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Em noite épica, U2 inicia turnê “The Joshua Tree” com seu melhor show no Brasil


Saiba como foi a primeira noite do U2  no Morumbi com a turnê “The Joshua Tree”

(Foto: Manuela Scarpa – Brazil News)

Ao som da música de introdução “The Whole of the Moon” (The Waterboys), o baterista Larry Mullen Jr. entra sozinho e caminha em direção à bateria montada no pequeno palco anexo que fica no meio do púbico, despretensioso, senta, se ajeita e já de cara manda forte na bateria o começo de “Sunday Bloody Sunday”. Na sequência vem entrando The Edge tocando a guitarra, Bono entra cantando, e o último a se juntar a eles é o baixista Adam Clayton. Começo de show avassalador. Estádio lotado e as pessoas pulando compactamente. O show segue em ritmo forte, e sem pausa, Adam Clayton já engata o baixo com “New Year’s Day“, também do álbum War de 1983 e na sequência “Pride“, deixando claro que o show testaria as coronárias da maioria dos fãs ali presentes. Talvez a comemoração dos 30 anos de The Joshua Tree tenha deixado em casa a molecada. O publico que ali se viu era realmente de fãs mais antigos da banda, ansiosos por ver seus clássicos de adolescência ao vivo.

Foto: Manuela Scarpa - Brazil News
Foto: Manuela Scarpa – Brazil News

Aos primeiros acordes de “Bad”, Bono Vox fala que o universo conspirava para que essa fosse uma noite épica de Rock’n’Roll. Então ele convida a que todos se rendam uns aos outros, e à música. A canção flui emocionante, dedicada no Brasil à Renato Russo e Cazuza, e termina emendando “Heroes” de David Bowie, e alguns que se deixam levar pela forte energia do momento vem às lágrimas. Até aí a banda se apresentava de maneira crua no palco anexo (aquele que vai até o meio do público), atestando que não precisam de efeitos e pirotecnia para levar os mais de 70 mil presentes à loucura. Performances perfeitas, cruas e pesadas.

As primeiras notas de “Where The Streets Have No Name” anunciam o início da parte principal da noite, enquanto todos da banda se dirigem ao palco grande, ao mesmo tempo em que o telão começa a exibir a grande árvore em um fundo vermelho. As sombras de Bono, The Edge, Larry Mullen Jr. e Adam Clayton complementam a impactante beleza da imagem no imenso telão que vai de um lado a outro do palco. Era a hora da ‘estrela da noite’ – “The Joshua Tree” enfim estava começando. The Edge, com seu estilo único, dá os primeiros acordes da música e a galera ovaciona. Bono manda muito bem no vocal potente e emocionado. O estádio vai à loucura. Apoteótico.

Foto: Manuela Scarpa - Brazil News
Foto: Manuela Scarpa – Brazil News

 O coro de 70 mil vozes que desde a primeira música acompanhava Bono Vox em cada verso, não fez diferente em “I Still Haven’t Found What I’m Looking For” e “With Or Without You”. As luzes dos celulares davam aquele efeito bonito em todo o estádio. Na sequência “Bullet the Blue Sky” vem forte, com peso e guitarra desconcertante, perfeita e contrastante introdução para a linda “Running to Stand Still” que a galera cantou juntamente em coro com Bono Vox.

A banda trouxe peso e paixão às músicas mais lado B do álbum, lembrando a pegada das performances ao vivo do filme “Rattle and Hum” de 1988 mas nitidamente o público aproveitou as músicas menos conhecidas para dar aquela respirada, apreciá-las, acalmar o coração, cantar e se preparar para a porrada seguinte, que certamente viria. Assim foi durante “Red Hill Mining Town”, “In God’s Country”, “Trip Through Your Wires”, com  Bono e sua gaita e “One Tree Hill”. Para a introdução da música seguinte, o telão exibiu o trecho de um filme americano mais antigo, onde temos um personagem chamado Trump que curiosamente fala sobre a construção de um muro. Crítica direta, e então “Exit” veio com a força do baixo, da voz, e dos trechos estrondosos de bateria e guitarra. Montanha russa de porrada e calmaria traduzindo a mensagem da música sobre o contraste e dualidade moral entre amor e ódio que permeiam a mente de um assassino perturbado, como bem explicou o próprio Bono Vox em 1987 ao fazer a introdução da música em um show “Essa canção é sobre um homem religioso… que se tornou um homem muito perigoso, e que não conseguiu entender o mistério das mãos do amor”. Talvez a parte mais pesada do show.

O U2 tem o dom de transformar cada show em um ato político, e com esse não seria diferente. O próprio álbum “The Joshua Tree” surgiu com esse contexto há 30 anos, e revivê-lo hoje não foi somente uma saudosista exibição de um álbum clássico. A banda soube contextualizar com maestria as questões políticas e críticas de suas músicas mais antigas aos acontecimentos e retrocessos políticos e sociais de hoje pelo mundo, inclusive o Brasil. Além do discurso direto, as críticas e mensagens reflexivas estavam presentes no telão, que sincronicamente complementavam as execuções musicalmente fortes que aconteciam no palco.

Mothers of the Disappeared” encerra a apresentação do álbum “The Joshua Tree”, com o agradecimento de Bono Vox ao público por ouvi-lo. Vem então a primeira pausa oficial do show.

Os irlandeses voltam ao palco em clima de festa com “Beautiful Day” e o Morumbi treme ao som de “Elevation”, seguida de outro hit da banda “Vertigo”. Três hinos mais recentes, que mostram a influência da banda nos anos 00. O protesto fica por conta de vários closers dados às costas do baterista Larry Mullen Jr que trazia uma estampa contra a censura.

Foto: Manuela Scarpa - Brazil News
Foto: Manuela Scarpa – Brazil News

Nova pausa e a banda volta com a nova “You’re the Best Thing About Me” e “Ultraviolet (Light My Way)” que foi dedicada às mulheres, celebrando a força transformadora de grandes mulheres do mundo, conhecidas ou não, mas que são verdadeiras heroínas que em seus contextos sociais resistem, insistem e persistem a luta por seus direitos e abrem caminhos na história enquanto no telão apareciam fotos de grandes mulheres como Frida Kahlo, Madre Teresa, Tarsila do Amaral, Maria da Penha, Michelle Obama, Eva Peron, Patti Smith, e também imagens de mulheres ativistas anônimas. Lindo e forte.

No fim, Bono fez um discurso sobre temas sociais diversos, como os direitos LGBT. No meio, falou sobre a luta contra a Aids e elogiou o Brasil por transformar remédios caros em um direito acessível a todos. O vocalista já tinha elogiado iniciativas do governo brasileiro de negar patentes do coquetel anti-HIV.

Sim, o universo conspirou a favor. A noite foi épica. Uma mega apresentação, digna de uma mega banda que não deixou para trás suas raízes. Não teve “selinho no Bono”, a pegada dessa turnê é claramente outra. A presença de palco de todos os integrantes transparece a paixão tesão da banda por fazer esse trabalho em 2017. Bono sempre muito expressivo, cantou com voz potente e apaixonada. Sem dúvida o melhor show entre todos que a banda já fez no Brasil. Sejam bem vindos de volta ao Rock’n’Roll! Nós preferimos vocês assim.

Por Silvia Briani


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