Assim como os Titãs já cantavam, nos dias atuais ficamos sempre na espera da “melhor série de todos os tempos da última semana”. São muitas teorias, vídeos, e uma comunidade em torno de várias séries famosas e queridas, que sempre aguardam as próximas temporadas, como se elas fossem a superação extrema. Em uma sede nunca saciável pelo “épico”.
Entre estas séries, temos Stranger Things. A série, que foi uma grande surpresa em 2016, rapidamente ganhou fãs pelo mundo. Sua segunda temporada, enquanto boa em enredo, é considerada por muitos “fraca”, justamente por querer inventar moda demais. Incluindo o fatídico e desnecessário sexto episódio.
Mas, felizmente, após dois anos de espera, os novos oito episódios de Stranger Things trazem aquilo que a série sabe fazer de melhor: ser uma série dos anos 80, mas produzida nos anos 2010. Felizmente, Netflix e Irmãos Duffer compreenderam muito bem a série que tem em mãos, e não tentaram reinventar a roda.
Uma série de 1984, em 4K
Pelo contrário. Quem foi criança ou adolescente nos anos 80, vai se identificar mais do que nunca com o seriado. E nem só pelas referências a filmes e a cultura da época. A própria estrutura dos episódios, adaptadas para o “padrão Netflix” segue aquilo que já estamos acostumados, e com saudades.
É muito clichê. Muitos daqueles momentos do ‘quase’. E elementos que estão ali apenas para o bem da série, não se importando com razões e lógica. Stranger Things não é série para se buscar razão em contextos. É uma série feita única e exclusivamente para entretenimento (e vender assinaturas).
Lá vamos ver gente que não tem costume com armas atirando como o Rambo, comunistas soviéticos com operações consideradas impossíveis, para quem observa as coisas com a razão, os famosos momentos do “carro que não quer pegar”. E tá tudo bem. Talvez ver esses momentos acabem nos conectando ainda mais na aura “anos 80” da série.
Tudo bem que fãs mais intensos busquem, em teorias e conversas, buscar entender as pequenas nuances que, reais ou não, geram assunto para conversar sobre a série. Mas, ao ver os episódios, fica nítido que a ideia aqui é só ver o grupo de crianças, buscando solucionar as “coisas estranhas” que insistem em assolar Hawkins.
Nossos amigos estão crescendo…
Stranger Things 3 poderia facilmente ser um filme. Como é uma série, ainda deu tempo para, em alguns episódios, evoluir seus personagens. Com alma de Anos Incríveis, vemos os nossos “amigos” no seriado, mais crescidos, lidando com questões envolvendo a adolescência, para uns, e o início da vida adulta, para outros.
Pode ser considerado por muitos até como um começo lento, mas foi uma boa maneira pra reapresentar os personagens, para garantir melhor entendimento no contexto para a hora que a cobra resolve fumar.
Destaque para Nancy e Jonathan (Natalia Dyer e Charlie Heaton), que ganharam mais destaque, desta vez, que protagonistas como Lucas, Will e Mike. A “parceria” Dustin e Steve (Gaten Matarazzo e Joe Keery) também foi bem explorada, além da introdução da ótima Robin (Maya Hawke). Winona Ryder segue levando a sua personagem Joyce a bons momentos, enquanto o policial Jim Hopper (David Harbour) também se destaca.
Já Eleven, e não por culpa dela, é uma mera coadjuvante com poderes. É que ela não é mais a “super-heroína” que precisa lidar com seus poderes. Ela é, agora, “mais uma na turma”, o que é muito bom. Afinal, a garota que tinha dificuldades de relacionamento, agora tem amigos, junto com Max, que é a típica amiga que divide conversas, segredos e conselhos.
Por outro lado, temos mais um elemento desta mistura: o “fator Marvel“. A Netflix investiu pesado desta vez, com efeitos especiais dignos de Vingadores. A produção por si só é um ótimo motivo para assistir a série, que vai agradar a todos que gostaram de Guerra Infinita e Ultimato, entre outros. A influência é tanta, que tem até “cenas pós-créditos”, no último episódio.
Sobre enredo, nem preciso falar muito. A série não foca nisso. Há, claro, boas séries que surpreendem com uma boa história, mas não é o caso aqui. Mesmo com momentos impactantes, e revelações curiosas, o que temos, no fim, são oito episódios, bem feitos no que diz respeito a produção, e que garantem mais bons momentos com Eleven, Dustin, Will e todos os outros.
Não é a “melhor série de todos os tempos”! E isso é ótimo!
Como falei no começo, Stranger Things 3 não é a “melhor série de todos os tempos da última semana”. E isso é ótimo. Em tempos de entretenimento insaciável, ver uma série que “apenas diverte” parece pouco, mas não é. Os Irmãos Duffer conseguiram deixar seus personagens ainda mais interessantes, e garantiram uma “Sessão da Tarde” com muita qualidade.
Temos ação, bons efeitos especiais, e um universo que ainda tem muito terreno para ser explorado. E até a soma de momentos divertidos entre os personagens. Com direito a alguns momentos de emoção, especialmente para quem gosta de verdade da série, e se apegou a alguns personagens. Tá ótimo assim.
Por Arkade