Estrelado por Diane Krueger e dirigido por Fatih Akin, que se destacou no ano passado ganhando diversos prêmios, inclusive de melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro, contudo acabou ficando de fora da lista final dos indicados ao Oscar nesta categoria, o longa “Em Pedaços” teve sua estreia hoje, em 15 de março.
Na trama, o turco Nuri Sekerci, após cumprir pena por tráfico de drogas, leva uma vida amorosa e tranquila com a esposa Katja Sekerci e o filho Rocco, na Alemanha. O menino e o pai acabam morrendo de maneira trágica numa explosão criminosa, fruto de um atendado. Após ter sua vida destroçada, Katja vai em busca de justiça e acaba se vendo num dilema entre o que é vingança e o sistema judiciário.
A não indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro acaba não sendo uma grande injustiça se compararmos com a falta de reconhecimento da Academia ao trabalho de Diane Kruger. A entrega da atriz a personagem é comovente, sendo impressionante constatar todas as camadas e diferenças entre a mãe de uma família feliz, dos primeiros minutos de filme, com a mulher totalmente despedaçada que se afunda cada vez mais. Ela apenas encontra um sentido na busca por um misto, interessantíssimo, de justiça e vingança. Não imaginem alguém frio, rancoroso, correndo com uma arma atrás dos algozes da sua família… O roteiro nos brinda com uma visão bem mais realista da protagonista, que precisa percorrer caminhos internos extremamente sombrios e questionáveis, ao mesmo tempo que aponta o dedo para uma Europa xenofóbica, que muitas vezes acaba acusando mais as próprias vítimas do que os responsáveis por crimes hediondos.
O diretor Fatih Akin, que possui ascendência turca, acerta bastante nas escolhas em demonstrar os personagens na sua forma mais crua, sem preocupações desnecessárias com a aparência, revelando o que há de mais humano nos sentimentos negativos. Fato que ecoa nas opções por cenários mais escuros e frios, muitas vezes húmidos e chuvosos, e pela fotografia quase monocromática nos dois primeiros terços de filme. A exceção fica por conta do tribunal, apresentado como um ambiente extremamente bem iluminado, carregado na luz e paredes brancas, demonstrando um ambiente nada acolhedor, bastante asséptico, para demonstrar a frieza de todo aquele ritual e do sistema judiciário alemão.
Fica fácil dizer que “Em Pedaços” é pesado, porém extremamente necessário para um mundo que parece estar novamente se preocupando mais com a imposição de fronteiras, sejam geográficas, sejam raciais e culturais.
Por Guilherme Lourenço para Midiorama