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A corrente de amor na versão brasileira do musical Rent!


Rent é o tipo de história que lembra a gente que preconceitos fazem parte da nossa triste realidade

A história se passa em Nova York, entre 1989 e 1990. Centrada em artistas, o real foco é o vírus HIV, que devastou a cidade na década de 80.

Rent começa apresentada por Mark (interpretado por Bruno Narchi, que também é o responsável pela direção geral), um cineasta que está gravando um documentário e divide apartamento com Roger (Thiago Machado), um músico que já fez sucesso no passado e ex-viciado. No mesmo prédio, vive Mimi (Ingrid Gaigher), uma dançarina que lida com um vício em drogas, e que acaba se relacionando com Roger. Enquanto isso, Collins (Max Grácio), um professor universitário liberal e ex-colega de apartamento de Mark e Roger, é agredido, e posteriormente resgatado por Angel (Diego Montez), uma drag queen percussionista de rua, com quem acaba se envolvendo.

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Além disso, a ex namorada de Mark, Maureen (Myra Ruiz), uma artista performática e bissexual, está organizando um protesto, com o auxilio de sua nova namorada Joanne (Priscila Borges), uma advogada de família abastada.
Todos eles tem que lidar com Benny (Mauro Sousa), um amigo que virou as costas ao se casar com uma mulher de família rica, e que compra o prédio onde Mark, Roger e Mimi vivem, e tumultua a vida deles ao cobrar o aluguel atrasado. Mais da metade dos personagens citados acima são portadores do vírus HIV e lidam constantemente com isso.

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Em meio a diversas mega-produções em São Paulo, é impressionante como uma produção independente alcança efeitos que muitos outros não conseguem.

O musical mantém o público entretido a todo momento, com ênfase na mendiga interpretada por Lívia Graciano, que rouba a cena diversas vezes. Bruno Narchi teve uma visão incrível, e sua liderança é perceptível em sua interpretação. Thiago Machado deu aquele gostinho de músico frustrado que cativa gerações, e que sem explicação, atraí muito mais do que o músico clichê famoso que canta a música enlatada que ouvimos todos os dias.

Provavelmente a maior estrela na peça é Ingrid Gaigher. Mimi é uma personagem com todos os estereótipos que repelem a família tradicional brasileira, mas que ainda assim, não tem como não se apaixonar. A devoção de Ingrid é sensível, seja nas músicas, como na atuação. Se você se apaixonou por ela no filme, se prepare pra ter o coração arrancado do peito no teatro.

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Benny já é um personagem daqueles que é impossível simpatizar com, e Mauro Sousa deu um toque de cinismo ao personagem que passa em cima dos amigos por ambição, e deixa a plateia tomando as dores dos que sofrem as consequências de suas atitudes. Joanne é totalmente o oposto, a mulher que se sente frágil num relacionamento onde não tem certeza do comprometimento de sua parceira, enquanto Priscila Borges transpira amor no palco, o que é perceptível já que vemos sua personagem sempre tentando ajudar.

Collins é o camarada boa praça, o amigo pra todas as horas, e também um parceiro maravilhoso pra Angel. Max Grácio absorveu todas as qualidades da personagem e transparece isso cena à cena, com ênfase na reprise de “Te Proteger” que tira lágrimas de toda a platéia.

Recentemente vimos Myra Ruiz e Diego Montez em “Wicked”, e o trabalho desses dois é a prova que não se pode julgar um ator por um personagem. O ”Menino de Saia” aproveitou a deixa, colocou uma peruca e um belo salto pra arrasar como Angel, a drag queen, que canta e encanta todos que não a conhecem. Angel é, provavelmente, a personagem que requer uma das maiores cargas emocionais na história, e Diego se entrega a ela de uma forma que dá orgulho de ver.

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Quem viu Myra Ruiz como Elphaba, fica com a idéia de que a personagem é uma garota boa, com um toque de maldade. A interpretação de Myra como Maureen vem pra chutar o balde: rebelde, impulsiva, destemida e gosta de ser o centro das atenções. A personagem quebra barreiras e limites, e ver Myra avançando assim é um deleite. E não dá pra falar em quebrar barreiras e limites sem citar que ela abaixa as calças em determinado momento.

Mesmo divertindo e emocionando, Rent é um musical que nos puxa para uma realidade que constantemente esquecemos. Quantas vezes ignoramos um filme de baixo orçamento em cinemas locais mesmo sem conhecer a história? Quantas vezes passamos por um artista de rua e nem ao menos tiramos o fone de ouvido pra saber do que se trata? Quantas vezes vimos um protesto, e passamos correndo com medo de se envolver caso termine em briga? Quantas notícias lemos de homossexuais sendo agredidos nas ruas e não fazemos nada pra mudar isso?
O musical foi escrito no início da década de 90, e é triste ver que mais de 25 anos depois, poucas coisas mudaram. Mas não só é bom, como é importante, ver que essa luta não terminou, e ela se fortalece em um palco em São Paulo.

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Rent está em cartaz às Terças e Quartas até 29 de março no Teatro Frei Caneca.

Fotos por Caio Galucci, texto por Balde de Pipoca


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