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Rock In Rio 2017: Coexistência harmônica de tribos no penúltimo dia


Misturar tribos e gostos sonoros para provar que música é universal – um clichê saturado, porém sempre necessário

Quase chegando no final de mais uma edição histórica, o penúltimo dia do Rock In Rio 2017 trouxe, como diz o título dessa matéria, uma mistura muito agradável de várias tribos e amantes dos mais distintos gêneros musicais. O resultado foi algo, acima de tudo, memorável.

FRITAÇÃO NO SUNSET

Os colombianos do Bomba Estéreo não são muito conhecidos no mainstream fonográfico brasileiro, mas isso não diminui a força da banda em cima do palco. Comandados vocalmente pela simpática Liliana,  eles subiram ao Sunset para dar continuidade à programação do palco, que começou com uma belíssima homenagem a Gilberto Gil, comandada pelo Cidade Negra.

Não foi difícil do grupo conquistar a empatia do público que, com tons políticos e arranjos eletrônicos pegajosos, persistiu em animar a galera, que se manteve morna por um bom tempo até se soltar de vez e se entregar. Além do mais, o timing dos caras por aqui é excelente, tendo em vista que ritmos latinos (como o reggaeton, uma das vertentes da identidade do Bomba Estéreo) estão super em alta.

E por mais que todo mundo já estivesse pegando a vibe de Liliana e cia., quem ajudou mesmo a incinerar de vez foi a convidada especial, Srta. Karol Conka. Chegando antes do finalzinho, a curitibana dividiu vocais com o Bomba e também teve seu espacinho pra fazer seu som, incluindo a controversa “Lalá”, introduzida por um mini discurso da rapper sobre os tabus retratados na canção.

Bomba Estereo convida Karol Conka - Credito Thiago Lara Estacio
Liliane e Karol Konka no Palco Sunset – Crédito Thiago Lara

Finalizada a apresentação de Karol, deu pra notar uma esvaziada na plateia (nesse momento, os Titãs estavam prestes a iniciar sua apresentação no palco Mundo), mas não impediu que os restantes desanimassem. A ultraenergética “Fiesta” fez jus ao nome e finalizou o set em clima de fritação.

FAZENDO JUS AO NOME

Os Titãs não são nenhuma novidade para nós, mas devemos admitir que um show dos caras nunca é demais, principalmente em níveis grandiosos como num Rock In Rio da vida, por exemplo. Com letras sempre carregadas de referências políticas e sociais da nossa realidade, é quase impossível não se conectar com o som da banda.

Dessa vez, eles não apresentaram nada muito diferente do que estamos acostumados a ver, e o público, por sua vez, também não reagiu de forma muito diferente dos outros shows dos caras: mãos ao alto, galera, entrosada, coros em tom imponente e diálogos limitados para dar mais espaço às músicas, de fato.

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Titãs no palco Mundo – Credito: Vans/Ihateflash

Mas o show não foi só de previsibilidades. Prestes a lançar um novo disco que, segundo Sérgio Britto, terá ares de “ópera-rock”, Sérgio Britto e cia. apresentaram três novas músicas que estarão no projeto: “Me Estuprem”, “A Festa” e “Doze Flores Amarelas”. Essa primeira, aliás, foi a melhor recebida pelo público, por conta de seu tom anti-machista, cru e direto ao ponto.

O BAILE DE CEELO

Nessa altura do campeonato, já passaram muitas atrações por essa edição que mandam muito bem quando o assunto é presença e domínio de palco. Entretanto, vai ser difícil alguém bater o nível de entrosamento apresentado por Cee Lo Green, que provou ter sido um ótimo headliner!

Mesmo sem hits muito evidentes por aqui no Brasil, Green conseguiu se conectar com o público e aquecê-lo numa rapidez louvável. Se já estava fazendo um ótimo trabalho nas (poucas) canções próprias apresentadas, acertou ainda mais trazendo para os shows suas interpretações de hits famosos da cultura negra, como “Don’t Stop ‘Til You Get Enough” e “Boogie Oogie Oogie”. E não podemos passar para o próximo passo sem falar da descontraída performance de “Don’t Cha”, sucesso das Pussycat Dolls – pra quem não sabe, ele compôs e produziu o hit.

E eis que surge IZA para seguir o show junto com Cee Lo. Ovacionada pela plateia, ela deixou as suas ótimas canções já lançadas de lado e fez ótimos duetos com seu anfitrião, incluindo “Earth Song”, precedido de um discurso da carioca em prol da Amazônia. E vale lembrar que nosso cenário musical foi bem representado não apenas pela cantora em ascenção, mas também pelo grupo Quabales – que mais cedo abriu o palco Sunset junto com Margareth Menezes num show bastante eficiente.

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Cee Lo Green e IZA no palco Sunset – Crédito: Rafael PS

Pra conquistar de vez todos os presentes, o cara ainda tinha cartas na manga – e das grandes. Afinal de contas, nessa altura do campeonato, um desfecho com “Fuck You” seria óbvio demais. Na verdade, o show terminou com o saxofonista tocando “Deu Onda” (!), o que levou todo mundo ao delírio. Mais uma péssimo dia para quem acha que o funk não tem lugar num festival como o Rock In Rio.

Depois disso, o que viria é lucro. Um cover de “September” junto com a IZA foi apresentado, e não deixou ninguém parado. E foi assim que Cee Lo Green se despediu da Cidade do Rock, com muita dança, ginga e um fôlego de dar inveja.

ROCKSTARS AUTÊNTICOS

Finalizado o último show do Sunset, um fato curioso: muita gente que estava bastante animada ali, migrou na mesma empolgação para o palco Mundo, onde estava prestes a começar o show do Incubus. O legal foi notar que, apesar de ter trazido atrações com estilos bem diferentes, o dia de hoje proporcionou uma vibe eclética para o festival e comprovou, de forma orgânica, que o Rock In Rio é definitivamente uma festa pra todas as tribos.

Além disso, o penúltimo dia pôde nos proporcionar uma experiência ainda mais sensorial. Prova disso foi o show do The Who, banda lendária que já bate meio século de atividade, e que foi uma das mais bem recebidas quando foi confirmada no setlist.

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The Who no palco Mundo – Crédito: Fernandos Chlaepfer

Após todo mundo dar uma relaxada graças ao show bem intencionado, porém linear, do Incubus, os fãs da banda estiveram prestes a finalmente conferir os britânicos ao vivo. E a experiência começa.

Ao contrário da maioria dos shows, onde esperamos ver pessoas histéricas com pulmões prestes a explodir gritando desesperadamente o nome de seu ídolo, os presentes no The Who prestigiaram os caras do início ao fim de forma mais natural e com a carga sentimental de que esperou, em média, três décadas para finalmente ver um show de sua banda favorita.

E que banda, meus amigos. Os septuagenários integrantes principais deram um show de vitalidade em impressionantes performances onde se gabaram de suas habilidades musicais que seguem intactas mesmo depois de tantos anos. O baterista Zac Starkey, filho de ninguém menos que Ringo Starr, também não fez feio e mostrou sua ótima forma dentro de sua função na banda.

Não foi necessário horas de gritos ensurdecedores e consecutivos para ver que o público da banda estava imerso no show. Em faixas como “Who Are You”, “Generation”, “Behind Blue Eyes” e “Baba O’Riley”, eram nítidas as feições satisfeitas “cara, eu finalmente estou vivendo esse momento”. Um ponto forte do concerto foi, sem dúvidas, a apresentação de “Love Reign” – um momento grandioso, apotético e digno de todos os aplausos que recebeu. E em tempos de overdoses digitais, participar de uma experiência assim é algo pra fazer muita gente repensar os seus conceitos de assistir a um show.

ARMAS NA MESA

E eis que chega finalmente o momento que muitos esperavam! Dessa vez sem atrasar (!), os monstros do Guns N’ Roses chegaram tirando poeira da Cidade do Rock e contagiando a galera de forma inicialmente crescente.

Pouco após as primeiras músicas, Axl Rose interagiu com a galera e pediu desculpas por algumas falhas técnicas – a estrutura, aliás, era digna de elogios por seu design grandioso e backdrops de bom gosto.

Um solo desses, bicho! 🎸 #Slash #GunsNRoses #RockinRio #Midiorama #WelcomeToTheJungle

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“Welcome to the Jungle” foi o ápice, e desde então a sequência foi seguindo com músicas quentes situadas estrategicamente em meio a seleção de quase 30 músicas pra não deixar a galera desanimar: “Live and Let Die”, “Sweet Child O’ Mine” e “Knockin’ On Heaven’s Door” foram trunfos para compensar o show bem extenso.

Definitivamente, o público que chegou cedo e desde então ficou esperando pra ver Axl e cia. certamente não saíram decepcionados. Afinal de contas, por pouco eles revisitaram o marco histórico de sua última passagem pelo Brasil, entregando um show com quase 3 horas de duração e setlist com mais de 25 músicas – incluindo um cover de “Black Hole Sun”, do Soundgarden, numa forma de homenagear Chris Cornell, que morreu no primeiro semestre desse ano.

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Guns N’ Rose no palco Mundo – Crédito: Carolina Moura

Chris não foi o único homenageado. Os caras do The Who também receberam uma menção honrosa de Axl: “Vocês gostaram do The Who? Hell, yeaaah!”. No mais, quem é fã não pôde sair reclamando: dezenas de músicas, os gritos icônicos de Axl, os solos intermináveis do sempre afiado Slash e, acima de tudo, uma pontualidade boa o suficiente pra deixar pra trás aquelas horas de atraso de 2011.

***

Quem olhou o line-up desse dia, certamente se estranhou ao ver tanta coisa “diferente” de uma vez só. Talvez essa tenha sido o real propósito: misturar tribos e gostos sonoros para provar que música é universal – um clichê saturado, porém sempre necessário.

Por João Batista (Maze) para Midiorama

 


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