Pergunta honesta: o que faz de alguém um ícone gay?
Segundo
Seguindo a definição de Deron Dalton, as mulheres superam (e muito) os homens no que diz respeito sobre ser um ícone gay. Mas por quê? Ao fazer uma busca pela internet, as respostas variam.
“Há vários tipos de ícones gays. Elas parecem ser mulheres que sofreram e vestiram um rosto duro, espirituoso e apaixonado para o mundo”, define Nicholas De Jongh, autor do livro “Homosexuality On Stage”.
“As mulheres são marginalizadas, por isso gays se identificam com elas”, afirmou Heather Love, professora de inglês na Universidade da Pensilvânia, que estuda as relações de gênero e teoria queer.
“Ícones gays são frequentemente pessoas que são celebradas por traços que seriam inaceitáveis socialmente, caso fossem incorporados por gays: sexualidade aflorada e às vezes pouco ortodoxa, interesse em beleza/estilo/moda e artes e artes cênicas, feminilidade não-tradicional, androginia, sensibilidade etc. Obviamente isso não quer dizer que todos os gays têm qualquer ou todas essas qualidades, claro, porém, quando as têm, elas tendem a ser vistas negativamente. Por essa explicação, as divas oferecem uma forma de reclamar esses traços que são socialmente desvalorizados”, escreveu Patrick Bradley, um rapaz gay no site Quora.
“Além de serem (e aqui eu receio pelo clichê) fabulosas, elas também têm seus próprios demônios. Mas, e isso é o diferencial, elas estão envolvidas com a comunidade gay e trabalham para conscientizar e promover a aceitação (não somente a tolerância)”, disse Hayden Manders no Refinery29.
“No fundo, a adoração de divas gays está não na diva em si, mas na experiência homossexual quase universal de ostracismo e insegurança”, acredita Daniel Harris, autor de “The Rise and Fall of Gay Culture”.
Cada definição varia, mas parece ser comum o fato de que as mulheres viveram vidas difíceis, superaram adversidades e abraçaram quem são sem ter vergonha ou pedir desculpas por isso, o que remete à “experiência homossexual quase universal” citada por Daniel Harris.
Confira abaixo algumas das artistas que são consideradas por muitos como ícones gays:
Madonna:
Madonna é hoje um dos maiores ícones gays do mundo. Ela venceu as adversidades que surgiram em sua vida, sempre apoiou os direitos dos homossexuais e das mulheres, e ajudou na conscientização sobre a AIDS. Tudo isso enquanto construía uma das mais duradouras carreiras da música. E sua trajetória é facilmente relacionável com a de qualquer LGBT:
“Eu me sentia extremamente solitária quando criança e adolescente. Tenho que dizer que eu nunca senti que me encaixava nos padrões da escola. […] Isso foi até eu conhecer meu professor de balé, Christopher Flynn, que era gay, e me apresentou para um outro universo de pessoas e disse que seria muito bom para mim. Até que fui pela primeira vez a um club gay e ironicamente me fez sentir que eu era parte de um mundo em que era legal e bacana ser diferente”, disse a Rainha do Pop certa vez.
Lady Gaga:
Assim como Madonna, Lady Gaga sempre defendeu os direitos da comunidade LGBT, que forma uma boa parte de seus fãs. A cantora ainda possui uma fundação que presta auxílio a jovens gays, lésbicas, bissexuais e pessoas trans, se manifesta quando os direitos dessas pessoas são ameaçados e é dona de um dos maiores hinos de aceitação da nossa geração, “Born This Way”.
“Deus abençoe e abençoe os gays!”, disse a Mother Monster em um evento.
Cher:
Cher se reinventou durante toda sua carreira, sempre com um estilo único, capaz de criar inveja a uma drag queen. Além disso tudo, ela é mãe de um homem transexual, Chaz Bono, o qual a fez perceber como LGBTs precisam estão mais vulneráveis à violência e preconceito. Tudo isso e suas músicas marcantes a tornaram um ícone gay.
Diana Ross:
Um dos maiores sucesso de Diana Ross é “I’m Coming Out”, música que se tornou um hino para gays, lésbicas, bissexuais e pessoas trans. Acredita-se que Nile Rogers, compositor do hit, escreveu a canção após assistir três drag queens fazerem um show vestidas como Diana Ross. E assim como Cher, a cantora também incorpora tudo o que pede uma diva: voz poderosa, estilo único e músicas altamente dançantes.
Janet Jackson:
Janet Jackson é uma grande aliada da comunidade LGBT. Em 1997, ela lançou o álbum The Velvet Rope, que possui letras que falam sobre a homossexualidade. Ela também se engajou na conscientização sobre a AIDS e fez a música “Together Again” em memória aos amigos que perdeu por conta da doença. A cantora foi premiada por seu ativismo nessas duas causas e foi produtora-executiva de um documentário sobre pessoas trans.
Beyoncé:
Muitos já criticaram Beyoncé por ser mais discreta em seu apoio à comunidade LGBT. Ainda assim, ela se posiciona do lado dos seus fãs, tendo afirmado que a música “Run The World” é sobre mulheres e gays conquistando o mundo. “Foi o que eu quis dizer quando canto ‘garotas'”, ela contou ao Pride Source, acrescentando ainda que tem uma forte relação com seus fãs gays.
No mais, Queen Bey não recebe esse título à toa, né? Todos querem ser como ela: poderosa, dona de si e inspiradora.
Katy Perry:
Katy Perry talvez não seja considerada um ícone gay para todos, especialmente por aqueles que conhecem a música “UR So Gay”. Contudo, a cantora já afirmou que sua visão sobre as pessoas LGBT mudaram com o tempo. Ela tem sido uma ávida apoiadora dos direitos desses indivíduos, tendo ainda confrontado Tony Abbott, político australiano, sobre suas visões sobre o casamento entre pessoas do mesmo gênero. “É isso: o amor é igual”.
E não vamos nos esquecer de “Firework”, que além de ser um hino de aceitação, o vídeo foi dedicado a uma ONG que auxilia pessoas LGBT.
Christina Aguilera:
Christina Aguilera é um ícone: sua voz marcante, estilo impecável e músicas contagiantes fazem dela uma diva. Em 2002, a cantora lançou “Beautiful”, cuja letra fala sobre encorajamento e aceitação pessoal. O clipe foi elogiado e premiado por uma ONG LGBT, pois contém imagens de um casal gay e uma mulher trans. Em 2011, a música foi eleita o “hino LGBT mais empoderador da década”.
Gloria Gaynor:
Gloria Gaynor é um dos maiores nomes da disco music e a clássica “I Will Survive” virou um hit por sua letra que fala sobre recuperar sua força e vencer o medo e as dificuldades, algo que gays podem se identificar, com certeza.
Julie Andrews:
Julie Andrews, que pode ser vista nos clássicos “Mary Poppins” e “A Noviça Rebelde”, também é um ícone, tanto para os gays, quanto pelas famílias tradicionais. “Eu sou essa mistura esquisita de ser, de um lado um ícone gay e, de outro, ter avós e pais agradecidos por eu ser uma babá para seus filhos”, disse a atriz uma vez, reconhecendo seu título. Alguns estudiosos sobre gênero veem a relação de gays com “A Noviça Rebelde”, por conta da “força transgressiva e de mudança de vida” da personagem de Julie no filme.
Judy Garland:
Seria injusto não colocar Judy Garland na lista. Além de atuar no musical “O Mágico de Oz”, cuja música e filme ressoam com as experiências vividas por gays. “Homens gays se refeririam uns aos outros como ‘amigos de Dorothy'”, explicou Carla Marinho no Cinema Clássico. A jornada pessoal da artista, também pode ser assimilada por essas pessoas, o que explica toda a adoração a ela, que morreu em 1969.
Liza Minnelli:
Liza Minelli é filha de Judy Garland e, assim como a mãe, também foi abraçada pelos homens gays. O estilo, a voz e seu trabalho deram a confiança a milhares de gays a viverem suas vidas com liberdade.
PS: é importante dizer que não existe um jeito de ser gay. Como qualquer grupo de pessoas, nossos gostos e personalidades variam, o que significa que há muitos homossexuais que não dão a mínima para as artistas citadas anteriormente. Elas vêm do universo da música pop, um gênero musical cuja grande maioria dos artistas aceitam e abraçam a comunidade LGBT, mas isso não significa que todos gays gostam do estilo, tampouco das cantoras apresentadas.
*Por Artur Francischi do Prosa Livre