Uma coisa é certa, 2021 é o ano dos musicais tomarem as telonas. E nós já temos nosso favorito, “In The Heights“, que chega ao Brasil como “Em um Bairro de Nova York” tem estreia prevista para 17 de junho de 2021 e será distribuído mundialmente pela Warner Bros. Pictures.
Desde a primeira hipnotizante cena de abertura com um grandioso número musical, tudo impressiona. A música, a fotografia, a coreografia e a representatividade. Unindo a música e as letras cinematográficas de Lin-Manuel Miranda com olhar autêntico e vívido do diretor John M. Chu, a adaptação do musical da Broadway é uma das fortes apostas para as premiações no próximo ano. Vencedor de quatro Tony Awards e um Grammy, a trama se passa durante alguns dias numa comunidade latina em Washington Heights, na periferia de Nova York. O protagonista é Usnavi (Anthony Ramos), dono de uma loja local que precisa decidir se voltará para o país de sua família, a República Dominicana, após receber uma fortuna inesperada. A trama é baseada num livro de Quiara Alegría, que desenvolveu o roteiro da peça e do filme, ao lado de Miranda.
Confira nosso bate-papo exclusivo com Christopher Scott e saiba mais sobre como foi o processo de adaptar o musical dos palcos para as telonas:
BALDE DE PIPOCA: Eu estou obcecado com “Em um Bairro de Nova York“, eu assisti ontem e estava tipo, dançando no meu colchão e não conseguia parar de conferir cada detalhe. Como foi pra você ver o resultado final do filme?
CHRISTOPHER SCOTT: Foi meio surreal, não vou mentir. Eu lembro de ter visto um corte precoce numa sala de exibição em Nova York, e estava tipo, muito emocionado durante todo o filme. Eu estava emocionado em partes que tipo, eu não sei porque eu estou ficando emocionado. Eu estou tão orgulhoso de como esses artistas e atores incríveis performaram naquela tela. Eu digo, eles deram performances dignas de ganhar o Oscar, e eu espero que eles sejam reconhecidos porque não foi fácil. Você sabe, é difícil, todo filme e todo trabalho que eu já fiz, quando eu assisti, foi sempre algo, ah eu gostaria que tivessem cortado isso, ou editado aquilo, ou tanto faz, e nesse, haviam algumas pequenas coisas que foram cortadas, e normalmente eu estaria tipo “ugh, por que eles cortaram isso?” mas eu vou te dizer, neste filme, todos os cortes ficaram perfeitos, pareceu tudo tão atencioso sabe? O que, em testamento a Jon Chu, eu digo, ele realmente tinha entendido o conceito desse filme, brilhantemente. Isso era visível na sala de edição, e eu estava tipo, cada escolha que ele fez, eu estava tipo “isso faz sentido”, algo que não precisaria entrar.
BP: Tudo estava tão conectado. Em Um Bairro em Nova York vem de uma peça da Broadway e como foi pra você criar a coreografia para a telona?
CS: Sabe, é engraçado, não teve muito desafio. Os desafios foram simplesmente porque é uma grande visão. O que eu acho que deveria ter sido a parte mais desafiadora do filme, mas no palco, eu posso imaginar como é desafiador manter o espaço ocupado por duas horas, então essa é a diferença. Eu não tive o lado desafiador de um espetáculo ao vivo, por outro lado eu tive o desafio de, tipo, como nós manteremos isso criativo o suficiente, como nós não sobrecarregamos as pessoas com espetáculos ou momentos gigantes de dança para que quando esses momentos acontecessem, eles se conectassem mais. É tipo um ato gigante de balancear, ter certeza que a audiência não fique entediada, que nós conseguíssemos manter o nível de antecipação enquanto você está assistindo ao filme, e o aspecto cultural, tendo certeza que todos os estilos latinos estão presentes.
BP: Como foi pra você apresentar essa influência da América Latina?
CS: Foi uma linda experiência pra mim porque eu pude aprender tanto, e eu trouxe, desde o começo, à partir do momento que eu montei uma equipe de coreógrafos para contribuir com isso, eu encontrei esse menino Eddie Torres Jr. de Nova Iorque e o pai dele é tipo uma lenda do mundo do Mambo em Nova Iorque, ele meio que ajudou, ele foi o pioneiro em Mambo On 2 em Nova Iorque, e aí quando você vê ele dançar, você pensa “ah então é assim que deve ser”, todos esses estilos diferentes unidos.
BP: “Carnaval Del Barrio” é um grande momento do filme, eu parei e reassisti porque eu estava encantado e quando eu vi a bandeira do Brasil, eu estava surtando. Você tem algum momento favorito do filme? Qual é a sua coreografia favorita que você pode me contar algo sobre?
CS: Eu vou te dar meu top 3: “Carnaval” com certeza, só porque foi um momento tão cru e o processo do ensaio foi tão poderoso. Eu digo, nós estamos nos ensaios chorando todo dia, só com aquela música, aquela canção. Lin criou um tributo lindo à cultura, aos ancestrais, à gerações, à comunidade e então a música.E ser capaz de assistir aqueles atores performar aquele número pareceu um privilégio, literalmente pareceu como, na sala de ensaio, você está tipo “isso poderia estar na Broadway agora mesmo”, pareceu como se eu estivesse assistindo um espetáculo da Broadway todo dia. Aquele foi o número que todos fizeram parte, foi a primeira vez que eles vieram, e Jimmy Smits vem nos atingindo com aquela pequena dança, e este cara, vou te dizer, aquele momento parece pequeno, mas aquele é cara é o homem mais trabalhador de Hollywood e ele estava na sala de ensaios morrendo por aquele momento. Ele estava só praticando, e treinando, então isso foi especial. Outra cena é 96.000, foi doido ver todos na piscina e eu aprendi uma lição, nós fizemos aquilo sem nadadores sincronizados, aqueles eram dançarinos da equipe, e aquilo não foi fácil. Aquele nado sincronizado não foi fácil, então os dançarinos realmente trabalharam duro pra fazer aquilo acontecer. Então esse foi só escopo completo e expressão criativa, ter a capacidade de colocar todos esses estilos, estilos de afrobeat ao pop, ao tricking. Nós tivemos um momento de tricking de artes marciais, e tivemos balé, as garotas estão descendo, aquele foi o meu momento dos sonhos de coreografar! E claro, “Paciencia y Fe”...
BP: Eu estava prestes a te perguntar sobre isso, porque eu estava tipo chorando naquela cena. É tão lindo, a voz dela. Todos os detalhes sobre coreografia, tudo está tão conectado, que eu estava tipo, dê um Oscar para ela!
CS: Sim, por favor! Dê tudo a eles, dê um Oscar para todos eles! Aquele elenco, é literalmente o elenco mais talentoso com quem eu já trabalhei. Olha, ela veio no nosso ensaio, como a mulher que criou esse papel na Broadway, eu digo, um, da mesa de leitura, onde ela cantou, ao vivo, e todos cantaram suas partes ao vivo, isso é uma coisa, esse elenco é tão talentoso, eles podiam fazer tudo ao vivo ali, e a Olga cantou, a sala toda na mesa de leitura estava chorando, foi insano. E depois nós fomos para o ensaio naquele dia, e eu coloquei a Olga numa posição difícil e disse “Olga, você pode? Você se importa de performar para os dançarinos para que eles possam realmente entender?”. Eu estava explicando para os dançarinos sobre o que esse número seria sobre, como iria parecer, e eu estava tipo, parecia errado. Nós tínhamos Olga aqui, você sabe, essa mulher de Cuba, essa mulher que experimentou a vida de uma forma que eu não experimentei ainda, então deixe-me perguntar a ela para explicar isso aos dançarinos, e ela fez isso. Tantas emoções em único dia! Uma coisa que ela disse me marcou. Ela disse “Chris, quando você chegar na minha idade, você para de pensar sobre o futuro, porque não há mais futuro.”. Você realmente começa a refletir no seu passado, e tudo se torna “será que eu fiz a escolha certa?”, “será que foi a escolha certa que me trouxe aqui?”, e então você está tipo, é sobre isso que estamos falando em “Paciencia Y Fe”.
BP: E você falou sobre o Lin, como foi trabalhar com ele? Porque ele é uma lenda.
CS: Ele é além de uma lenda agora, é doido isso! As vezes bate em mim, e eu fico tipo, eu fui trazido pra dentro desse mundo, 10, 15 anos depois que ele criou, eu não sei a linha do tempo, mas tipo 10 anos depois. Esse foi seu projeto universitário, ele era um jovem fazendo esse musical brilhante, e quão sortudo eu sou que eu posso entrar nesse espaço, e criar com algo que tem uma linda fundação, sabe? Eles ainda estavam trabalhando no roteiro, Quiara e Jon, mas a fundação era tão solida, o que esse filme iria ser, parecia uma honra, todos os dias. E então, como seu chefe, ele vem para o set, e você está tipo, ele é tão solidário, literalmente brincando com as coisas tipo “eu não quero fazer assim”, ele nos deixava ir, nos deixava brincar e brincava com a gente. Ele só deveria estar em um tanto do filme, você sabe, ocupado como esse cara é, e ele estava no set todos os dias, ele não conseguia ficar longe de nós porque ele amava tanto aquilo, e sim, eu senti que mesmo depois de trabalhar no filme, tipo como ele foi incrível de colaborar como um artista de verdade, e nós tínhamos mudanças nas músicas, coisas que não fariam sentido num filme, e Jon mandaria uma mensagem para Lin tipo “tem alguma forma que nós podemos ter música? Tipo, no final da semana e ele mandaria naquela noite.
BP: O cérebro dele está sempre trabalhando então!
CS: É doido, nós tivemos músicas novas, tipo novos versos em uma música, da noite pro dia. Tipo, como você faz isso?”
BP: Então, eu tenho uma pergunta final para você. Se você pudesse descrever o filme com três palavras para as pessoas que ainda não assistiram, que palavras você escolheria?
CS: Ah cara, primeiro eu vou dizer “necessário“. Eu acho que esse é um filme muito necessário, que te atinge como nada atingiu antes… É agridoce, não se parece com nada que eu já tenha visto antes, é lindo que eu possa ser parte disso. “Poderoso” vem em mente só porque tem tanto poder. Quando eu penso na palavra “poder”, você sabe, a performance da Daphne é tão poderosa, a performance do Anthony é surpreendente, o movimento, a coreografia, tudo tinha essa sensação de poder. É engraçado, porque nessas palavras, “We are not powerless, we are powerful” (uma importante citação do filme) essas palavras realmente atingem e você se sente como “sim!!!”, não tem discussão sobre isso, você consegue ver, você consegue ver na tela, é poderoso. E então, deixe-me pensar em mais uma palavra… É difícil, eu tenho que limitar a uma última palavra, eu preciso fazer com que… Eu acho que eu vou dizer “único”. Não tem nada, eu nunca vi nada como isso, desde a base, da música sozinha, chegar em um musical com canções que soam assim, isso não existe.
Assista ao trailer:
Por Balde de Pipoca