Quando surgiu, em meados de 2010, uma das coisas que mais impressionou a crítica sobre da Banda Uó foi a sua proximidade e comunicação com um público específico, algo sem igual no cenário musical brasileiro. Dona de um humor ácido, som envolvente e, antes de tudo, militância para a liberdade sexual e identidade de gênero, a banda formada pelo trio Davi Sabbag, Matheus Carrilho e a mulher trans Candy Mel, tem uma carreira ascendente no mercado da música brasileira e isso pode ser muito bem observado em seu último registro, o Veneno (2015).
É importante destacar que, quando falamos que a Banda Uó conversa com facilidade com seu público, estamos nos referindo à algumas minorias, infelizmente. Uma delas é a população LGBT, que possui bastante representatividade nos trabalhos do trio vindo de Goiás. Não só isso, em Veneno, a banda brinca com sons e temáticas que conversam até mesmo com a juventude, como misturar as batidas de trap com a superexposição das pessoas nas redes sociais em “Dá1Like”, por exemplo. E isso é incrível, pois a identificação do público com seu trabalho se torna mais eficaz e satisfatória e, como bônus, o bom humor do grupo deixa a suposta crítica até mais interessante.
Se observarmos a sonoridade do disco como um todo, distante de qualquer preconceito, podemos ter um álbum totalmente, creio eu – mero mortal -, inspirado no crescimento dos bailes funk nas periferias brasileiras, próximo de 2000. Essa sonoridade casa com a proposta do disco, que claramente explora temáticas insanas e ainda assim sensuais. É como se víssemos uma cena de novela que retrata as favelas cariocas com seus personagens escrachados e, infelizmente, limitados. A diferença, para melhor, é que a Banda Uó é autêntica e está longe de falsas interpretações.
Um ponto negativo fica para a execução pós-lançamento do Veneno, sabendo-se que por conta de um provável baixo orçamento publicitário para o álbum, não há tanta divulgação do material. Lamentamos, pois o disco é, sem dúvida, um dos melhores lançados por um grupo vindo do seleto e ainda pequeno grupo de artistas pop do Brasil. Já o ponto positivo fica para o conjunto da obra, que é alegre, sensual, engraçada e politizada… precisamos de mais discos de verão assim.
Por Lucas Rodrigues
Leiam também a matéria para Dá1Like, da Banda Uó, diretamente no Play It And Listen.