A primeira edição do Festival Tenho Mais Discos Que Amigos! aconteceu no início de abril, em Brasília, e chegou mostrando que o público atual está em busca de novidade. O evento juntou, em mais de oito horas de música, bandas brasilienses, que ainda estão se consolidando no cenário musical, com grandes grupos de renome nacional e internacional.
Com uma pequena demora que preferimos nem chamar de atraso, o MDNGHT MDNGHT entrou nada tímido em meio aos últimos ajustes de som. Com uma pegada de rock oitentista/synth pop, eles se desdobraram entre guitarras e teclados/sintetizadores para uma plateia que ainda se formava na área externa do Estádio Nacional. A banda, que tem alcançado cada vez mais espaço na capital rapidamente, fez muita gente se balançar e conseguiu o coro da plateia com “Nossa hora”, música de seu primeiro clipe.
Sem dar descanso para as cabeças que mal haviam parado de se sacudir, a banda BRVNKS, projeto de rock lo-fi da tímida goiana Bruna Guimarães, encantou o público com suas guitarras distorcidas e letras açucaradas de músicas como “F.I.J.A.N.F.W.I.W.Y.T.B” e “Harry”, que compõem seu primeiro EP, “LANCHES”, de 2016.
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Ficou claro desde o início que havia, naquela noite, outro grande destaque: o público. Apesar de muitos fãs possuírem um alvo certo no festival (como o Supercombo ou o Scalene), uma coisa foi perceptível em relação ao público presente no festival: todos ali estavam abertos a novidades. Tinha bandas que têm estampado a cara do novo rock brasileiro país a fora; tinha o BaianaSystem e seu ritmo único, que arrasta multidões cada vez maiores e se destaca como nome de peso em diferentes festivais pelo país; mas tinha também uma boa vontade ao conhecer alternativas no cenário musical. Não existia aquela típica conversa de festival, onde se fala sobre o ótimo show que você acabou ver enquanto você não dá a mínima para a banda desconhecida que está tocando no momento. Todas as atrações foram tratadas com a devida atenção.
Um desses momentos únicos foi o show da Franciso, El Hombre, banda brasileira-mexicana que faz uma mistura de rock com ritmos latinos. Não houve viva alma que não tenha se deixado levar pelo ritmo latino que domina as músicas de “Soltasbruxa” – disco lançado pela banda no ano passado – ou que não tenha sido tocada pela performance icônica da vocalista Juliana Strassacapa para a música “Triste, louca ou má”, que foi dedicada, segundo ela, a todas as mulheres, aquelas que já nasceram mulheres ou não. Toda animação do ritmo que marca as músicas da banda dividiu espaço ainda com diversas críticas ao cenário político atual e ainda sobrou espaço para um preciso cover de “Meu maracatu pesa uma tonelada”, hit de Chico Science & Nação Zumbi, e um inusitado, mas contagiante, cover de “O meu sangue ferve por você”, de Sidney Magal.
É justamente por causa dessa diversidade musical, apresentando novas bandas e novos sons a um público sedento por novidade, que o festival TMDQA! foi bem sucedido.
Experimentalismos em torno da guitarra baiana, no qual se baseia o som inovador e contagiante do BaianaSystem; a mistura de sons tipicamente brasileiros com a psicodelia dos anos 70 que convergem na sonoridade ímpar da Lista de Lily; a pegada que mistura rock, ragga e reggae da banda BRAZA, (composta por membros da finada banda Forfun (que, além de agradar aos fãs antigos que foram reencontrar seus ídolos, mostrou que não precisa da sombra da antecessora para se manter); o afrobeat do Muntchako, ritmo dançante do que nasceu da união e das vivencias artísticas tão distintas de Samuel Mota (guitarra, sintetizadores e programações), Rodrigo Barata (bateria e samplers) e Macaxeira Acioli (percussão e samplers)… é gigante a variedade de possibilidades que se pode alcançar em um evento como esse.
E certamente as bandas daquele tradicional rock de guitarras distorcidas, baterias e cabeças que não se cansam de balançar, estavam entre as mais esperadas da noite . A banda brasiliense Alarmes fez todo o público presente tirar os pés do chão com hits como “Tempo bom” e “Incertezas de um encontro qualquer”, com forte influência de bandas do rock britânico como Royal Blood e Arctic Monkeys. Essas características marcam “Em branco”, o primeiro disco da banda, lançado em 2016.
Já a Supercombo fez seu espetáculo à parte. Às vezes ficava até difícil ouvir a voz de Leonardo Ramos, que dividia os vocais com uma plateia eufórica. O show contou com o álbum “Rogério”, álbum lançado no ano passado.
Falando em dividir vocais, foi justamente a participação de Leonardo Ramos na música “Surreal”, da Scalene, que se tornou um dos pontos altos da noite. Realmente como quem estava tocando em casa para os amigos, a banda brasiliense trouxe um show sem grandes modificações em relação ao DVD lançado no ano passado, o que não significou mesmice, mas sim um tiro certeiro de quem cumpriu bem o seu papel.
Com uma organização exemplar, o festival TMDQA! pode seguir de cabeça erguida, com o sentimento de missão cumprida no peito. Fica, nos espectadores, aquele sentimento de ansiedade para uma próxima edição. Ainda mais que isso, deixou com toda certeza uma serie de novas bandas para o público de Brasília acompanhar de perto, pois certamente cada uma das bandas foi alvo certeiro de pesquisas no YouTube, Google ou qualquer outro serviço de streaming disponível em busca de mergulhar nestes novos sons que lhes foram apresentados.
Por Uber7