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Resenha: “Acrimônia”, filme com Taraji P. Henson, tenta fugir do clichê


Um drama perdido na loucura

Quando autores de uma obra, seja literária ou cinematográfica, procuram produzir algo que possa marcar as pessoas, certamente o que eles tendem a evitar são os clichês. Muitos afirmam que tornam as tramas mais pobres e previsíveis, deixando o resultado aquém do esperado. Porém, o que são os clichês se não boas ideias que foram repetidas mais vezes do que deveriam sendo facilmente reconhecidas?
“Acrimônia” é uma clara utilização destes artifícios, para prender a atenção do espectador, juntamente com uma tentativa de tornar a história cada vez mais curiosa para quem assiste, principalmente por apresentar explicitamente o ponto de vista da protagonista. O que esvazia este esforço é o seu final estranhamente fraco.
O plot do filme é bastante simples: Melinda, esposa que investiu tempo, dinheiro e “os melhores anos de sua vida” (olha aí um clichê!) num marido que a explorou, num claro relacionamento abusivo. Após o divórcio, ela descobre que o ex ficou rico e noivo de um caso antigo, levando a protagonista ao desejo louco de vingança.
Esta simplicidade não seria exatamente um ponto fraco para um filme, mas coloca sobre a realização uma enorme pressão, pois é na levada que a diferença poderia ser feita entre uma boa obra simples e um fracasso. A execução de Acrimônia ficou pelo meio do caminho. Ele possui elementos bons o suficiente para que fiquemos no mínimo curiosos com o desenrolar da trama, dando até uma sensação daquilo que chamamos de “guilty pleasure”. Muitos de nós amamos uma boa história sobre vingança.
O fato de somente vermos o ponto de vista de Melinda, colabora para este efeito, já que em nenhum momento, o marido preguiçoso e explorador, parece ter seu momento de justificativa ou redenção. A atuação de Taraji P. Henson é bastante competente, demonstrando o talento da atriz, mas que diversas vezes parece perder um pouco o tom devido ao desejo da direção de colocar mais sentimentos exacerbados quando deveria primar pela sutileza. Outro destaque positivo é a trilha sonora permeada de músicas da incrível Nina Simone.
Porém, nem mesmo a poderosa voz de Simone foi capaz de salvar o resultado final. O que poderia ser um interessante estudo de personagem ou análise de sentimentos humanos tão comuns, revela-se uma enxurrada de talento de Taraji desperdiçado. Principalmente pelo fim digno de novela mexicana transmitida pelo SBT. Com absoluta certeza, o diretor e roteirista Tyler Perry deve um pedido de desculpa digno a atriz.

Por Guilherme Lourenço


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