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No Coração de Madonna, em Cingapura


Quando desembarquei no sábado à noite no Aeroporto de Changi em Cingapura, ainda não tinha ideia da experiência que iria viver no dia seguinte, quando eu finalmente embarcasse em uma das mais loucas viagens da minha vida.

Tudo começou em dezembro do ano passado (2015), quando vi no meu Instagram a foto do cartaz da Rebel Heart Tour, a nova turnê da rainha do pop, Madonna, brilhando na minha timeline. Te confesso de antemão que, mesmo gostando muito do trabalho dela como entertainer, eu não sou um daqueles super fãs da cantora, daqueles que compram todos os discos e cantam todas as musicas. Mas, depois de ter perdido a chance de ver Michael Jackson em 2009 após já ter comprado o ticket para o seu show This is it e ser notificado bombasticamente de que o Rei havia morrido dias antes da turnê começar, eu certamente não poderia dar mole dessa vez e perder a chance de contemplar ao vivo a outra coroa da realeza POP, a Rainha Madonna.

Assim como Michael Jackson, Elvis Presley e James Brown, Madonna é uma estrela única, que desce na terra de tempos em tempos e que não deve ser de maneira nenhuma desperdiçada. Quem viu Elvis, Michael e o mister J.Brown, viu! Quem não viu, perdeu! Então, já que infelizmente eu não tive a chance de assistir ao vivo alguns desses ícones da música, eu certamente não queria perder de assistir Madonna. Ela é um dos poucos ícones pop dos anos 80 ainda em atividade. Era agora ou agora!

Depois de conversar com alguns amigos, e receber diversos conselhos de qual cidade deveria assistir o show, e também discutir sobre qual assento teria a melhor visão do espetáculo, eu sabiamente fiz as minhas escolhas:
Cingapura, 28 de Fevereiro de 2016, no Coração de Madonna! 

Escolhi Cingapura, pois além de ser uma cidade deslumbrante, ainda seria muito conveniente pra mim, por ser o país mais próximo da Indonésia (Sudeste Asiático) onde eu estou trabalhando no momento. Já o “Coração de Madonna“, foi o meu assento! (Risos) Calma, já explico!

O meu ticket custou $1.288,00 (Cingapura dólares), aproximadamente R$ 3.660,00 reais. É claro que quando pensamos sobre o preço de um simples ingresso de show, esse valor seria um tanto quanto absurdo, até mesmo pra quem recebe em dólares, como eu. Mas se analisarmos que eu não estaria pagando somente pra assistir a um show mas sim, pra olhar nos olhos, tocar nas mãos, sentir o calor do suor e os batimentos cardíacos de uma das artistas mais incríveis que o nosso mundo já viu, esse valor se torna bem mais compensador. Afinal, quanto você pagaria pra ter Madonna dançando e cantando por duas horas na sua frente??

O palco da Rebel Heart Tour tem uma passarela de uns vinte metros de comprimento que serve como uma extensão do palco. Essa passarela termina com um lindo coração, que é usado como um segundo palco. É uma mega área VIP, que abriga apenas uma minoria sortuda do público e é ali que a rainha e sua corte passam grande parte do show. Para quem já assistiu o espetáculo, sabe que sentar-se nessa área é um privilégio pra poucos. Agradeço a sugestão ao amigo Horácio que também já viveu essa experiência única.

Madonna é uma estrela rara, admirada até pelas outras estrelas da sua constelação. E um ícone desse tem que ser visto de perto. Então eu fui para o centro do show, para o meio do coração, o coração do show, o “Coração de Madonna“!

Domingo, 28 de fevereiro de 2016. Passei o dia batendo cabeça no hotel, ansioso pra ficar cara a cara com a estrela e muito curioso pra saber como Madonna e sua gangue iriam resolver todas as restrições religiosas e culturais que o governo de Cingapura havia imposta para a performance da rainha.  Já sabia que “Holy Water”, um dos números mais legais do show, havia sido vetado por ser considerado ofensa às religiosidades do país. Hum, achei uma tremenda besteira, mas vamos lá, pensamento positivo!

Resolvi chegar cedo, não queria perder nenhum detalhe do evento por causa de correria. Pisei no Sport Hub (Singapore National Stadium) às 18:15hrs (horário local). O show estava programado para às 20h, então tive bastante tempo para me divertir por lá antes do show começar. Primeiramente, foi muito legal encontrar os fãs asiáticos nas filas: era uma euforia extremamente comportada, sem gritos e sem bagunça. Essa foi a primeira vez que fui assistir a um show de Madonna, então confesso que fiquei bastante surpreso com os figurinos que encontrei. (Risos!)

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Mesmo Cingapura sendo um país asiático, ele carrega uma influência internacional muito grande. O povo local consome com fervor os produtos da música ocidental. Então, assim como no ocidente, a rainha do pop também é uma das grandes inspirações comportamentais para o público “prafrentex” e GLS daqui. Era muito brilho, cores, botas longas e shorts curtos. Cruzei com um garoto chinezinho saltitante na fila que, com toda certeza, vestia o menor shorts do estádio. E na parte de trás estava escrito “Hard Candy”! rsrs…

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Eram selfies pra lá e pra cá. Os “Xinguilingues” já gostam de fotografias, agora imaginem num evento como esse… Flash, flash, flash!! O bacana foi ver famílias inteiras participando da festa. Aqui na Ásia, especialmente no Domingo, é dia de família, mas num show da Madonna!? E porque não!? Então foram todos para o estádio!

Quando finalmente entrei, fiquei impressionado com a beleza e organização do lugar. Outra coisa que me deixou de queixo caído foi a grandeza da logística que uma turnê dessas é capaz de suportar: o palco é gigantesco e a qualidade acústica é impressionante. É tanta iluminação que foi difícil imaginar como eles conseguem viajar com todo aquele equipamento de um país para o outro em curtos espaços de tempo e ainda colocar tudo girando de novo em apenas 2 ou 3 dias. É de pirar!

Depois de ficar uns dez minutos babando ao ver o palco e a enorme cortina vermelha com a foto da diva que cobria a boca de cena, fui logo procurar o meu lugarzinho no coração da rainha! PD1, esse era o meu setor. Ao ver a proximidade do meu assento com palco já fiquei feliz, mas depois que o show começou, fiquei ainda mais alucinado e agradecido por ter conseguido esse lugar.

As luzes de repente se apagam, a cortina cai e os telões explodem em efeitos e luzes. O que se viu primeiro, foi a corte de bailarinos vestidos somente com a metade do figurino de “Samurais” desenhados para “Iconic”, a música de abertura do show. Estupidamente, algumas peças do figurino e todos os props (adereços) que continham qualquer figura religiosa como cruzes haviam sido vetados. Foi meio decepcionante começar o show já desfalcado, mas aí ela desceu e tudo mudou!

Presa dentro de uma espécie de jaula, Madonna foi descendo do céu para o centro do palco principal, os “Xinguilingues” que até então não haviam se manifestado começam a gritar e pular. Alguns fãs mais fervorosos esquecem seus assentos, levantam-se e correm em direção à barra frontal de proteção do palco pra se aproximar da diva. Naquele momento eu não tive dúvida, a mulher é punk!

Segura, precisa e com um singelo olhar de realeza, ela segurou o público na palma de sua mão desde o primeiro minuto. O show foi acontecendo e cada vez mais as pessoas foram quebrando aquela frieza asiática e se entregando ao calor da estrela de Madonna. Eu ainda estava meio paralisado com tanta informação ao mesmo tempo, até que ao som de “Deeper And Deeper”, ela caminha com toda a trupe pela primeira vez do palco principal em direção ao coração, onde eu estava. Meus olhos arregalaram ainda mais e eu não sabia pra onde olhar. Era um misto de felicidade e curiosidade ao mesmo tempo. Nesse momento, acabei me desprendendo do show e fiquei somente observando ela, suas pernas, sua boca, suas mãos e sua bunda. Eu queria conhecê-la de verdade, ver os detalhes, ver a pessoa, a mulher por trás da Madonna. Não sei porque, mas na maioria do tempo eu não conseguia ver a artista, a lenda pop que todos nós conhecemos, mas sim uma mulher, linda, sensual, alegre, segura e desprotegida no meio daquele furacão. E foi com essa sensação de proximidade que minha intimidade com ela foi crescendo durante a apresentação. Até que um ápice aconteceu quando Madonna sozinha, em cima do seu coração, cantou “Crazy for You”. O ambiente se acalmou, as luzes baixaram e os flash-lights dos celulares se encarregaram de selar o clima de conto de fadas. Ela saiu devagarinho do seu spot e caminhou lentamente na minha direção. A letra da música dizia:

“…I see you through the smokey air.
(Vejo você através do ar esfumaçado)
Can’t you feel the weight of my stare
(Você não percebe o peso do meu olhar)
You’re so close but still a world away
(Você está tão perto mas ainda há um mundo de distância)
I’m dying to say, is that I’m crazy for you…”.
(Eu estou morrendo pra dizer que eu sou louca por você)


Ela se agachou e pela primeira vez os nossos olhares se cruzaram. Ela me viu, olhou dentro dos meus olhos e abriu um singelo sorriso. Parece loucura, mas a sensação era de que ela estava cantando aquilo tudo pra mim! Eu já não via mais a artista, mas uma mulher, que incrivelmente me seduzia. Esquece o show, eu só queria mesmo era envolvê-la em meus braços e beija-la como num filme de romance, bem alí, no centro do seu coração, rodeado por outras milhares de pessoas apaixonadas.


Infelizmente, depois de alguns eternos segundos, a realidade acabou desbancado o sonho. Ela se levantou e me deixou… ali, no seu coração, sozinho. O show tem que continuar!

Foi bonito ver o espetáculo, ela realmente tem uma super produção. Embora, na minha opinião, nesse show as coreografias deixaram um pouco a desejar comparadas com as últimas turnês, pareciam ao meu ver descomplicadas demais, para não dizer simples. Mesmo assim, eu destaco o elenco de bailarinos que talvez seja um dos mais capacitados até agora. Quando a dança era freestyle (sem coreografia marcada) os caras detonavam muito mais! Dois “thumbs-up” para Aya Sato e Bambi, a dupla de japonesas especialistas em Voguing (estilo de dança). Realmente só as duas, já fazem valer o ingresso!

Outro ponto bacana foi ver a Madonna conversando com o público sobre as proibições do seu show no país. Foi engraçado ouvir ela dizer que já não aquentava mais continuar o show sem falar um palavrão.

“Is that ok if I use the letters F, U, C, K around here?” (Tudo bem se eu usar as letras F, U, C, K por aqui?)

O público concordou “Yeeeees!!!”, e ela dispara “Thank you Motherfuckers!!”. Essa é melhor não traduzir! (risos)

Madonna agradeceu ao seu público que lhe acompanha por três décadas e, aproveitando o clima familiar do evento, dedicou uma de suas canções para os filhos. Ela disse que infelizmente os seus dois casamentos acabaram não dando certo, mas que graças aos filhos ela nunca mais se sentiu sozinha. Foi bonito e natural, sem forçar nada. Ela deixou que a mãe dentro dela aparecesse para nós. Madonna também desabafou sobre o longo caminho que fez até chegar ao topo do sucesso.

“It was 32 years to get to the top!”. Demonstrando uma certa emoção, ela se humanizou.

Depois que o show acabou, refletindo a caminho do hotel, eu percebi que exatamente pela proximidade que busquei da artista, acabei não à encontrando. Quando cheguei perto não consegui ver a Madonna, a popstar que eu e aquelas outras dezenas de milhares de pessoas fomos assistir, mas sim uma mulher, madura, segura, simples e feliz. Quando olhei nos olhos dela vi os seus sonhos, suas alegrias e até algumas cicatrizes. Talvez na noite de segunda-feira (29), Madonna não tenha se apresentado como Madonna, mas sim como Louise Ciccone, a menina que saiu de Michigan (EUA) para conquistar o mundo inteiro com o seu coração.

Pra mim, essa experiência foi muito além da música, das coreografias e das luzes. Rebel Heart realmente me transportou pra dentro de um coração. Um coração de verdade, cheio de sentimentos, de vida e de histórias. Onde eu pude conhecer um pouco mais de alguém como eu, como você, cheio de sonhos, derrotas e vitórias. Foi muito bom fazer parte dessa viagem ao centro coração de alguém, o centro do coração de Madonna.

Por Sidnei Santucci

Sidnei é ator, streetdancer, coreógrafo e fitness star, brasileiro radicado na Indonésia
Todas as imagens (fotos e vídeos) deste post são exclusivas feitas pelo Sidnei durante o show.


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