Com duas décadas de trajetória musical, 2024 marcou o momento em que a artista punk Karen Dió se firmou, abraçando uma versão autêntica de si mesma e utilizando sua plataforma para empoderar as comunidades feminista e queer. Após deixar a banda Violet Soda e estabelecer-se no Reino Unido como artista solo, Dió passou por um hiato de dois anos, redescobrindo-se pessoal e musicalmente antes de iniciar o EP ‘My World’.
Refletindo sobre seus primórdios no Brasil, Dió percebeu que não expressava plenamente suas verdades em uma sociedade predominantemente masculina; em 2024, o país registrou níveis alarmantes de violência contra mulheres. “Sempre tentei falar sobre feminismo na minha banda anterior, mas mantinha isso mais oculto nas letras”, revela. “Ao mudar para o Reino Unido, houve um período em que me afastei para descobrir quem eu realmente era. Não se tratava de decidir quem eu queria ser, mas de abraçar quem eu sou.”
Esse período de introspecção permitiu-lhe crescer e sentir-se livre para compor o EP, apresentando-se de forma genuína. Logo, assinou com a Hopeless Records – lar de bandas como Avenged Sevenfold, Neck Deep e PVRIS. Seu single de estreia, ‘Sick Ride’, inspirado em Joan Jett, viralizou em 2023, conquistando fãs de punk em todo o país. Essa visibilidade rendeu-lhe convites para abrir shows de bandas como Limp Bizkit e Sum 41, além de integrar o lineup do Download Festival 2025.
“É incrível, especialmente como artista feminina, receber apoio de nomes tão grandes, mas também gostaria de ver mais oportunidades para toda a comunidade queer”, afirma Dió. Ela destaca a emergência de bandas como Amyl and The Sniffers, Lambrini Girls e Nova Twins, que têm obtido reconhecimento significativo. “Parte de mim pensa: ‘já era hora’, mas também sou grata por essas oportunidades e apoio. Quero contribuir para que essa exposição continue, pois há muitos artistas que merecem mais reconhecimento.”
Enfrentando inseguranças passadas e revelando composições emocionalmente honestas, Dió considera seu EP uma primeira etapa “libertadora” em sua nova jornada. Há dois anos, deixou sua vida no Brasil para recomeçar no Reino Unido, influenciada pela cultura britânica e pela liberdade artística que encontrou. “No Brasil, o progresso é mais lento na cena musical. Para quem faz punk rock, é uma luta constante e, provavelmente, nunca se alcança o sucesso lá. Tive a sorte de me mudar para o Reino Unido e encontrar um espaço onde posso ser eu mesma.”
As letras de Dió têm uma forte temática feminista, algo que ela antes hesitava em expressar plenamente devido ao machismo presente no Brasil. “Desde então, amadureci e agora me sinto à vontade para dizer: ‘Não, dane-se!’ Minhas músicas podem ser sobre feminismo. Posso falar sobre dar um chute nos caras se eles merecem! Este é o meu lugar. Pertenço a ele e, gostem ou não, não é problema meu. Não vou a lugar nenhum.”
Desde o lançamento de ‘Sick Ride’, Dió chamou a atenção de artistas como Fred Durst e Sum 41, além de assinar com a Hopeless Records. Ela acredita que sua música ressoa com o público devido às influências dos anos 90, como Veruca Salt, The Offspring, Green Day e Weezer, que se misturam ao seu som, tornando-o refrescante e nostálgico. “Encontrar esse apoio desses nomes me surpreendeu. As chances de ser descoberta por pessoas assim, vindo do Brasil, são muito menores do que se você fosse dos EUA ou do Reino Unido.”
Sua experiência na banda Violet Soda foi fundamental para seu desenvolvimento como artista solo. “Onde estou agora é por causa do Violet Soda. Foi um processo de aprendizado incrível e me dediquei muito ao projeto. Agora, sinto que Karen Dió é a versão mais autêntica de mim mesma.” Ela destaca que, na banda, buscava agradar os outros, enquanto agora faz tudo de acordo com sua própria vontade, com mais liberdade.
Como artista baseada no Reino Unido, Dió considera importante representar suas raízes latinas. “Sinto que sou uma boa mistura entre brasileira e britânica. Tenho o calor e a alegria associados ao Brasil, mas, desde que me mudei para cá, descobri uma combinação legal com a cultura britânica. O Brasil ainda é uma parte muito grande de mim, e não estou tentando mudar isso.”
O ano de 2024 foi marcante para Dió, e ela já tem planos para 2025, incluindo sua participação no Download Festival, onde dividirá o palco com bandas favoritas como Green Day e Weezer. “Estou fazendo planos, mas também tentando aproveitar essas oportunidades ao máximo. Sou muito sortuda por estar vivendo esse sonho, porque muitas pessoas no Brasil desejam ter essas oportunidades.”
Fonte: NME