O reencontro finalmente aconteceu. Quando em 2005, Ana Carolina e Seu Jorge decidiram, a partir de um projeto, se juntar para um show, provavelmente não esperavam tamanha repercussão. Na época, poucas pessoas tiveram a oportunidade de assistir o show, que não percorreu tantas capitais do Brasil, tendo apenas quatro apresentações, mas que, graças ao registro em CD e DVD, o grande público pode conhecer. A parceria provou o quão bem os dois conversam no palco. A criança, que já completa 11 anos, filha de preto e gay, como brincou Ana Carolina, voltou em um remake reconfigurado.
Respeito a opinião de críticos que analisam com precisão, o contexto técnico e histórico do show, mas meu olhar confiante toma como base a ótica do fã crítico que não só percebe mas sente atentamente a obra do ídolo, que acompanhou trabalhos anteriores, que conhece por exemplo, a exigência e perfeccionismo de Ana Carolina, sabendo, assim, que se houver problemas no som, ela vai sim chamar atenção da casa mesmo que durante a apresentação.
A turnê que estreou em São Paulo no dia 1º de abril, no Citibank Hall, com o público fervoroso de praxe, ansiava por essa parceria. As mesas foram dispensadas e show foi dos fãs que se dispõem a ficar horas na fila para conseguir a cobiçada grade. Quase duas horas de show que contou com a canção “Tanta Saudade” (Djavan e Chico Buarque) abrindo o espetáculo já contando a saudade dos dois juntos.
Diferente do formato que fora o show “Ana & Jorge” em 2005, que contava com uma versão acústica, os dois dessa vez retornaram com o eletro-pop, com a presença do DJ Mikael Mutti e Rodrigo Tavares, proporcionando um show em diversos momentos dançante, descontraído e animado. Os créditos para toda essa sensação do público são dos artistas, é claro, mas também de toda a direção de arte, técnica e todos que contribuem e muito no conjunto da obra. Vale enfatizar com louvor a iluminação, que descreveu cada canção brilhantemente, como em “Mal Acostumado” (Meg Evans e Ray Araújo, 1997), sucesso do grupo Ara Ketu, que Ana Carolina deu uma nova interpretação, com um “q” sensual, a luz branca iluminava focando a cantora que percorria o palco, que permanecia com a luz baixa, causando um ar intimista.
Dado momento Ana Carolina e Seu Jorge puxam o banquinho para o set acústico, que compõe “Sábado e domingo” (Nenê Brown e Alexandre França, 2012), “Comparsas” (Ana Carolina e Seu Jorge, 2005), que de um lado contou com o solo da platéia que cantava sem errar a letra, a canção que havia ficado no registro de 2005, mas que desembarcou naquela noite em São Paulo, arrancando o sorriso satisfeito de Ana bacana Carolina e Seu Jorge Mario.
O grande frenesi do público é ir ao show e ouvir os grandes sucessos do artista. O setlist não decepcionou: houve “Rosas” e “Garganta” (Antonio Villeroy), “Elevador” (Ana Carolina), “Cantinho” ( Ana Carolina e Gastão Villeroy), hits de Ana Carolina, e “Burguesinha” (Seu Jorge / Gabriel Moura / Pretinho da Serrinha), Carolina (Seu Jorge) “Mina do Condomínio” (Seu Jorge / Gabriel Moura / Pretinho da Serrinha / Pierre Aderne), de Seu Jorge. O verdadeiro tempero jogado na panela foi a intervenção de um cantar a música do outro dando cor a uma nova interpretação, que cada vez mais me induz a torcer pelo registro em CD e DVD. O mercado fonográfico e o público assíduo
agradece.
A largada para a turnê Ana & Jorge foi dada e ainda está engatinhando, não por carecer de qualidade mas por ter começado agora e necessitar da repetição para que ambos entrem cada vez mais em sintonia. Quando mencionado sintonia, a questão é meramente técnica, pois o grande diferencial incontestável, foi estar lá grudada na grade e ver dois artistas referência da música popular brasileira e amigos, se divertindo conosco e entre eles. Era trabalho, mas era também brincadeira, é festa por mais uma vez os dois, como a música já avisa, “nossos passos misturados sempre voltam pra um lugar” ( “Mais uma vez (nós dois)”, Seu Jorge e Ana Carolina). Esse lugar, o palco.
Por Cara de Caneca