Na última quinta-feira (14), Jane Fonda e Lily Tomlin, atrizes de “Grace & Frankie”, série da Netflix, anunciaram que não colocariam os pés na Carolina do Norte, estado no sudeste dos Estados Unidos. “Estamos totalmente furiosas”, afirmou Tomlin, enquanto Fonda acrescentou: “Nós não vamos para lá.”
Ringo Starr, ex-baterista dos Beatles, chegou a cancelar um show que faria por lá.
“Lamento decepcionar meus fãs na região, mas precisamos assumir uma posição frente a este ódio. Propaguem a paz e o amor”, escreveu o artista em seu Facebook.
Posição similar teve Bruce Springsteen: o músico também cancelou a apresentação que faria na Carolina do Norte, assim como fizeram Bryan Adams e Sharon Stone no Mississipi.
Mas por que essas celebridades estão boicotando esses estados?
Por conta de leis anti-LGBTs aprovadas recentemente pelos governos locais.
Carolina do Norte
Em março passado, o governador da Carolina do Norte, o republicano Pat McCrory, promulgou a HB (House Bill) 2, uma legislação que tem sido chamada de “lei do banheiro”, a qual tira o poder dos municípios do estado de criar medidas de proteção às pessoas LGBT e obriga o uso dos banheiros de acordo com o gênero atribuído no nascimento, e não conforme sua identidade de gênero, uma discriminação contra as pessoas trans.
Curiosamente (ou não), a medida passou no Legislativo estadual um mês após uma portaria ser aprovada em Charlotte, cidade mais populosa da Carolina do Norte, e que exigia que escolas e empresas proibissem a discriminação contra pessoas LGBT.
A nova lei do estado, então, recebeu diversos protestos. Ativistas, celebridades e empresas como a PayPal têm se manifestado contra a legislação, pedindo que o governador a revogue. McCrory, contudo, apenas “afrouxou” um pouco a lei nesta semana: o setor privado pode fazer suas próprias regras para o uso do banheiro. Entretanto, prédios públicos e escolas permanecem sob a mesma legislação.
Recentemente, o governador do estado de Nova York, Andrew Cuomo, também se opôs à lei, assinando uma ordem executiva que proíbe viagens oficiais que não forem essenciais para a Carolina do Norte.
“Em Nova York, acreditamos que todas as pessoas, independente de sua identidade de gênero ou orientação sexual, merecem os mesmos direitos e proteção sob a lei”, escreveu Cuomo.
O governador de Connecticut, Dannel P. Malloy, também assinou uma ordem executiva que proíbe viagens pagas pelo estado à Carolina do Norte.
“Quando vemos discriminação e injustiça, precisamos agir”, escreveu.
De acordo com o Salon, 120 empresas pediram um boicote ao estado. Entre elas, Apple, Microsoft e a American Airlines.
Mississipi
Já o Mississipi aprovou uma lei similar àquela da Carolina do Norte no começo de abril. No estado que fica ao sul dos Estados Unidos, a nova legislação, a HB 1523, permite a funcionários de empresas públicas e privadas que neguem atendimento a pessoas LGBT com base em suas crenças religiosas.
O casamento entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo, aprovado pela Suprema Corte dos Estados Unidos em junho do ano passado, pode ser negado a um casal de gays ou lésbicas, caso o funcionário acredite que o casamento só é válido entre um homem e uma mulher. Além disso, a lei afirma que os gêneros são determinados no nascimento. Segundo o governador do estado, o republicano Phil Bryant, a medida foi feita para proteger pessoas com “crenças religiosas e morais convictas”
Enquanto isso, ativistas, celebridades e empresas têm se manifestado contra a legislação, tendo alguns optado pelo boicote. Nesta semana, Sharon Stone se recusou a gravar um filme sobre cyberbullying no Mississipi, enquanto o músico Bryan Adams cancelou um show que faria no estado.
“Não posso ficar com a consciência tranquila me apresentando em um Estado onde certas pessoas estão tendo seus direitos civis negados devido à sua orientação sexual”, escreveu o artista em seu site.
Segundo o jornal The New York Times, empresas como a Tyson Foods, MGM Resorts International, Nissan e Toyota já se manifestaram contra a lei aprovada no Mississipi.
E assim como ocorre com a Carolina no Norte, alguns estados também anunciaram que viagens oficiais ao Mississipi serão cortadas. Vermont, Washington e Nova York barraram viagens de funcionários que sejam financiadas ou patrocinadas pelos governos estaduais.
Quem irá se apresentar nos estados
Ao mesmo tempo, alguns artistas que têm shows marcados na Carolina do Norte confirmaram que irão se apresentar no estado, como é o caso da banda Against Me!, liderada pela cantora transexual Laura Jane Grace.
Ela contou ao Buzzfeed News que usará sua performance para fazer um protesto contra a lei anti-LGBT.
“Eu vou falar sobre direitos de pessoas trans no palco, definitivamente”, afirmou a artista que tem uma apresentação marcada para o dia 15 de maio.
O grupo Mumford & Sons, que se apresentou em Charlotte na quinta-quinta (14), explicou o motivo da decisão no Facebook, afirmando que a banda é contra a intolerância e que um fundo de caridade foi criado para “apoiar aqueles cuja missão é de ir atrás do amor e da justiça.” A banda garantiu, também, que doariam o lucro do show para esse novo fundo e que ele iria para uma organização LGBT local.
Cyndi Lauper, adorada pela comunidade LGBT, confirmou que seguirá firme com seu show na Carolina do Norte, no dia 4 de junho, porém, irá transformá-lo em uma iniciativa para criar apoio público contra a lei discriminatória do estado.
“Doarei todo o lucro do show para uma instituição que apoia LGBTs, para que a HB 2 seja revogada. Se nós quisermos, de verdade, uma sociedade inclusiva, todos precisamos nos esforçar para fazer isso acontecer.”
Geórgia
Também neste ano, o Legislativo do estado da Geórgia, aprovou uma lei que abria espaço para discriminação de LGBTs. A HB 757 foi muito criticada, especialmente pela indústria cinematográfica, a qual grava muitos filmes e seriados por lá, por conta do clima e dos incentivos fiscais. O governador, Nathan Deal, após ouvir os protestos, vetou a legislação.
Embora, os direitos da população LGBTs estejam ameaçados em alguns estados e países, os esforços de ativistas, celebridades e empresas têm mostrado que, em pleno século 21, a homofobia e a transfobia não serão mais tolerados. Não é só uma questão econômica, mas de direitos humanos, os quais não podem – e não deveriam – ser negados a ninguém.
E é bom que políticos e religiosos abram os olhos. O progresso não será interrompido.
Por Artur Francischi do Prosa Livre