Existem algumas séries que poderiam ser filmes e vice e versa. “Mentes Sombrias” se encaixa exatamente na categoria de filmes que seriam bem mais desenvolvidos se fossem projetados para séries. O longa é uma adaptação do livro homônimo da norte-americana Alexandra Bracken, e publicado no Brasil este ano. A história se desenvolve quando adolescentes começam a ter, misteriosamente, habilidades poderosas e acabam sendo declarados uma ameaça pelo governo. Ruby (Amandla Stenberg), de dezesseis anos, uma das mais poderosas, escapa de seu acampamento e se junta a um grupo de mais três jovens fugitivos em busca de um refúgio. A partir daí, um laço familiar nasce e a história os leva a uma jornada de descoberta e resistência para retomar o controle de seus futuros.
No livro, a história também é narrada por Ruby (a então protagonista no filme) e é uma distopia que levanta o atual debate sobre os perigos de uma sociedade repressora, onde através das tensões da trajetória de autodescoberta da jovem – que ainda mal entendeu seus poderes paranormais – já precisa lidar com as desconfianças do caminho.
Confira o trailer:
Direção, roteiro e elenco
O filme é dirigido por Jennifer Yuh Nelson de “Kung Fu Panda 2” e “Kung Fu Panda 3”, sendo a primeira mulher a dirigir exclusivamente um longa-metragem de animação de um grande estúdio de Hollywood. Ela já ganhou um Annie Award de Melhor Storyboarding em uma produção de animação por dirigir a abertura para “Kung Fu Panda“ e foi a segunda mulher indicada ao Oscar de Melhor Longa-Metragem Animada por seu trabalho em “Kung Fu Panda 2” – um dos filmes de maior sucesso financeiro dirigido por uma mulher. Com assinatura da autora do livro, o roteiro também fica á cargo de Chad Hodge. Hodge é um produtor americano que criou as séries “Runaway”, “The Playboy Club”, “Wayward Pines” e “Good Behavior”, sendo este seu primeiro trabalho com Yuh.
Já o elenco é de tirar o fôlego. Tudo bem que o foco é para a protagonista, Amandla Stenberg – que está incrível no filme -, mais conhecida por seu papel como Rue, em Jogos Vorazes, também devemos exaltar a performance de Harris Dickinson, como Liam. Dickinson, com certeza, é uma das grandes revelações em blockbusters, de 2018. Com indicações em prêmios como o “Independent Spirit” na categoria de Melhor Ator e “Gotham Independent Film Awards” na categoria de Melhor Ator/Atriz Revelação, todos em 2017, neste ano venceu o prêmio “London Film Critics’ Circle” na categoria de Intérprete britânico. Com certeza, além de Amandla, foi um dos destaques do filme. Temos que destacar também a presença da queridinha dos cinemas, a atriz, cantora e compositora, Amanda Leigh “Mandy” Moore, muito conhecida por seu papel em “Um Amor para Recordar”. Pontos positivos para as performances dos carismáticos Lidya Jewett – que faz a Ruby quando criança, Skylan Brooks – o Chubs, um dos integrantes do quarteto, e Miya Cech – a Zu (Suzume), que mal fala, mas garante a parte “fofa” do filme.
O que achamos de Mentes Sombrias
O longa é pra lá de extravagante ao apresentar a história em cenas com complexidades fotográficas, utilização de cenários e implementações gráficas bem elaboradas. Não traz aquela sensação de estar no filme. Neste caso, afasta o espectador e o apresenta à uma realidade cinematográfica paralela, com composições imagéticas e ângulos bem bonitos que possibilitam uma nova perspectiva da experiência de cinema. Estilo que lembra alguns filmes, em casos específicos, que também utilizaram deste aspecto para a construção das cenas bem produzidas, como, por exemplo, “Homem de Aço” e “Transformers” que, mesmo não tendo um roteiro que supere todo o contexto fotográfico, a utilização de ângulos e composições de imagens traz a motivação para a carga dramática apresentada e garante, pelo menos, um “ok” nestas produções. Em “Mentes Sombrias” esta mesma composição se encaixa no roteiro, mesmo quando ele perde um pouco o contexto, sem dar explicações – o primeiro contra-ponto do projeto.
Em confronto ao estilo de imagem apresentado e que foi bem usado, a trama é básica, o desenrolar da história lento e, às vezes, confusos. Por ser tratar de uma ficção, a explicação da motivação, em alguns casos, é imprescindível – mesmo que com passagens simples e rápidas para contextualizar quem assiste. Neste caso, o roteiro não apresenta estas informações e não tem surpresas ou situações que prendem a atenção do espectador para se conectar, emocionalmente, com as dificuldades dos personagens, mesmo quando percebe-se o esforço da trama para tal. Há picos no filme onde é possível ter uma conexão com o contexto, a ambientação e a motivação emocional com os os personagens, mas esta sensação acaba se confundindo quando a narração vai para outro trajeto.
Mesmo não sendo o tempo todo explicativo, o filme utiliza-se da artimanha da continuação do original, despertando o desejo de “quero mais” ou “quero entender o que está acontecendo “. Exatamente como acontece nas séries. Uma Sci-Fi, com aventura, romance juvenil e drama imagético, leva o público a tentar entender as motivações dos adolescentes, numa realidade completamente diferente, na luta pela sobrevivência por simplesmente não poderem ser que são de fato. Com estreia dia 16 de agosto, é uma história adaptada para as telonas que traduz o sentimento de sobrevivência e aceitação numa sociedade repressora.