No último domingo, 18 de dezembro, São Paulo recebeu a primeira edição do KNOTFEST, roadshow promovido pelo headliner da noite, o Slipknot, no Sambódromo do Anhembi, reunindo cerca de 45 mil fãs mesmo em um dia com final de Copa do Mundo.
O line-up com 12 bandas de relevância no gênero teve ampla cobertura da imprensa musical e menções em mídias de importância como Popline, TMDQA, G1 e VEJA. Mas, tão importante quanto as apresentações dos artistas foram os apontamentos de tendências sobre o mercado de eventos e entretenimento que o festival trouxe para 2023.
Veja abaixo algumas tendências apontadas no KNOTFEST:
Comunidade no centro do line-up
Festivais com artistas de gêneros diferentes sempre terão seu espaço na apresentação do novo ao público, mas o mercado de entretenimento digital já deu a dica: conteúdo segmentado e comunidades terão ainda mais espaço em 2023. No KNOTFEST, esse é o ponto de convergência para os criadores do evento, que convida bandas que consideram família – e não é só da boca pra fora. O metal sempre foi uma comunidade que passa suas tradições de pai pra filho, então se no palco vimos Slipknot e Vended (banda do filho de Corey Taylor), na plateia as camisetas apontaram famílias divididas entre Judas Priest e Sepultura e filhos acompanhando Bring Me The Horizon como apontado na matéria da TV Cultura.
No show, Corey Taylor (vocalista do Slipknot) reforçou esse discurso para uma audiência que estava em sua maioria vendo a banda pela primeira vez e se sentiu parte dos maggots (como Taylor chama os fãs). Na atmosfera do evento, isso se traduziu em um clima leve e amigável e sensação de pertencimento, fazendo com que 45 mil pessoas circulassem em tranquilidade. O companheirismo e cuidado seguiu mesmo no meio das energéticas rodas de pogo, com homens e mulheres, que costumam ser mais assustadoras a olhos leigos quando acompanhadas de música extrema.
O fator comunidade não foi só visto no palco e na audiência, mas também nos serviços prestados na praça de alimentação do evento, que convidou restaurantes locais conectados com a cultura (com alguns deles gerenciados por membros de bandas locais), acompanhando a potência cultural e empreendedora, e fomentando a cena de São Paulo.
Cultura geek apresentando o metal para novas gerações
O KNOTFEST iniciou sua turnê nos Estados Unidos, logo após a retomada dos eventos, e desde então tem lotado shows em todo o continente mostrando que a cultura geek tem colocado o gênero de volta no radar da cultura jovem nas trilhas sonoras e ambientação de séries dark como Stranger Things, Wandinha e Sandman, sucessos de audiência do Netflix em 2022. Seja com sci-fi, horror movies ou séries de true crime, a comunidade do metal sempre teve uma relação forte com a cultura pop e a injeção nessa indústria promovida pelas gigantes do streaming durante a pandemia mostrou no KNOTFEST um público renovado e engajado com a cultura como um todo.
Experiência além da música
Outro efeito pós-pandemia é que o público busca experiências cada vez mais enriquecedoras se tratando de entretenimento. Isso se traduziu em telões com audiovisuais mais tecnológicos, algo que tem sido visto na maior parte dos shows de 2022, mas também em referências que circundam a cultura. Uma delas são os artistas circenses que percorreram o sambódromo dando o tom de freak show e os tatuadores que tiveram fila para atendimento no meio do Sambódromo. O outro ponto alto foi o Museu do Metal, que contava com instrumentos para tocar e funcionou como um “bem-vindo ao clube” para quem foi pro festival e ainda está começando a entender a força da banda e do movimento.
Trap metal / hardcore é o futuro do gênero
Para quem acompanha tendências na indústria musical, o KNOTFEST se mostrou alinhado com o passado, presente e também o futuro do metal. Uma dessas tendências comportamentais relacionadas à cultura urbana é a sinergia com a comunidade do hip hop.
Nos anos 90, esse crossover nasceu com bandas como Run-D.M.C., Beastie Boys, Suicidal Tendencies e outras bandas do segmento, ganhou mais força com o new metal do Limp Bizkit, Korn e do próprio Slipknot que já aproveitou beats de drum and bass em algumas de suas músicas. Nesta edição do evento, ficou perceptível a mistura dessas comunidades e o apontamento do trap como nova vertente para trazer essa rica simbiose sonora de volta.
O trap metal / hardcore é uma mistura do que há de mais distorcido e sintetizado no rap com a estrutura de acordes pesados famosos no metal. Gostem os puristas ou não, essa fusão deve ganhar ainda mais peso no próximo ano. E ainda que o festival não tenha tido um expoente nesse segmento, o público que estava ali já ouve e expressou esse conhecimento através da forma de se vestir e no interesse nas fusões promovidas pelo próprio Slipknot.
Por Stefani Medeiros (Colaboradora)
Foto: Stephan Solon