Além de ser nova aposta da Warner Bros. para o universo cinematográfico da DC Comics “Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fabulosa” é, como antecipa o subtítulo, a declaração definitiva de independência de Harley Quinn nos cinemas e consolida a importância da representatividade feminina e de dar às mulheres posições de poder no cinema. Corrigindo erros cometidos em Esquadrão Suicida, Margot Robbie explora ao lado de um extenso elenco protagonizado por mulheres a sensação de liberdade da palhaça do crime de Gotham. O longa tem a direção de Cathy Yan e Christina Hodson assina o roteiro, mostrando assim a importância do espaço feminino que foi conquistado também atrás das câmeras.
Assim como outros filmes do mesmo gênero, “Aves de Rapina” também une as personagens principais em lutas individuais, mas contra um inimigo em comum. O filme se passa em um futuro não muito distante após fim de “Esquadrão Suicida”, narrando como Harley lida com o fim do seu relacionamento permeado de abusos com Coringa, se juntando a Canário Negro (Jurnee Smollett-Bell), Caçadora (Mary Elizabeth Winstead) e a policial Cassandra Cain (Rosie Perez), formando a equipe para proteger Cassandra Cain (Ella Jay Basco), uma adolescente perseguida pelo gângster Roman Sionis (Ewan McGregor).
“Aves de Rapina” pode causar estranheza pelo protagonismo dado ao Coringa nas primeiras cenas, mostrando a natureza obsessiva de Harley pelo seu ‘pudinzinho’ e deixando clara a necessidade de que esse laço seja cortado para que o próprio protagonismo dela surja, fazendo desse componente um mal necessário, visto que a personagem foi criada em 1992 para a série animada do Batman como uma forma de alivio cômico para o vilão, considerado violento demais para um desenho infantil. Em contrapartida, a emancipação de Harley acontece de forma gradual e natural, sem mudanças artificiais e convenientes até demais na narrativa da personagem e da suas companheiras, demonstrando um equilíbrio no desenvolvimento do roteiro.
O filme pode decepcionar por não atender ao anseio de muitos fãs por não introduzir a vilã Hera Venenosa, personagem com a qual Harley também cria um relacionamento amoroso nos quadrinhos, mas acerta por apostar em vilões do Batman que nunca foram explorados antes no cinema oferecendo adaptações bastante fieis aos quadrinhos. A escolha faz sentido se observarmos que o filme não tem como objetivo focar no lado romântico de Harley ao cair em clichês óbvios, pra lá de batidos, introduzindo personagens que possam vir a ter qualquer relacionamento amoroso com a protagonista (exceto pela paixão por sua infame Hiena, Bruce), que já é marcada por fetichismos. Isso torna o filme mais leve em alguns aspectos e revolucionário para a personagem, dando espaço para o seu desenvolvimento e evolução pessoal, permitindo que Margot Robbie entregue uma Harley impecável e cativante, ao se demonstrar mais humana e palpável, mas sem deixar suas principais qualidades como o humor destrambelhado de lado.
“Aves de Rapina” acerta também em mostrar o crescimento pessoal de Harley Quinn e seu processo de superação do término sem fazer a personagem perder sua essência, criando também uma visão não-sexualizada da personagem que se distancia de seu lado dependente e fala sobre suas vitórias profissionais e talentos. Questões como rivalidade feminina, machismo, assédio e relacionamentos tóxicos são muito bem abordadas no filme, de forma que o roteiro não fique pesado – muito menos forçado – porém converse com o público sobre tais questões.
O processo de montagem do filme também merece elogios. A trilha sonora com músicas, – de bandas majoritariamente femininas – questão bastante criticada em Esquadrão Suicida, é usada de forma bem agradável e nas horas certas. A trilha composta por Normani, Megan Thee Stallion, Lauren Jauregui, Halsey, Doja Cat, e muito mais será lançada na próxima sexta-feira nas plataformas digitais.
As sequências de ação podem ser consideradas algumas das melhores dentre todos os filmes de super heróis já lançados, sendo frenéticas do início ao fim, com uma fotografia bastante cuidadosa e colorida, sem cortes abruptos, permitindo que a platéia entenda bem o que está acontecendo. O longa também acerta ao não se privar de usar a violência para mergulhar o filme em um tom excessivamente cômico, mantendo um ótimo equilíbrio entre as lutas e as risadas que são bastante frequentes.
Entregando pouco do enredo nos trailers e em todo o material promocional já lançado, “Aves de Rapina” pode surpreender ao público, tendo tudo que é necessário para fortalecer o movimento pautado pela representatividade feminina em Hollywood, e em filmes de heróis, que foi pavimentado inicialmente por outro longa da Warner, Mulher-Maravilha. Corrigindo injustiças e polêmicas envolvendo a objetificação da personagem em Esquadrão Suicida, o longa oferece um novo começo para Harley e suas parceiras, onde é visível que existe um mundo cheio de oportunidades a serem exploradas, só cabe ao estúdio e público apoiarem essa jornada.
“Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fabulosa” estreia nos cinemas no dia 6 de fevereiro de 2020.
Por Tuiki Borges e Amandha Falconiery