2021 marca o lançamento de ‘‘A Lenda do Homem que engoliu o Sol’’, do Carranza, em todas as plataformas digitais de streaming pelo selo Electric Funeral Records. O disco conta com a participação de grandes nomes da cena musical pernambucana e nacional, como Gilú Amaral (Orquestra Contemporânea de Olinda); Ylana Queiroga, DJ KSB, (da formação clássica do Faces do Subúrbio), Marcelo Pompi (fundador da Carfax), Maurizio Gonzalle (Ataque Suicida); além de Rhossi vocalista e fundador do Pavilhão 9 um dos principais nomes do Rock e Hip Hop Nacional, assim como uma das maiores influências da banda.
Teve a produção musical de Eduardo Braga e masterização refinada com assinatura de Buguinha Dub, que tem no currículo trabalhos com Nação Zumbi, Baiana System e Black Alien. A concepção artística visual foi trabalho de Henrique Albuquerque, designer pernambucano que atualmente reside no Canadá. O trabalho é o segundo da banda após o retorno à cena musical em 2015, com o meio disco Santa Morte que venceu o Prêmio de Música Pernambucana 2017, na categoria melhor disco de rock.
Cada uma das faixas ‘‘A Lenda do Homem que engoliu o Sol’’ tem seu registro audiovisual que pode ser conferido no canal da banda no youtube (www.youtube.com/carranzarock). Além do clip de Sistema Natural, feito em parceria com Rhossi da Pavilhão 9 e que foi lançado com um show no Armazém do Campo do Recife (iniciativa do MST presente em todo País) com a participação especial de Rhossi ao vivo.As outras seis faixas do disco possuem lyrics vídeo que levam a assinatura do motion designer Marcelo Silva com colaboração dos artistas plásticos Guga Baygon, Marcelo Pompi e Rodrigo Bittencourt.
Com batidas pesadas e letras contundentes, “A Lenda do Homem que engoliu o sol” é um estudo sobre as opressões humanas na sociedade moderna. De forma lúdica, o trabalho expõe a incansável busca do cidadão moderno pelo lugar ao sol, símbolo máximo da nossa sociedade. O topo do Status quo, que nos remete à luz, à vida. Em contrapartida, essa busca desenfreada também cobra seu preço. E por isso, o disco levanta importantes debates para a sociedade contemporânea, questionando os efeitos colaterais dessa corrida pelo topo do mundo, que podem ser sentidos desde a degradação da natureza até a pressão social e psicológica recebidas como fardo pelos seres humanos.
Completando 22 anos desde que começou a tocar nos palcos pernambucanos, Carranza tem em sua formação, Cláudio Bastos e Harryson Moura nos vocais; Rafael Mariano na guitarra, Chico Tchê no baixo e Willson Durand na bateria e programações.
Conversamos com Cláudio Bastos, vocal do Carranza, sobre sua trajetória, processo de composição e gravação, influências musicais, entre outras curiosidades sobre sua vida e a banda Carranza. Confira!
Você e a Carranza apresentam uma sintonia e criatividade fora do comum. Como funciona a parceria de vocês como músicos e amigos dentro do projeto? Como começou essa amizade?
O projeto em si hoje em dia vai muito além da música, temos uma história muito longa com a banda e com outros projetos também como festivais, produções e participamos ativamente durante esses 22 anos e mais um pouco, ativamente junto com outras pessoas, em outros projetos, o que tornou hoje a banda um núcleo de um grande coletivo de artistas, pessoas que não são músicos mas fazem parte dessa crew, artistas gráficos (desenhistas, tatuadores, designers, motion designers, diretores de arte, fotógrafos, etc), profissionais de som como roadies e técnicos, produtores, enfim. Como nós sempre tivemos essa consciência de que nossa música nunca seria consumida por uma grande massa, nossas raízes são muito fortes, feitas e alimentadas com muito amor, clareza e respeito. A amizade (assim como as tretas) geradas num relacionamento criado desta forma, tendem naturalmente a serem muito reais, feitas por pessoas de verdade, sem meias palavras sabe? Isso na moral me enche de orgulho, saber que por exemplo tô precisando de uma força num projeto, que talvez nem seja aprovado, chegar prum brother e dizer, preciso de você e a pessoa nem sequer conversar sobre dinheiro, dizer que topa antes de ouvir as considerações finais, isso me enche muito de orgulho, saber que construímos um coletivo, uma família, no bom e no ruim
Dentro do cenário do rock, hardcore e alternativo, você costuma acompanhar quais bandas brasileiras? E sobre as estrangeiras, alguma atual que tenha lhe chamado a atenção ultimamente?
Eu não sou muito adepto de apps de música, passei a ouvir mais por conta da banda mesmo, de tentar aprender um pouco como funciona. Tenho muitos cds e vinis que sempre que posso ponho e escuto sabe, tipo digerindo aquilo, com o encarte em mãos quando possível. Das bandas nacionais, acompanho bastante e tenho curiosidade em ouvir coisas novas do Dead Fish, do Ratos, Sepultura, sou mais velha guarda. Das bandas novas no estilo não consegui ver algo diferenciado a um tempo, algo inovador sabe? De banda gringa o que ouço mesmo é mais hardcore como Face to Face, Pennywise e Rancid (que gosto muito pelas influências Jamaicanas que eles incorporam), e umas metaleira não muito extrema, coisas mais clássicas como o And Justice for All… que sempre que ouço é uma experiência nova que tenho mesmo sendo tão antigo.
Que dica você daria a músicos brasileiros da cena, que têm medo de experimentar e inventar coisas novas em suas músicas?
Façam o que vocês quiserem, de verdade, façam com verdade, com amor. Essa parada de agradar o mercado é cansativo, fadado a um sucesso que não vai te trazer realização nenhuma. Então se quiserem façam, desde que tenha verdade e amor naquilo.
Quais são as suas maiores influências musicais? Pra você qual é o maior frontman de todos os tempos?
No jeito de fazer as coisas tenho muita influência do punk mesmo, tipo, vamos fazer? Vamos, e de algum jeito realizamos, não me recordo de ter parado algo no meio sabe? Quando assumo, eu faço virar. Musicalmente tenho muitas influências antigas, muitas eu ouço de tudo, sem brincadeira. Rock, hardcore, metal, punk, ska, etc, mas também ouço muito samba de raiz, Almir Guineto é pra mim um grande ídolo, Fundo de Quintal, enfim, meu grande sonho ainda é lançar um disco de samba sabe? Por pra fora essa parada que tenho aqui dentro. E sobre o frontman, são muitos, como citar Joey Ramone sem lembrar de Zack de La Rocha? Ou Chico Science sem falar de João Gordo e Rodolfo nos áureos tempos do Raimundos. Citar um só pra mim, que além de tudo cresci me espelhando em tantos artistas, é impossível, hehehe, desculpa.
Sua linha vocal demonstra força e criatividade. Você sempre compõe e cria as músicas pensando de forma analítica ou elas acabam saindo naturalmente desse jeito?
É muito difícil eu escrever algo sem ser no estúdio, pode acreditar. Eu até tento, mas o resultado quase nunca é satisfatório. Música pra mim é muito o momento. Vamos fazer uma música nova? Sei quem tem uma base, toca aí, aí vamos montando o corpo dela, as nuances, tudo muito olho no olho. Quando ela tá com aquele esboço montando, penso num tema, e começo a escrever enquanto os instrumentistas tão ali já moendo, aí dependendo do sentimento do que sair ali vou montando tempos, mudando dinâmicas, no fim gravo no celular uma última passada dela e levo o esboço do que fiz pra casa, pra aí sim dar um grau, pensar melhor nas palavras, etc.
Como a música surgiu em sua vida?
Meu pai tinha muitos vinis de sua época de juventude, eu com sei lá 6 anos abria o armário dele e pegava um disco de Santana, Creedence, Beatles, Renato e seus Blue Caps e ouvia aquilo a tarde toda com meu irmão. Fora isso também tinha muita coisa de Luiz Gonzaga, Beth Carvalho, Clara Nunes, Raul Seixas, Noite Ilustrada… Lógico que ouvi Balão Mágico, Xuxa, mas tinha uns discos lá de surf music instrumental, um tal de Big Seven, que foi a trilha sonora da minha infância. Mas 3 momentos me marcaram muito pra tipo rock é minha vida, quando ganhei um vinil do Ultraje a Rigor, o Nós vamos invadir sua praia, num sorteio de uma rádio e passei a ver outras bandas nacionais, quando ouvi o Loco Live do Ramones e me imaginei ali e depois quando o Raimundos, Planet Hemp, Chico Science e Nação Zumbi, Pato Fu, Skank, Jorge Cabeleira estouraram na mídia e eu já tava tipo indo a shows, e via alí pessoas comuns fazendo música, depois passei a ver amigo abrindo alguns daqueles shows, aquilo, junto com um forte movimento estudantil na escola onde eu estudava na época me fez pensar, vou fazer isso também, é massa, hehehehe.
Qual foi o melhor show da história do Carranza? conta pra gente.
Rapaz, acho que na primeira fase da banda teve um na Escola Técnica onde eu estudava que foi no dia do meu aniversário que foi histórico porque rolou um parabéns, a quadra lotada cantando, hehehe que me emociona até hoje, teve outros como o Rock na Veia onde pela primeira vez pegamos um palco principal num grande festival, teve o Reação Underground onde fizemos um show com mais 15 bandas e de lá tivemos o convite para grandes festivais no estado, dentre eles o que posso dizer que pra mim foi o melhor e maior que foi o Acorda Povo que era um festival itinerante pelo estado feito pela Nação Zumbi e Devotos e tocamos numa das noites abrindo o show do Mestre Ambrósio, essa noite guardo com muito carinho. E após a volta em 2015, conseguimos tocar por 2 anos no maior carnaval do mundo, em Olinda, no principal palco voltado para o público jovem, assim que foram fenomenais, históricos!
Qual é a sua faixa favorita da banda?
Hoje para mim, por tudo que ela representa é Tempo Cego, que fala de nossas pequenas vitórias no dia a dia que nos fazem seguir em frente sabe?
O disco da banda está tendo um feedback muito positivo tanto no Brasil quanto na mídia internacional. Como você recebeu essa resposta tão bacana sobre seu projeto musical?
Com muita felicidade sabe? Estávamos bem tristes com todo situação que o mundo e principalmente o Brasil vem passando quando recebe o convite da Eletric Funeral para relançar o disco A Lenda do Homem que engoliu o Sol com um respaldo e uma assessoria mais profissional, e isso foi muito importante pra gente, agregou experiência, valor e espero que seja só o início de uma parceria ainda maior no futuro, pois como falei na primeira pergunta desta entrevista, apesar de nos falar só via e-mail, whatsapp, sinto que são pessoas de verdade e de bom coração sabe, espero tê-los novamente conosco no futuro.
Quais os planos para 2021? Alguma previsão de lançar clipe?
pPra esse ano meu grande plano e ficar vivo e cuidar de todos ao meu redor para que fiquem bem também, tentamos produzir algo, mas o aumento significativo de casos e mortes aqui no nosso estado e no país, nos retraíram, estamos correndo atrás de editais e leis de incentivo para fazermos caixa e aí, passado esse momento, entramos em estúdio de cabeça a produzirmos algo.
Confira “A Lenda do Homem Que Engoliu o Sol”: