É quase impossível assistir a comédia Gênios do Crime e não lembrar que há pouco mais de seis anos o cinema foi invadido por um estilo de fazer comédia que ganhou rapidamente o mundo: a comédia sem noção. Não que ela não existisse, mas certamente foi com o estrondoso sucesso de Se Beber Não Case, lançado em 2009, que este estilo passou a ser um mercado, dos mais lucrativos, por sinal.
Gênios do Crime chega neste ambiente, e com resquícios bem visíveis da comédia icônica que marcou, ou vai marcar, uma geração: Zach Galifianakis. Ele, o grande astro, protagoniza o filme com o mesmo jeito exótico que trabalhou antes. Ele comanda, desta vez ao lado de Kristen Wiig, que também se aperfeiçoou neste estilo de comédia, um filme que acerta nas gags, faz o espectador rir, mas que por vezes peca por excesso de inverossimilhança.
Mas vamos por partes. No filme, Dave Ghantt (Zach Galifianakis), guarda noturno de uma companhia de carros blindados no sul dos Estados Unidos, organiza um dos mais ousados assaltos a banco da história norte-americana. Mesmo sem ter experiência e contando com a ajuda dos colegas mais atrapalhados, ele consegue roubar 17 milhões de dólares.
Baseado em uma história real. Sim, este pequeno detalhe faz toda a diferença para quem vai assistir ao filme. A trama tem como base uma história que realmente aconteceu, e isto de fato intriga o espectador, pois fica claro que a ficção foi bastante potencializada no roteiro. Muitas das cenas, de humor grotesco, no bom sentido, são difíceis de ser concebidas como verdadeiras. Dave atirando nele mesmo, toda a sequência de caça de um dos personagens a Dave, o próprio assalto ao banco… Tudo soa excessivo e exótico demais.
Em contrapartida, podemos pensar no fato do filme contar uma história passada nos anos 1990, onde muito do que se via era de fato algo passível de verdade, sobretudo em algumas cidades americanas menos desenvolvidas. Assim, aquela cena nonsense do assalto pode sim ter sido muito próxima da verdadeira. O figurino também pode ser perdoado, pois os anos 90 naquela parte dos Estados Unidos (Carolina do Norte) se caracteriza por um estilo de vida dos mais exóticos da história recente.
Com tudo em excesso, fica fácil perceber qual o público que o filme quer alcançar: os espectadores que gostam de comédias sem noção, ao estilo de Se Beber Não case. Repetir isso várias vezes é interessante para entender do início ao fim todas as sequências de Gênios do Crime.
Zach Galifianakis arrasa novamente fazendo o papel de um caipira apaixonado, que entra numa enrascada por conta de sua estranha paixão por Kelly, personagem de Kristen Wiig. Esta, que pode ser considerada uma das atrizes que mais sabem fazer comédia atualmente, acaba tendo uma participação mais comedida, a sua função é servir de escada para Galifianakis. Seus melhores momentos são no início do filme, quando ela se demite do emprego, ação esta que faz o roteiro ter início.
O roteiro consegue perpassar um universo bem típico daquele universo: tudo muito chamativo. O humor empregado, aquele mais direto e com situações que chegam a chocar (quando Dave está na piscina é um bom exemplo) agrada bastante ao público que gosta de exageros. Ainda assim, todas as reviravoltas soam excessivas e chega um momento que a trama chega a cansar (o desfecho, na casa de Steve, personagem de Owen Wilson, é um bom exemplo).
Ainda assim, mesmo com alguns incômodos, Gênios do Crime cria um ambiente repleto de situações engraçadas, tendo como base a paixão de um caipira americano dos mais esquisitos. Um bom exemplar deste estilo de se fazer cinema, e de se contar uma história. Mas nem chega próximo da lenda Se Beber Não case.
Por Cabine Cultural