Ela cantava “Like a Virgin”, seu maior e mais longevo hit, dançava em minha direção, abriu um sorriso e seus olhos de “medusa”, me estendeu a mão direita…
Estávamos no mesmo “Madison Square Garden” que ela conquistara, pela primeira vez, há 30 anos. Estávamos na cidade que viu brotar sua estrela.
Já vou avisando, este é um relato sincero de um fã verdadeiro, a expressão de um coração rebelde que ainda acredita na mensagem primordial de Madonna: “Dreams come true” – Sonhos tornam-se realidade – a frase extraída do “Mágico de Oz”, também muito cantada por Elvis Presley e alardeada por Walt Disney, foi e sempre será o mistério, mantra e chave do segredo que encontrou em Madonna seu pleno sentido. O elo maior entre a rainha incontestável do Pop e seu rebanho de seguidores e que, como ela, acreditam no poder da expressão.
Foi através de uma trilha sonora da novela “Final Feliz”, lançada no Brasil em 1983, que a ouvi pela primeira vez. A canção era “Everybody”, seu nome estava escrito errado na contracapa (Madona) e passei quase dois anos até saber que rosto teria aquela cantora de um nome só. Apenas em 1985 a vi, na capa da revista Bizz. Eu tinha 14 anos e aquele seria um desses momentos transformadores da vida.
O Brasil saía da ditadura militar ao mesmo tempo em que meus hormônios explodiam, juntamente com meus questionamentos juvenis e a banca de jornal me servia de fonte de informação e desejos. Aos poucos, o mundo pop, seus ídolos, festivais como o Rock in Rio, o Live Aid e projetos como USA for Africa chegavam até a mim feito furacão.
Acompanhava as transformações de Madonna “religiosamente”, a cada novo look, a cada nova fotografia, eu procurava saber, Who’s that girl??
Quando vi, havia criado um dos primeiros fã clubes da cantora no Brasil, fazia amigos, reuniões na gravadora, participava de programas de TV, organizava encontros de fãs… havia encontrado um sentido, um caminho e a certeza que um dia gostaria de trabalhar com entretenimento, servir ao showbizz, criar um elo entre ídolos e fãs.
Madonna me deu a mão, quando aprendi a falar inglês traduzindo suas canções, quando descobri que era normal ser diferente dos meus colegas da escola e meus primos. Me deu a mão ao me mostrar que eu poderia lutar pelos meus objetivos e não aceitar o “não” como resposta definitiva e a querer ser independente, fazer o meu caminho.
Me deu a mão ao me salvar de uma vida medíocre e comum, ao me fazer sonhar e viajar pelas páginas das revistas de moda e fotografia internacionais, a reconhecer os grandes fotógrafos e ícones da moda, a entender a mídia, o jogo de polêmica e provocação. Aprendi o que nenhuma faculdade me ensinaria.
Madonna me “deu” o primeiro emprego quando fui dar uma entrevista na TV Rio em um de seus aniversários para falar sobre ela e ao final, fui contratado.
Me ajudou a escolher o curso de comunicação e publicidade e me abriu as portas do entretenimento nacional quando fui trabalhar como relações públicas do musical O Perfume de Madonna, estrelado pela atriz Regina Restelli, a “Madonna Brasileira”.
Há 30 anos eu juntava o dinheiro do “lanche” da escola para comprar revistas, livros, posters, vídeos e estudá-la como um cientista em busca de isolar um vírus e descobrir o mistério de sua natureza.
Quando pude comprar dólares, tickets e ir “a campo”, viajei para a assistir seus concertos, comungar em sua “igreja” e me reconhecer no meio de seus fãs, a irmandade Ciccone.
Vejo isso como uma espécie de peregrinação para agradecer “in loco” diante do “altar” da Nossa Senhora do Pop pelo milagre e as graças alcançadas.
Madonna me revelou, descortinou, me instruiu o olhar.
A partir do meu primeiro trabalho profissional, o musical O Perfume de Madonna (1992), passei a trabalhar na indústria de espetáculos, a comunicar na mídia o trabalho de artistas, cantores, bandas, atores e todo tipo de assunto ligado ao entretenimento. Tive a oportunidade de trabalhar com as maiores estrelas e astros do Brasil e do mundo. E o melhor de tudo, eu pude conviver com seus fãs.
Tudo culpa da Madonna!
Em 2008, fomos os responsáveis pela comunicação dos shows de Madonna da turnê Stick and Sweet no Brasil. Talvez aquele tenha sido meu maior desafio profissional e aprendizado. Foi difícil deixar o profissional engolir o admirador de anos, mas consegui.
Dreams come true! Madonna me deu a mão…
O dia 16 de setembro se abriu na agenda. Estava em Nova Iorque acompanhando os shows da Ana Carolina. Tínhamos uma noite off e assistir Madonna no Madison Square Garden me pareceu necessário.
Eu estava ansioso, raramente bebo, tomei um gim e uma cerveja para baixar a bola. Aquele seria o show de número 23 que eu assistia dela e desta vez havia tomado o cuidado de não deixar a internet me invadir com fotos e vídeos da recém inaugurada turnê Rebel Heart. Preferi ser surpreendido.
Obviamente estava curioso, mas não queria medir coisas, buscar defeitos, tentar entender mensagens, deixei rolar.
Zelando pela boa relação profissional, antes mesmo do show, adverti a Ana Carolina que a partir daquele momento eu poderia me comportar como um de seus fãs mais ardorosos. Ela pareceu estar preparada.
Estava feliz e ansioso.
De repente, surge Liz Rosemberg e se Madonna é meu ídolo, Liz foi e sempre será minha professora à distância. É simplesmente quem, por 30 anos, cuidou da comunicação de Madonna. E imagine que eu seja uma espécie de doutor, MBA, PHD do curso à distância que ela nem sabe o quanto me ensinou. Tenho guardada uma coleção de mais de 400 capas de revistas, entrevistas em que Liz esteve por trás e fez acontecer. Esse ano a “Validator” se aposentou e não esperava encontrá-la.
Lembramos de quando nos encontramos em Cardiff, País de Gales, em 2008, e ela estava com suas famosas anteninhas na cabeça. Desta vez, ao invés de uma foto, ela me deu um forte e carinhoso abraço. Achei auspicioso!!
A Luz apagou, e gritei: “_Pirannnnnnhaaaaa!”. Não gosto dessa coisa de Bicth e nem Queen ou coisa parecida, é mais forte que eu, quando vejo já estou chamando essa senhora de família assim. Piranha, para mim, vai além da tradução literal, do peixe devorador de carne ou das mulheres devoradoras de homens. Piranha é o conjunto da obra e resume o fato de que essa pequena mulher engoliu o planeta.
A luz apagou! Lá vem ela pendurada numa gaiola, nos telões aparece enjaulada vestida como na noite em que cantou no Oscar e que foi acompanhada por Michael Jackson.
A partir daí, não me perguntem ordem de nada, o que cada cena quer dizer, dessa vez eu desliguei, relaxei e deixei rolar. Me concentrei na fofa, onde ia, eu olhava, de vez em quando batia o olho num bailarino, nos vídeos e na parafernália, mas queria ver como andava, dançava e cantava a quase SEXagenária.
Eis que em dado momento, cantando o hino “Like a Virgin”, ela vem “dançandinho” em nossa direção, pela primeira vez no show. Gritei do fundo da alma um “_I love you!”. Ela veio, veio, me tascou um olhar de cumplicidade de partner de dança, me deu a mão, bateu cabelão e mais uma vez fez folia no meu pobre coração.
Madonna tem a manha. Na Confessions tour, ela cantou por um minuto olho no meu olho numa distancia de 1 metro sentadinha cantando “Drowned world” e eu ali só agradecendo, fazendo namastê, quase em oração.
No show MDNA, ela pôs o microfone na minha boca e eu gritei: “_Te amo, você mudou a minha vida!” – tá registrado no DVD do show, em “Like a Prayer”.
Mas essa do tapinha na mão, em NYC, foi celestial! Senti um choquinho. (Risos)
Vejam o vídeo completo, em dois angulos diferentes para que sintam o “clima”:
No final do show cantando “Holiday” ela volta ao meu lado, tira a cartola, me dá uma encarada, dá uma abaixadinha e faz uma carinha fofa… #ADORO
Final feliz. Estava feliz em revê-la em NYC, inteiraça, batendo um bolão aos 57 anos. Feliz em saber que o crédito no “Banco dos Sonhos” ainda está disponível e que Madonna ainda é, e sempre será, minha maior inspiração.
Midiorama é cria da força e obra de Madonna.
Se você tem uma história para contar sobre seu ídolo, se quer nos falar sobre algum show, escrever sobre lançamentos, etc. Fique à vontade, Midiorama é o seu lugar!
Por Horácio Brandão
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