“Escolha Keywords” é o primeiro EP da banda DOCAOS que vem com 6 canções prontas para te fazer repensar sua existência, propósito e recheadas de sentimento, te convidarão à uma auto-análise com melodias e ritmos desconcertantes, refrões intensos e estruturas musicais inesperadas. Cada tema, uma escolha de palavras (como manda o nome do EP) bem pensada para sugerir respostas à dilemas existenciais. A banda acaba de lançar seu primeiro EP “Escolha: Keywords” em todas as plataformas de streaming. Confira o disco: https://song.link/s/6BB2ocZ26HJqvXo0JH9KWb
Iniciada em 2019, diretamente de São Paulo, Brasil, a Docaos surgiu da inquietação de amigos de produzirem um som sincero que questione a realidade, tanto externa quanto interna, abordando conflitos pessoais e conclusões milenares sobre o nosso papel na existência, a necessidade de resistir essa onda de apatia e indiferença à vida humana e instigar uma busca pela verdade e por sentido em um mundo quebrado, vendido, individual e relativista.
Conversamos com a banda sobre sua trajetória, processo de composição e gravação, influências musicais, planos futuros e outras curiosidades. Confira!
De onde surgiu o nome “DOCAOS”?
Desde os primeiros ensaios, estávamos procurando nomes que fizessem sentido à proposta da banda e escolher um nome pra um projeto nunca é algo fácil. Eu (Lucas) lembro de alguns que tentamos como “Deslumbre” ou “Die Lumbre” justamente remetendo à essa parada “nova”, trazendo um renovo, uma perspectiva que traz surpresa pra quem escuta. Mas nunca soava interessante. Até o dia em que fomos na casa de um músico/produtor musical muito relevante na cena hip hop, nosso amigo Renan Samam, para conversar sobre o projeto, testar alguns beats nas canções. E durante as conversas ele soltou um “meu, vocês são das ruas cara… o som de vocês é o caos, DO CAOS!”. Não deu outra, tinha de ser esse nome. Essa frase reverberou nas nossas cabeças e esse nome “DOCAOS” nos ganhou tanto pela sonoridade quanto ele abrangia um sentido maior durante a pandemia, pois a banda começou as composições durante essa época louca e sem perspectivas.
Fora que também remete ao nosso passado, histórias e vivências que passamos e denota de onde viemos. E é essa justamente a ideia, viemos “do caos”, e do caos pode vir sentido, pode haver esperança é algo pelo qual acreditar. Por isso, sem “querer querendo”, Renan Samam batizou o projeto e decidimos abraçar esse nome que carrega tanto significado.
Como e quando a banda surgiu?
No final de 2019, após uma viagem minha e do Victor (vocal e meu primo) à Europa, eu havia entendido claramente que eu havia de começar um projeto musical ao chegar no Brasil e após desembarcar em Guarulhos, (coincidência monstra) trombei com alguém que eu não via há um tempo, o Thiago (guitarra e voz) estava no metrô enquanto eu voltava pra casa (carregado de malas e sem dormir direito na viagem rs), e começamos a conversar sobre o projeto e pouco à pouco os outros integrantes foram aparecendo.
Como frequentamos todos a mesma comunidade de fé (projeto 242) foi fácil de linkar as peças, sendo o Roby (foi indicado e colocado pela influência da minha esposa, pois viu muito potencial ao ver ele tocando batera) o último a ser colocado na banda, e assim começamos a ensaiar juntos e compor os primeiros sons no estúdio subterrâneo do 242 e não paramos mais.
A banda segue promovendo seu último lançamento, o EP “Escolha Keywords”. Como foi o processo de gravação desse disco?
A gravação do EP foi um momento muito ímpar, de picos e extremos. Pelo fato da gravação ser no Rio de Janeiro (RJ) já começou sendo uma aventura nesse sentido, pois tivemos de viajar durante a pandemia para gravar esse trampo em dias diferentes (pois o estúdio não agruparia mais de 3 pessoas ao mesmo tempo) fazendo então um revezamento de idas e vindas para podermos gravar sem complicações.
Contamos com o Héber Van Geburt lá do Estúdio Órbita para a produção do EP que nos auxiliou muito a tirar o melhor som possível organicamente, ajustando, testando, entendendo a proposta da banda desde antes de irmos pra lá… já sacando o som na pré produção e o Thiago assinando a co-produção junto com ele. Em outubro do ano passado, primeiramente foram gravadas todas as linhas de bateria, somente o Roby e o Thiago indo para o estúdio e por alguns dias tirando o melhor som possível da batera.
Depois de quase 1 mês de intervalo, foi a vez do resto da banda, então o Caio foi pra gravar as linhas de guitarra junto com o Thiago, depois eu no baixo e algumas coisas de voz, e por último o Victor, nosso vocalista. Assim que um terminava sua parte, voltava pra São Paulo, o próximo vinha, em um processo bem cansativo, principalmente pro Thiago que estava desde o início, porém necessário por estarmos gravando em um momento tão atípico.
O processo foi muito bom por um lado, nosso produtor realmente entendeu o propósito da banda e nos deixou muito à vontade durante os trabalhos de captação, sugerindo, dando ideias que sempre caíam como uma luva e enalteciam a composição, como a própria respiração (do Héber) em “O Tamanho do Vazio”, a máquina de escrever em “The Key is…”, o sinal de um monitor cardíaco apitando no final da “ Enredo de Fabiano em ré menor”, entre várias outras ideias que somaram muito dentro do projeto.
Ali vivemos momentos viscerais, que arrancavam lágrimas nossas e dele também, experimentando muitas emoções com cada composição ganhando vida ali nessa gravação.
Mas também teve seus espinhos, como todo o cansaço gerado pelo trabalho exaustivo, o calor absurdo que o RJ estava naqueles dias que contribuiu pro Thiago ficar sem voz (tendo que finalizar as suas partes de voz em SP) e doente já no final do processo. Muito custoso, muito trabalhoso, mas todo esse suor, sangue e lágrimas resultaram nesse EP que hoje temos a honra de chamar de nosso e tá aí pro mundão ouvir!
O disco da banda foi muito bem recebido nos sites de música especializada nacionais e internacionais . Como a banda está vendo esse feedback tão positivo do material lançado?
Vemos com muita expectativa e animação toda essa recepção. Sabíamos que nosso som não seria tão fácil de digerir por conter tons de experimentalismo, letras profundas e arranjos que demoraram para serem criados e misturados ao rock, talvez de primeira não agradassem a todos. Até porque, somos uma banda nova e estamos descobrindo e realizando juntos nossa própria identidade sonora e musical.
Porém vemos que em sua grande maioria tanto os sites, críticos quanto amigos e pessoas ao nosso redor tem entendido muito bem a proposta desse primeiro trabalho, sacando as abordagens musicais e líricas, nos perguntando com interesse sobre o conteúdo e os detalhes de cada parte das canções.
Também as críticas construtivas são sempre bem – vindas, mesmo aqueles que não curtiram muito o trabalho, respeitaram o que foi feito. Também há o pessoal que caminha conosco que aponta onde poderíamos ter pensado e trampado diferente, isso também nos impulsiona a trabalhar sempre buscando uma evolução dentro do som da DOCAOS.
Acreditamos ser esse o caminho a seguir para os próximos trabalhos, mais inovação e evolução sonora, com muita autenticidade e excelência.
Suas músicas demonstram muita intensidade e entrega por parte da banda. Existe alguma composição que seja mais especial para vocês?
Poxa, valeu! Realmente demos o máximo em cada uma delas. Todas são especiais pra nós, algumas mais pra uns, outras mais pra outros. Sei por exemplo que para o Roby a “The Key is…” é muito forte e uma das suas favoritas, já para o Caio a que bate mais forte é a “Samba de um cadeado só” pelo estilo new metal e o refrão intenso. Eu mesmo amo todas, mas a “Enredo de Fabiano” e a “Carregue Pedras ou Construa Catedrais” têm um lugar especial no meu coração pela forma como compomos, e os outros também têm as suas favoritas.
Mas todas são igualmente importantes, fortes e não há nenhuma que achamos mais ou menos no final das contas. O trabalho conta como um todo, e o “Escolha:Keywords” só é dessa forma, porque ele detém as 6 canções exatamente como estão lá.
Quais as bandas e fontes artísticas que inspiram o som do DOCAOS?
Gostamos de muitas bandas atuais como Bring me The Horizon, Fever 333, Code Orange e também bandas das antigas como Sepultura, Linkin Park, Underoath.
Porém pra esse projeto fomos além e ouvimos desde Dominguinhos à Baden Powell, Sigur Ròs e Red Hot Chili Peppers entre outros, fugindo apenas do rock convencional, para criar uma identidade um pouco mais autêntica, buscando fontes em outros estilos musicais. Lemos e pesquisamos bastante para criar as letras, então autores como Dostoiévski, Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade, C.S Lewis foram bem absorvidos para enriquecer os temas das canções, além de vivências pessoais. Importante mencionar também alguns documentários e filmes como Garapa de José Padilha, Lamento Nordestino, O Homem Duplicado de Denis Villeneuve entre outros que serviram de base e inspiração para as canções.
Como foi o processo de gravação do clipe da faixa “Right before me”?
Muito trabalhoso e muito gratificante! Contamos com a ajuda do nosso amigo diretor Léo Grecco, André Guerra na fotografia e Laís Rodrigues na direção de arte e eu (Lucas) fiquei na produção geral do clipe.
Foi a minha primeira vez produzindo um clipe e foi uma experiência única, muita dedicação de todos os envolvidos, desde o momento de montar a história do clipe, filmar usando o snorricam, trabalhar cada take, entender como funcionaria a adesivagem no protagonista (feito pelo nosso amigo Iconi Neves) e como se desenrolaria de uma forma que a letra e o clipe se entrelaçassem.
Foram 3 dias de muita entrega, foco e ao mesmo tempo muita disposição e alegria em ver o projeto feito da melhor maneira, o resultado ficou muito acima do que esperávamos e sabemos que esse é apenas o começo!
Podemos esperar mais material inédito em breve? doc, clipe?
Com certeza! Temos soltado vídeos no YT colocando os makings de cada instrumento, e já estamos trabalhando nos clipes novos! Bom ficar de olho nas nossas redes porque virão mais novidades nas próximas semanas, só aguardar que logo mais sai do forno.
Como vocês veem o impacto da pandemia e do desgoverno brasileiro em relação à cultura nacional?
Assistimos com muita tristeza durante todo esse desenrolar da pandemia, a omissão dos nossos governantes de combater com mais eficácia essa doença e obviamente isso também afetou a classe dos que diretamente trabalham com aglomerações, não só artistas, mas produtores de shows, casas de show, vendedores, roadies, agências inteiras que tiveram de ter arranjar maneiras alternativas para sobreviver, com pouco ou nenhum auxílio do governo. A cultura é um dos, se não o maior, bem de uma nação.
É necessário reivindicar, com certeza, os direitos mínimos para aqueles que sempre produziram arte e vida através de diversas manifestações artísticas, sejam assegurados e não passem dificuldades e humilhações no dia a dia, por conta da atual circunstância. Podemos dizer com certeza que o país que negligencia o que o povo está criando, fazendo e provocando culturalmente, não reconhece aquilo que abre os olhos da alma do povo e o faz enxergar novas possibilidades e um futuro melhor como nação. Talvez esse seja o motivo mesmo, não querer que os olhos sejam abertos. E nesse sentido, precisamos de fato resistir e fazer nossa parte para que esse ciclo triste de polarização e desigualdade seja liquidado no nosso país. A arte sempre foi veículo de expressão e resistência, e assim se manterá seja quem estiver no poder, continuará sendo uma das melhores ferramentas para a resistência, em busca de um futuro mais adequado para todos.