Com quase 30 anos de carreira, o fotógrafo Marcos Hermes quer dar mais um passo para eternizar seu nome na história da música brasileira. Conhecido pelos cliques de grandes ídolos da música mundial, tanto no palco como nos bastidores, Marcos apresenta em “Brasilerô” a sua visão sobre a música brasileira. Entre os artistas retratados estão nomes consagrados de diferentes estilos como Legião Urbana, Criolo, Tim Maia, Sepultura, Cássia Eller, Dorival Caymmi, Anitta, Sorriso Maroto, João Gilberto, Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Novos Baianos, Liniker, Moraes Moreira, Sandy e Júnior, O Rappa, Elza Soares, Tiago Iorc e outros tantos.
Para viabilizar a produção editorial de Brasilerô, o fotógrafo conta com o financiamento coletivo, disponível através da plataforma Kickante. As contribuições podem ser de R$ 30,00 a R$ 3.500,00 e trazem recompensas que vão desde ter seu nome nos agradecimentos do livro até aulas práticas de fotografia, ensaios fotográficos e exemplares autografados.
Além das fotografias, Brasilerô também traz textos do jornalista Pedro Só e de artistas como Baby do Brasil, Chico César e Zeca Baleiro.
Confira a entrevista completa com o fotógrafo:
Fale um pouco do caminho que percorreu como fotógrafo até aqui.
Tudo parece um sonho, pois desde moleque o meu maior desejo sempre foi colaborar com meus ídolos – brasileiros e internacionais. Um bom exemplo é o Rock in Rio, festival que é um paralelo à minha carreira e que agora, aos 43 anos, estarei registrando a nona edição, trabalhando para o festival e para alguns dos principais shows e artistas.
Do menino de Nova Iguaçu, que pulava o muro da estação de trem para fotografar os primeiros shows no Caverna II – ao lado do Canecão – e no Circo Voador, até hoje, morando em SP e escolhendo os projetos com os quais eu quero me envolver, me sinto um vitorioso, mas com muita estrada a ser percorrida.
Como esse trabalho foi construído?
O Brasilerô começou há pouco mais de 10 anos, quando percebi que eu estava documentando uma época de grandes mudanças na música brasileira, tendo acesso à intimidade e à essência dos grandes artistas. Com o passar do tempo, segui compilando os principais projetos no mainstream e na cena underground, independente, até que em conversas com meu grande amigo e jornalista que assina o prefácio do livro, Pedro Só, nasceu o nome Brasilerô, que pra mim sintetiza toda a salada musical e visual que caracteriza a cena brasileira.
Qual é, para você, a mensagem por trás dessas imagens?
É um documento histórico, pois nenhum outro projeto editorial nesse contexto teve a ousadia de juntar estilos e tendências tão diversas e antagônicas como essa coleção. É um livro de arte, com fotos exclusivas e autorais, mostrando a cena brasileira da forma mais democrática possível e sem qualquer pudor.
O que você acha que caracteriza sua relação com esses artistas?
Hoje, uma liberdade criativa absoluta. Pelo menos na maioria dos casos, os artistas brasileiros me dão espaço para criar, na expectativa que em qualquer momento possa acontencer uma grande foto. Eu sempre digo: “deixa rolar e seja o mais autêntico possível porque não quero maquiar as cenas ou manipular as imagens digitalmente, de forma que descaracterize a verdade”. E eu adoro ter sinal verde para apertar o dedo no momento certo, e poder criar, junto aos meus parceiros, projetos visuais que preservem e possam amplificar a identidade de cada um dos retratados.
Se pudesse definir esse trabalho com uma frase, qual seria?
A fotografia me escolheu.
Fale de alguma situação inesquecível para fazer alguma foto que te marcou?
Quando fotografei o Acústico Cássia Eller, tive dois desafios. Primeiro, registrar o dia-a-dia da artista, seus músicos e equipe num sítio em Teresópolis. E como já conhecia todos e sempre adorei aquelas figuras maravilhosas, me senti em casa e vejo que isso está impresso e eternizado naquelas fotos. Depois, na gravação, em São Paulo, tive uma enorme dificuldade de me posicionar no cenário para conseguir boas imagens, pois o palco era em círculo e eu não poderia ‘vazar’ nas câmeras que estavam gravando para o DVD e para o especial da MTV. O jeito foi fazer furos no cenário para conseguir ângulos exclusivos.
Como você acha que é a melhor maneira de interagir com o fotografado para obter um bom resultado?
Defendendo-o. Buscando conversar sobre as referências, os medos, as preferências… E a cada sorriso e voto de confiança vejo que isso se reflete nos resultados. Se tenho 1h para fotografar alguém que nunca encontrei, costumo gastar metade do tempo tentando entender melhor a personalidade do fotografado, e isso sempre me ajudou a conseguir fotos especiais.
O crowdfunding parece ser o caminho possível para se produzir uma obra como essa, o que propõe aos seus parceiros?
Resolvi criar uma campanha diferente, onde as pessoas possam comprar o livro, mas também terem aulas comigo em shows e em estúdio, brindes como fotos originais e até ser fotografada por mim em contextos que se encaixem aos orçamentos de cada um. É uma oportunidade para artistas que precisem dar um upgrade na imagem, por um preço especial, já que estou cobrando bem mais barato que meu cachê regular, de mercado.
Escolhi o crowdfunding por ser uma maneira absolutamente democrática de vender o livro sem muitas interferências ou barreiras comerciais, além da possibilidade de conhecer meu público consumidor e poder desenvolver o trabalho de forma orgânica, ouvindo críticas e opiniões a todo momento e amadurecendo o projeto a cada dia.
Existe um top 10 das suas imagens ou personagens retratados nesse livro?
Ah, posso citar as homenagens à Cássia Eller e Ney Matogrosso – que é a capa do livro –, como dois destaques, assim como várias imagens de ícones como Dorival Caymmi, Legião Urbana, Tim Maia, Sepultura, muitas imagens dos projetos Acústico MTV, por exemplo, e registros de figuras da nova geração, como Criolo e Chico Chico.
Conta pra gente quais as fotos que mais te emocionaram na hora de fazer e depois de prontas?
Um dos encontros marcantes dos últimos tempos e que está no livro foi com Luiz Melodia. Tive 10 minutinhos com ele, no intervalo das gravações do Sambabook do Jorge Aragão, e ele foi absolutamente genial, me presenteando com fotos únicas e que em cada frame eu consegui retratar a personalidade dele de forma completa. Sorrisos, olhares e uma entrega total para minhas lentes.
Na verdade é difícil pontuar assim, porque foram incontáveis momentos memoráveis pra mim. Tive sorte de ter escolhido essa profissão tão cedo, aos 15 anos, e ter tido a esperteza de cuidar dos meus negativos antigos para que boa parte deles esteja impresso hoje, no Brasilerô.
Histórias não faltam, e espero que em breve eu possa voltar aqui, contando mais sobre a reação das pessoas ao folhearem o livro.
Tá ficando lindo e espero que chegue para ficar e fazer história na fotografia e na música brasileira.
Por Hora H