanamente impossível assistir todas as apresentações do festival. Mas dá para se divertir bastante. Sendo assim, nossa equipe de um homem só teve que se garantir no instinto e na condição física para decidir o que assistir nestes três dias de maratona.
Sexta-feira de muito sol e homenagens à vereadora carioca
Mal o público tinha entrado no Autódromo e o Nem Liminha Ouviu já fazia barulho. O grupo brasileiro que já tocou na edição em 2015, continua apresentando seu contexto rock oitentista à la Titãs e alguns covers. Legal para um dia qualquer. Mas num festival de tantas tendências, o melhor mesmo é você aproveitar a oportunidade de conferir novos nomes e diferentes atrações. Então decidi fazer uma longa caminhada debaixo de um sol escaldante para ver o pop magnífico da banda Plutão Já Foi Planeta, e fui recompensado por um conjunto generoso de canções pop de primeira categoria em um show que ficou melhor ainda quando o rapper Rashid entrou no palco para cantar “Insone“. Do ladinho, no palco Ônix, o Vanguart era esperado por uma boa quantidade de gente, e botou o público para dançar com o sua mistura de estilos. Eles foram os primeiro a relembrar a vereadora carioca Mariele Franco, assassinada no Rio de Janeiro. Saldo positivo para os meninos. Saldo positivo também para a produção do Lolla que acertou em juntar os palcos Ônix e Axe numa mesma localidade, intercalando as atrações, e acabando de vez com as procissões entre um show e outro. Então decidi dar mais uma caminhada de volta para o palco Budweiser e assisti uma parte do rapper Rincón Sapiência, que também homenageou a vereadora carioca, mas de forma mais veemente. “Nunca é demais repetir: Marielle, presente. Estamos em um país que tem um alto índice de genocídio de pretos e pretas e isso acontece geralmente nas periferias. As coisas precisam mudar”, disse ele. No telão, um desenho da vereadora. O primeiro show de metal (talvez o único) do Lolla foi do Volbeat. A banda já é veterana, mas não tem muita estrada por aqui e apresenta um som batido por bandas como Metallica e, em alguns momentos, Iron Maiden. Agradou os headbangers. Já o Spoon fez um show para cima e o Royal Blood foi o primeiro a provocar catarse coletiva num show que já fica marcado como um dos melhores do festival. Outra apresentação que vai entrar para a história do Lolla é a do LCD Soundsystem, que hipnotizou o público com sua cartilha cheia de dance music e elementos eletrônicos geniais. Fechando a noite, o Red Hot Chili Peppers reuniu o maior número de pessoas num palco em todas as edições do Lolla Brasil e não decepcionou. “Otherside”, “Under The Bridge”, “Snow (Hey ho)” e “Give it Away” foram algumas que elevaram a cantoria.
Pearl Jam mantém hegemonia de ótimos shows no Brasil e David Byrne brilha no sábado
O sábado era dia de ver Pearl Jam. Então, descansar era preciso, já que a banda de Eddie Vedder não economiza no tempo de show. Mesmo assim, a nossa equipe de um homem só, percorreu o Autódromo de um lado ao outro para ver alguns dos novos nomes da música brasileira. Os grupos Ventre e Liniker e os Caramelows não decepcionaram, mas foi o Ego Kill Talent quem botou para quebrar com seu hard cheio de guitarras e boa presença do vocalista Jonathan Correa. No mesmo palco, o rapper americano Anderson Paak, acompanhado pela ótima The Free Nationals, fez um dos shows mais interessantes do sábado – mostrando muito além de simples rimas e batidas convencionais do gênero. Foi um show rapper com instrumental generoso, de guitarras, baixo presente e bateria enérgica. Do alto de seus 65 anos de idade, o ex-Talking Heads, David Byrne surpreendeu o jovem público com um número teatral, que precisa ser emoldurado para revisitações artísticas. Foi certamente uma das melhores apresentações que o país recebeu nos últimos anos. Já o The National conseguiu entreter os fãs de Pearl Jam, que já estavam grudados na grade, com um show de primeira categoria. Por ser uma apresentação com sonoridade mais densa, era possível ouvir o som vazado de Mano Brown, que vinha do palco Perry, no mesmo momento. A correria para o palco Ônix começou após o show do rapper brasileiro e a garotada foi à loucura com o pop adolescente do Imagine Dragons, num dos shows mais disputados do festival. E com o público nas mãos, o Pearl Jam mais uma vez seguiu sua cartilha de repertórios imprevisíveis para mais um show histórico no Brasil. Esta foi a segunda vez da banda no Lolla (eles já tinham se apresentado em 2013), mas dessa vez, o grupo trouxe uma quantidade significativa de surpresas, como b-sides e uma música nova: “Can’t Deny Me“. Mas nada foi comparado à presença de Perry Farrel, criador do Lollapalooza e vocalista do Jane’s Addiction, que teve cantoria de aniversário e uma versão histórica para o hino alternativo “Mountain Song“, do petardo Nothing’s Shocking, disco de estreia do Jane’s Addiction, lançado há trinta anos. “Obrigado Perry Farrel por ter criado o Lollapalooza”, disse Vedder. O maior show do Lollapalooza Brasil reservaria homenagens para David Byrne (“Pulled Up”) e Pink Floyd (“Confortably Numb”), além dos sucessos “Alive“, “Black” e “Even Flow“, do petardo noventista, Ten, lançado em 1991. A hegemonia de ótimos shows no Brasil continua com o Pearl Jam.
Último dia de Lolla teve público juvenil e The Killers cheio de sucessos
Não haveria melhor nome para abrir um domingão de sol, como a galera do Braza. O grupo brasileiro, que acabou de lançar seu mais novo trabalho, botou a molecada para dançar com seu cardápio variado de reaggae, ska, mpb, rock, pop e suingue. O domingo não tinha tantas atrações “trepadas”, a ponto de causar dúvida no que assistir, então continuei no palco principal para ver o Milky Chance animar o público com sua guitarra num indie rock despretensioso. Mais longe um pouco, o Metronomy causou alvoroço popular com seu eletropop, levado por sintetizadores e vocais bonitinhos. O corpo deste que vos escreve já estava dando sinais de fraqueza neste terceiro dia, e um momento para recarregar as energias acabou revelando a facilidade de comprar coisas utilizando as pulseiras no Lolla. Foram raros os momentos de filas para comprar comida, bebida ou ir aos banheiros. Já no Lolla Store, o público teve que ter paciência para comprar lembrancinhas do festival – que este ano estava bem acessível, com chaveiros, imãs de geladeira, capa de celulares e camisas com valores até R$40. Bom… Baterias recarregadas e lá fomos nós para ver Liam Gallagher fazer um verdadeiro tributo ao Oasis. Para a alegria dos fãs, mais da metade do show foi dedicado à sua banda com o irmão Noel. Quase ao mesmo tempo, a menina prodígio, Aurora, fez um número surpreendente e acabou saindo com o carimbo de revelação do festival. Responsável por boa parte do público presente no Autódromo, Lana Del Rey parecia ser a grande headliner do dia, já que após seu show, foi possível ver uma debandada geral em direção aos portões de saída. Com muita energia e repertório digno de greatest hits, o The Killers botou todo mundo para cantar os sucessos “Human“, “Somebody Told Me” e “Spaceman“. Mesmo sem sua guitarrista original, a banda conseguiu um show de ótima presença, com muitas luzes e energia. A apresentação também ficou marcada com a curiosa participação da apresentadora da Multishow, Dedé Teicher, na bateria. Outra aparição inesperada foi de Liam Gallagher que veio ao palco dar um abraço em Brandon Flowers. De resto, só cantoria, que terminou com chave de ouro na dobradinha “When You Were Young” e “Mr. Brightside“.
Dan Reynolds pegou a bandeira LGBTQ no Lollapalooza e fez a nossa alegria 👀🏳️🌈 📸: @drispaca #lollapalooza #lolla #lollapaloozabrasil Uma publicação compartilhada por Midiorama (@midioramaoficial) em
Por Bruno Eduardo, Rock On Board