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Resenha: ‘Alegria Alegria’ de Zelia Duncan reflete a brasilidade de uma forma performática


Peço a todos com licença, para dissertar com os olhos do coração. Minha vestimenta hoje é de fã que se mistura com a estampa de uma brasileira orgulhosa, pois não acredito por ora que tenha melhor ótica para ver o incrível – e já começo cedo os elogios – do ensaio, o último, antes da estreia de Alegria! Alegria! sob direção de Moacyr Goes, no Teatro Santander em São Paulo.
Didatismo certamente não é característico no espetáculo, que não tem um sentido necessariamente cronológico ou de fatos, mas de provocar, de emocionar, de divertir, de instigar uma criticidade que muitas vezes fica na gaveta.
Conduzido pela protagonista Zelia Duncan, a força e poeticidade casa-se por completo. Cantora e compositora, falamos de uma artista, que assim como o espetáculo vai além do proposto. Há muito tempo o palco merecia tê-la em um projeto nesse formato e dessa magnitude .Personificação inquestionável quando se trata de interpretação, Zelia deixa claro em seus shows sua vertente em atuar, que se confirmou em Totatiando (2013) dirigido por Regina Braga.
O espetáculo que tem como narrativa homenagear os 50 anos da Tropicália, mas muito além disso colocar as cartas sobre a mesa, com intenção de um xeque-mate, sobre uma realidade que foi cantada por Caetano, Gil, Nara Leão, Chico Buarque, Luiz Gonzaga, Vicente Celestino, dentre outros e se projeta na realidade do nosso país que insiste em dar marcha ré.
O grito é claro, os figurinos de Fabio Namatame, é uma das marcas mais expressivas, arrisco dizer que tanto quanto a voz e as coreografias, como por exemplo as roupas moldadas com fitinhas do Sr, do Bonfim, marca registrada de quem passa pela Bahia, a Bahia de Caetano. Uma vez que pedimos tanto o respeito pela diversidade, a forma poética como é exposto faz enxergar que as questões impositivas sobre gênero é uma tremenda bobagem, e que ver homens e mulheres cantando e dançando, após uma marcha que marca a truculência da repressão,suas longas saias coloridas ganham o palco com “Soy Loco Por Ti América” (Caetano Veloso) e seria essa, talvez, uma das melhores cenas da noite.
Vale frisar a disposição do cenário que promove um discurso extremamente curioso e performático. As escadas na lateral do palco, que dá acesso a um outro andar, talvez sem uma ligação direta, mas remetendo aos cortiços, a essa camada pobre que mais precisa de voz. Gente que se atreva assumir essas vozes, como ao final do espetáculo, as cortinas da coxia saem e revelam os equipamentos, figurinos, tudo que antes era escondido para que a gente ficasse somente com a parte bonita. É definitivamente a melhor tradução contemporânea do pão e circo.
Quando você é convidado a ver até mesmo Pero Vaz Caminha, “mandando um zap” para o rei de Portugal, entregando espelho pra índio e sabe que isso acontece até os dias atuais, adaptado para o século XXI, tem mais um bando de gente talentosa que também sabe e querendo conversar com você.
Quando você nem se lembra de tirar uma foto, pois estava ocupada, em registrar com os sentidos e a memória. Memória essa, que me faz lembrar que retornarei a ver Alegria! Alegria! Eu vou! Por que não? Por que não?

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A única foto registrada da fã, Viviane Carvalho no espetáculo

Por Viviane Carvalho


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