“Gaya”, o quarto álbum de inéditas de Tiê, saiu em todas as plataformas digitais e nós não poupamos elogios para esse mais novo lançamento da nossa música – leia aqui a nossa resenha. Concebido a partir de um carrossel de emoções enfrentado pela cantora, ele traz de volta a voz de “A Noite” de um jeito bem diferente do que estamos acostumados, mas sem deixar de lado a personalidade que conquistou todos nós há alguns anos atrás.
Junto com esse lançamento, surgiu através da nossa parceira Warner Music Brasil a incrível oportunidade de batermos um papo bem legal com a cantora, que por telefone contou sobre o álbum novo, maternidade, Rock In Rio e até mesmo o que ela anda ouvindo por aí.
MAZE Entrevista: Tiê
por João Batista
João: Primeiramente, gostaria de dizer que “Gaya” está maravilhoso, as músicas são lindas! É um prazer estar falando com você.
Tiê: Ah, obrigada. Eu fiz uma música pra você! [risos]
J: Hahaha! É exatamente sobre ela que eu gostaria de falar com você primeiro. “Amuleto” é realmente uma música muito bonita e significativa pra mim, particularmente. Nesse novo álbum, você tá com uma sonoridade bem diferente do que a gente conhece, mas suas letras não deixaram de ser profundas e biográficas. Como que funciona o seu processo de composição? É mais metódico ou mais orgânico?
T: Cada vez é uma novidade. Foi muito louco esse álbum porque eu vinha fazendo ele há bastante tempo – desde o meio do ano passado. Mas ele foi feito bem espaçado, e foi feito durante muitas viagens, entre um show e outro, muitos lugares diferentes, ideias, vans, aviões… Ao mesmo tempo, “Gaya” é um disco que mantém essa coisa de autobiografia. E apesar de “Amuleto” não ser uma música minha, eu só coloquei porque eu fui almoçar com o Bruno [Caliman, autor da faixa] e fui conversar pessoalmente com ele, contei minhas histórias e ele me deu de presente. Como eu sou compositora, é muito difícil receber músicas de outros compositores pois não consigo me identificar com as músicas, mas como a gente teve esse contato de olho no olho e contei várias coisas da minha vida pra ele, então vi que “Amuleto” ficou bem agrupada ao disco, pois ele fala muito sobre julgamentos, culpas, ter coragem de fazer o que você acha certo, amor doído e tudo mais.
J: Hoje em dia a MPB tá conquistando um público cada vez mais amplo, e por conta disso vários artistas vêm imergindo no cenário. Dessa “nova geração”, você tem algum artista que admire?
T: Eu gosto bastante da Luiza Lian e do Cauê Benetti, que acabou de lançar disco novo, o “Pra Vender”.
J: E qual ensinamento você pega dessa galera que tá começando agora?
T: Eu gosto de me relacionar com a galera no geral. E gosto desses novos por eles estarem mais “à vontade” na internet, por conta do tempo de vida que eles possuem na rede. Por exemplo gostei muito de conhecer a Mari Nolasco, que é canta covers na web e tem também seus trabalhos autorais, e acho super legal a forma como ela desenvolve as coisas e usa a internet a favor de sua arte.
J: E voltando a falar sobre “Gaya”… Não dá pra deixar de mencionar sua parceria com o Luan Santana, que chama bastante atenção pelo fato de você ser uma pessoa bem aberta a arriscar sons diferente do seu habitual. Tem algum ritmo “inusitado” que você gostaria de explorar em um projeto paralelo ou algo do tipo?
T: Eu gostaria de fazer um trabalho infantil algum dia, ou algo mais dançante… Porque eu gosto de música popular no geral, mas esse disco já é tão além do que eu faço [risos] que ao meu ver eu já acho que estou ousando bastante. Então por enquanto… [risos]
J: Além dos singles já divulgados, a minha favorito do disco até agora é “Pra Amora”, que é muito fofa e sintetiza bem essa proposta pop do disco. Como que foi o processo de produção dessa faixa?
T: Eu tô muito feliz porque sinto que quem já ouviu o disco se divide entre quem gostou mais de “Pra Amora” e quem gosta de “O Mar Me Diz”, que é a faixa seguinte. “Pra Amora” foi uma música que fiz pra minha filha menor, Amora, mas também pra todas essas crianças puras que já nascem nessa zona que tá o mundo… É uma questão de incentivo mesmo, pra você fazer o que quiser desde que você respeite o que é seu. Era o refrão de uma música e o pedaço de outra, que não estavam encaixando no disco, mas quando juntou fiz a letra de uma vez só. Depois gravei com elas [Liz e Amora, filhas da Tiê] e rolou até ciúmes da mais velha, [risos] que disse que não gosta da música que fiz pra ela [“Na Varanda da Liz”, de 2011]. Mas é uma música que fico muito feliz por terem gostado, pois foi bem despretensiosa.
J: E pegando esse gancho, de que forma a maternidade mudou seu processo de criação como artista?
T: Muda porque você não tem mais tempo pra fazer nada e tem que fazer tudo picotado [risos]. É uma loucura, você se sente mais responsável, e se sente culpada por tudo, e é muito amor envolvido. É realmente uma loucura porque você precisa administrar a carreira e ser mãe. Mas é maravilhoso, eu sou muito feliz por tê-las e também por elas fazerem parte disso tudo numa boa, indo em shows, cantando junto… Elas gostam, se envolvem muito em tudo e isso é muito legal.
J: Aqui no MAZE a gente venera muito a nossa música, mas também gostamos de enaltecer a música pop lá de fora. Existe algum artista gringo que você tenha escutado muito ultimamente?
T: Ah, eu tô escutando bastante The Weeknd, a trilha de “Moana” [risos]… Também tenho ouvido bastante Phoenix, que é uma banda que sempre gostei bastante, e eu ameeei o single novo do MGMT, lançado recentemente [“Little Dark Age”].
J: E não dá pra deixar de comentar também sobre sua passagem pelo Rock In Rio desse ano. Eu tava lá na frente e foi incrível. Qual foi a sensação de subir ao palco novamente depois de tanto tempo, e qual a diferença da Tiê que se apresentou em 2011 pra Tiê que se apresentou em 2017?
T: A primeira vez foi muito especial, porque foi um show mais autoral. E dessa vez foi muito especial também porque o João Donato é um cara que influenciou todas nós, mesmo que sejamos tão diferentes musicalmente. E homenagear um cara desses foi muito importante, foi realmente um clima de harmonia e sintonia que foi bem mágico. Deu um nervoso sim, porque Rock In Rio é uma responsabilidade muito grande, mas no final das contas a sensação que ficou foi de dever cumprido.
J: Pra finalizar, que recado você deixa pra essa galera que quer viver de música, fazendo dessa paixão uma profissão?
Seja você mesmo. Faça o que sabe fazer. Não tente agradar ninguém. Faça algo que você realmente acredita e que vá se emocionar com aquilo. Acho que essa é a única forma do negócio girar.
Apesar de ter sido bem rapidinho, a experiência de trocar uma ideia com Tiê foi incrível. Sua simpatia e carisma foram pontos chave para que a conversa pudesse se tornar algo fluido e com muito conteúdo a ser agregado. Pudemos conhecer um pouquinho mais da mulher por trás das músicas, que está no controle de sua carreira e sentimentos, a ponto de conseguir conciliar tudo para conceber algo tão lindo como o “Gaya”.
E aproveitando essa deixa, resolvemos criar uma playlist inspirada nos gostos de Tiê em comum com o MAZE e, claro, com as nossas faixas favoritas da artista. Segue a gente no Spotify e confira abaixo a playlist “MAZE x Tiê“:
Por Maze