E se você tivesse um raro espaço de tempo pra conhecer seu ídolo e fazer uma única pergunta, qual seria? Foi pensando nas inúmeras possibilidades que meu pensamento foi interrompido, naquela noite de 23 de janeiro de 2008, em Brasília, quando Alanis entrou numa sala reservada no backstage onde se apresentaria no estádio Nilson Nelson e seu empresário disse apontando para uma amiga e eu:
“Eles são os presidentes do seu fãn clube brasileiro”. O cabelo desgrenhado encobria o rosto, mas com um sorriso único ela se dirigiu a nós já mandando um “Que incrível! Como vocês estão?”.
O momento só se tornou possível depois de uma longa negociação entre a Midiorama e a produção de Alanis, que preferia dar a chance à fãns aleatórios por meio de uma promoção de rádio que não ocorreu. A decisão daria início a uma espécie de “efeito borboleta”, aquela teoria que diz que o bater de asas de uma simples borboleta poderia provocar um tufão do outro lado do mundo.
“Que pergunta eu vou fazer?”, pensei, pela última vez, antes de rebater com “Estou ótimo! Esperei por esse encontro durante 12 anos”. Antes da pose pra foto, ela lançou uma de suas respostas diplomáticas da manga: “Que legal, pois hoje está sendo uma noite incrível!”.
Quando a cantora já se despedia da gente, aproveitei o momento para pedir uma “regalia” que não foi concedida aos outros participantes do encontro: “Posso fazer só 1 pergunta?”.
E dentre as tantas opções, resolvi mencionar a canção que foi fruto do primeiro encontro de Alanis com o produtor Glen Ballard: “The Bottom Line”. Reza a lenda que essa “demo” foi composta em 20 minutos e parte da sua letra foi reaproveitada no hit “All I Really Want” para o álbum “Jagged Little Pill” que catapultou a canadense para o sucesso mundial em 1995. Como não querer conhecer a canção “perdida”? Oficialmente, os fãns conheceram apenas um trecho de menos de 30 segundos e, por mais de 20 anos, tiveram que se contentar com um refrão cantado à
capela num talk show anos atrás.
“Existe alguma chance de você lançar ‘The Bottom Line’? Talvez… algum dia?”, foi ouvindo essa pergunta com o dedo no queixo e olhar distante, como quem tenta resgatar o assunto na memória que Alanis cravou: “Agora que você pediu, vou lançá-la”. Resposta pronta, claro. A convicção de que o assunto só ficou mais importante dias mais tarde veio em São Paulo, uma semana depois. O encontro em Brasília e a menção à “The Bottom Line” virou um “meme” nas redes sociais da época que discutiam sobre Alanis. Na capital paulista, os fãns voltaram a mencionar o assunto e ela disse “Já é a segunda pessoa que fala a respeito disso, vou pensar no assunto com mais calma”. Pensou tanto, que a cantora declarou à revista Caras, na semana em que foi capa que “os fãns brasileiros são incríveis, as vezes até se lembram de músicas que nem eu mesma me lembro”, brincou.
E a pergunta não se calou até a turnê chegar em Buenos Aires, no mesmo ano de 2009, quando tocaram novamente no assunto. Recado dado e mais de 6 anos depois, podemos conhecer como tudo começou….
E você, pensou na pergunta? Pois eu mal posso esperar para o próximo pedido…
Ouça o álbum completo, incluindo “The Bottom Line”, no Sound Cloud.
Por Raphael Valente