Em 2013, ‘Faroeste Caboclo’, da banda Legião Urbana, ganhou uma esperadíssima adaptação para os cinemas. Com direção de René Sampaio, o filme, aliás, mostra uma realidade bem menos incomum do que possa parecer: a faixa de nove minutos do álbum ‘Que País é Esse’, lançado pela banda brasiliense em 1987, é só mais uma entre as famosas canções que viraram longa-metragem, em função das boas histórias que apresentam na composição e do simbolismo que carregam. O mesmo, por exemplo, já havia acontecido com ‘Jolene’, de Dolly Parton; ‘Yellow Submarine’ dos Beatles e ‘Blue Velvet’ do Bobby Vinton, que foram das rádios para as telas. E se uma única música é capaz de inspirar um filme, fica a pergunta: por que não um disco inteiro?
Quem nunca ouviu um álbum, com uma história contínua, contada em cada faixa, e o imaginou de maneira visual? Dos anos 60 para cá, inúmeros trabalhos conceituais de bandas e artistas que nós já conhecemos e respeitamos, deixaram aquela ideia no ar: “isso daria um belo filme”. Algumas premissas, aliás, são tão boas que chegaram a inspirar, de fato, produções para o cinema, como o álbum da banda britânica The Who, lançado em 1969, que narra os acontecimentos da vida do jovem Tommy em cada uma das faixas. Outras obras, por enquanto, permanecem no nosso imaginário, ainda a serem descobertas por bons cineastas – que além da boa história e dos personagens interessantes, ainda levam, de quebra, os fãs da banda para as bilheterias.
Confira alguns álbuns que funcionariam bem nas telonas:
‘American Idiot’ – Green Day, 2004
Sinopse: Em meio ao governo de George Bush e a força da mídia americana, o jovem Jesus of Suburbia deixa a vida medíocre do subúrbio e chega à cidade grande. Assustado com a metrópole e afundado em uma profunda depressão, ele cria um personagem imaginário, que dita seu novo estilo de vida: St. Jimmy, um punk viciado em drogas, que luta pela liberdade e pretende corrigir o mundo de maneira extrema. Depois de tantos transtornos psicológicos, o jovem encontra a salvação para o seu vício e aflição em Whatsername, uma garota rebelde e misteriosa, por quem se apaixona. Cansada da farsa que é St. Jimmy, Whatsername termina o romance e, de coração partido, Jesus of Suburbia mata seu alter-ego e foge, voltando para a antiga vida medíocre no interior. Juntos, os três personagens tentam responder a velha pergunta: como é ser um jovem alienado na América?
‘Tommy’ – The Who, 1969
Sinopse: Conheça o pequeno Tommy Walker, filho de um capitão que nunca voltou para casa. Após ver o pai ser morto pelas mãos do amante da mãe, quando tinha apenas sete anos, o garoto é forçado a acreditar que não viu nada, não ouviu nada e que não dirá nada a ninguém, o que culmina em sua mudez, cegueira e surdez temporária. Tommy cresce e consegue se curar de suas deficiências e traumas com a ajuda de uma máquina de Pinball – jogo que, aliás, o transforma em um verdadeiro Rei. A fama sobe à cabeça de tal maneira que Tommy, o novo Messias, passa a comandar um grupo religioso e exigir que o vejam e o tratem como um Deus.
‘The Hazards Of Love’ – The Decemberists, 2009
Sinopse: Um conto de fadas sombrio, narrado por uma perspectiva vitoriana, que passeia pelos perigos do amor. Durante uma tarde de equitação, Margaret encontra uma corça se contorcendo na floresta e tenta ajudá-la. Após um tempo de sofrimento, o animal, para a sua surpresa, transforma-se em homem. Margaret se apaixona pelo rapaz e, após uma noite de amor, volta para a aldeia, onde se descobre grávida. Assustada, ela abandona a família e parte à procura de William, implorando para que a floresta a leve até o amado. Ao encontrá-lo e trocarem juras de amor, a jovem descobre sobre a maldição que ronda o pai de seu filho: herdeiro adotivo da Rainha da Floresta, William está fadado a ser um cervo durante o dia e homem durante a noite. Para ficar junto, o casal precisa quebrar a maldição e vencer a furiosa Rainha da Floresta, a mãe de William. Haverá um final feliz?
‘Metropolis Part II: Scenes From a Memory’ – Dream Theater, 1999
Sinopse: Nicholas é atormentado por visões do passado e procura um hipnoterapeuta para uma sessão de regressão. É assim que o jovem descobre que, na vida anterior, viveu um romance com a bela Victoria Page, uma mulher que foi friamente assassinada. Durante as sessões, Nicholas vivencia de forma intensa o crime que levou à morte da namorada e, de volta ao presente, se vê transtornado com a experiência. Ao voltar para casa ele descobre que o hipnoterapeuta é a reencarnação do assassino de Victoria – e que, agora, pode estar em seu encalço.
‘Good Kid, M.A.A.D. City’ – Kendrick Lamar, 2012
Sinopse: Um garoto e sua complicada relação com o mundo das gangues de Compton, uma das áreas mais problemáticas de Los Angeles. O jovem Lamar vive com a família em uma comunidade dominada pelo crime, onde conhece Sherane e se apaixona. É nesse mesmo ambiente que o garoto, então com 17 anos, se deslumbra com o mundo do dinheiro fácil, mulheres e violência, se perdendo em meio aos tiros e às drogas. Para escapar do vício, do alcoolismo e do estilo de vida perigoso, ele conta com um auxílio inesperado: o hip-hop.
‘The Black Parade’ – My Chemical Romance, 2006
Sinopse: Conhecemos ‘O Paciente’, um homem em estado terminal que, em suas últimas semanas de vida, dá início a uma intensa viagem emocional. Solitário e inconformado com o pouco tempo que lhe resta, ‘O Paciente’ usa seu tempo no leito do hospital para relembrar a amada que deixa para trás, o vício em drogas, a adolescência, a felicidade da infância, o pai e os motivos que podem levá-lo para o inferno. Um retrato sombrio da morte e de sua difícil aceitação, ‘The Black Parade’ fala sobre medos, arrependimentos e dos erros cometidos em vida, que o acompanham nos últimos momentos, bem como a mentira contada pelos médicos: “você não vai sentir nada”.
‘The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders From Mars’, David Bowie, 1972
Sinopse: Ziggy Stardust é um extraterrestre andrógino que chega à Terra cinco anos antes do fim do mundo, na forma de um rock star bissexual, que critica a visão terrena do sexo, das drogas, do amor e do rock n’ roll. Em seus últimos dias, o planeta sofre com falta de recursos e os mais velhos já desistiram de tentar sobreviver, deixando para os jovens a responsabilidade de prover o sustento. Após conversar com ETs durante um sonho, Ziggy decide espalhar entre os humanos a notícia de que a terra pode ser salva. Ele acaba acreditando na própria história de tal maneira que cai na loucura e se transforma em uma vítima de seus próprios excessos.
‘The Wall’ – Pink Floyd, 1979
Sinopse: Pink perdeu o pai na Segunda Guerra e teve uma infância oprimida pela mãe super-protetora e o bullying que sofreu dos professoras ditadores do colegial britânico. Os problemas de Pink na infância o transformaram em um rock star solitário e depressivo na vida adulta, marcada por relacionamentos frágeis e abuso de drogas. Sem saber lidar com a fama, decepcionado e cada vez mais isolado do mundo, Pink coloca “tijolos na parede”, erguendo um muro entre ele e as demais pessoas. Por consequência, o jovem roqueiro passa a alucinar sobre a própria vida, vendo a si mesmo como um líder fascista que precisa ser julgado e, como juiz de si mesmo, ele ordena que “a parede caia” para que ele comece a se retratar com o mundo exterior.
‘Seventh Son Of a Seventh Son’ – Iron Maiden, 1988
Sinopse: Um garotinho é enviada para ser um representante do bem e do mal na Terra. Ele é o sétimo filho do sétimo filho e, como tal, nasceu com poderes infinitos que se aperfeiçoarão ao longo do tempo. Entidades do bem e do mal tentam controlá-lo para obter poder: se o bem conseguir manipular a criança, a Terra viverá tempos de paz e prosperidade enquanto ele viver; mas se o mal atingi-lo, as trevas tomarão conta do planeta de modo que a destruição e a desgraça se espalharão pelos quatro cantos enquanto a criança respirar. Sete anjos e sete demônios iniciam uma luta pela alma do pequeno Messias e o resultado dessa batalha definirá o rumo da humanidade.
‘The Cool’ – Lupe Fiasco, 2007
Sinopse: Michael Young, conhecido como The Cool, cresceu sem pai nas ruas de ‘He Said, She Said’. Sozinho, o garoto caiu sobre a influência de um casal de gangsteres: The Streets, a personificação do chamado e da vida de rua, e seu marido The Game, personificação do jogo e da prostituição. O jovem entra para a vida do crime e passa a atuar como traficante até que, ao ter um caso com a sedutora e poderosa The Streets, é morto a tiros. Meses depois, como não existe céu para um gangster, The Cool volta às ruas da cidade como zumbi, em um corpo decadente, para reconstruir seu negócio de drogas.
‘What To Do When You Are Dead’ – Armor For Sleep, 2005
Sinopse: Após um término de relacionamento indesejado, um homem resolve suicidar-se. Uma vez morto, ele começa uma viagem pela vida após a morte, lidando com o difícil fato de não estar mais vivo e de como a ex-namorada e os familiares tocam a vida quando ele já não está por perto. Narrada pela perspectiva de uma pessoa morta e sua busca por um acordo com o próprio destino, a história acompanha o suicídio, a confusão, o arrependimento, a culpa e o sofrimento, promovendo um passeio intenso pelos estágios da dor. Personificando a guerra pessoal que muitas pessoas enfrentam, o personagem tenta encontrar alívio e libertação.
‘Metropolis: The Chase Suit’ – Janelle Monae, 2007
Sinopse: Um sci-fi romântico que acompanha a história de Cindy, um androide Platinum 9000 que, no ano 2719, é produzido em massa para os burgueses da metrópole. Contruída com uma alma, Cindy se junta à rebelião da alma cibernética e quebra as regras ao se apaixonar por um humano. O romance proibido com Sir. Anthony Greendown, um bilionário da alta roda, acaba sentenciando a androide ao desmonte. Só há um caminho para a sua sobrevivência: a fuga para Wondergound com os rebeldes, onde seu verdadeiro destino como ArchAndroid é revelado. Para viver o romance e não ser destruída, Cindy precisa voltar no tempo e colocar fim à chamada “The Great Divide”, a operação secreta responsável pela opressão da liberdade e o amor em seu tempo.
MENÇÕES HONROSAS:
‘The Suburbs’, do Arcade Fire (2010); ‘Lemonade’ da Beyoncé (2016); ‘Damon Days’ do Gorillaz (2005); ‘The Metal Opera’ do Avantasia (2001); ‘The Dark Saga’ do Iced Earth (1996); ‘The Lamb Lies Down On Broadway’ do Genesis (1974); ‘OK Computer’ do Radiohead (1997); ‘Captain Fantastic & The Brown Dirt Cowboy’ do Elton John (1975); ‘The Act Series’ do The Dead Hunter (2006-2016); ‘Quadrophenia’ do The Who (1973); ‘Illinois’ do Sufjan Stevens (2005); ‘S. F. Sorrow’ do The Pretty Things (1968) e ‘Razia’s Show’ do Forgive Durden (2010).
Por Uber 7