O Rock In Rio é um dos poucos festivais no Brasil que se esforçam para trazer incríveis atrações internacionais, deixando todo mundo numa expectativa enorme pelo line-up do evento. Ainda assim, há quem dê muito foco pro palco Mundo e acaba se esquecendo que o Sunset também entrega shows tão poderosos quanto os do palco “principal”.
QUEBRANDO TUDO
Certamente você já escutou ou, no mínimo, conhece alguém que tenha te apresentado a banda Baiana System. Nesse segundo caso, a indicação quase sempre vem acompanhada de um comentário relacionado a intensa vibe dos shows, com muita quebração ou uma frase de efeito que dê a entender que a banda te faz dançar do início ao fim.
Acredite! Essa é a mais pura verdade. Ou pelo menos a verdade transparecida no show dos caras no palco Sunset. Sem se basear em um único ritmo, mas misturando muito sempre acompanhados de sintetizadores eletrônicos nervosos e riffs intensos, o espetáculo não deixou ninguém parado.
E se já não estivesse bom o suficiente, a coisa ficou ainda melhor depois que a angolana Titica subiu ao palco. Acompanhada de duas dançarinas de apoio ao maior estilo diva pop, a cantora não decepcionou e entregou uma participação regada à MUITA (em Caps Lock mesmo) dança, batuques e “sarradas”. De reboladas à espacates, Titica fez cover de Raul Seixas junto com seus anfitriões, cantou duas músicas autorais e ainda arranjou uns segundinhos para fazer um discurso a favor da luta LGBTQ – a cantora é um ícone transexual em sua terra natal, onde ganhou o título de “Melhor Artista de Kuduro” em 2011.
O público, por sua vez, adorou. Sem parar de dançar um minuto, com direito a uma mega roda na plateia, ninguém saiu do palco insatisfeito com o “Efeito Baiana System”.
O MELHOR DO BRASIL SÃO OS BRASILEIROS
“Seria bacana se rolasse um forrózinho de leve no Rock In Rio pra dar uma acalmada no pessoal, não é mesmo?” Foi essa a impressão que muita gente (incluindo esse que vos escreve) teve quando O Grande Encontro foi anunciado no line-up do festival. E ao contrário do que todos esses esperavam, o projeto musical de Elba Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo fez o chão tremer com os mais variados estilos da nossa música. Num verdadeiro tributo à nossa pluralidade cultural, mais especificamente à música nordestina, o clima do trio foi contagiante.
Se no pit do palco, os famosos se acabavam de dançar, na plateia a animação não foi deixada pra trás: pulos, coros, mãos ao alto e todos aqueles outros movimentos que dão orgulho a qualquer artista. As vozes e banda já eram satisfatórias por si só, e a produção visual do palco foi um show a parte – backdrops com inspirações regionais e artistas do Grupo Giral de Dança foram a cereja do bolo. Sem contar com a participação incrível da Banda de Epífanos Zé do Estado.
Isso sim é um Grande Encontro! Lindo ver o festival brindando a música brasileira e nordestina 😍✨ #RockinRio #OGrandeEncontro #ElbaRamalho #AlceuValença #GeraldoAzevedo Uma publicação compartilhada por Midiorama (@midiorama) em
O Grande Encontro foi o show que os brasileiros que estavam ali precisavam assistir. Sem apelos sintéticos ou grandes recursos visuais, a única coisa que ficou em evidência foi a nossa música, exposta para o mundo sem filtros ou moldes, singularmente bela como ela é. Emocionante!
BOAS INTENÇÕES
Sem a mesma carga energética dos shows anteriores, Ney Matogrosso subiu pontualmente ao palco para apresentar o show principal da noite, que contou com a participação do grupo Nação Zumbi.
Como headliner do dia, o cantor tinha o compromisso de finalizar a sexta-feira com chave de ouro – principalmente depois de duas apresentações fantásticas. Entretanto, o público que esperava algo apoteótico teve que se contentar com algo morno, mas cheio de boas intenções.
Dois fatos contrastantes: Ney tem uma marcante voz aguda, enquanto Jorge dü Peixe, do Nação, possui uma voz bem mais grave. Se já não bastasse a inusitada mistura, ambos apostaram num repertório marcado por músicas do Secos e Molhados, o que resultou em algo bem, digamos, atípico.
De qualquer forma, Ney manteve a pose e foi até o fim na mesma premissa, com um vocal impecável e um previsível discurso político seguido de um “fora Temer” puxado pela galera. Mas sentimos falta de um Ney Matogrosso mais solto e performático. O show foi, sem dúvidas, histórico e emocionante, porém a presença do Nação Zumbi parece ter impactado na forma com quem Ney se portou no palco, sendo mais contido do que todos esperavam.
Talvez a solução fosse um show só do Nação Zumbi e outro só do mago Ney Matogrosso. Aí sim, seria perfeito!
Mais uma vez, o palco Sunset mostrou que é tão competente quando o palco Mundo. E de forma bem animada e orgânica, a música brasileira ganhou ainda mais destaque nessa edição, mostrando que não precisamos nos basear em formatos radiofônicos importados para ter a nossa autenticidade e personalidade musical. Sem contar que é incrível saber que temos à nossa disposição uma variedade assim pra poder chamar de nossa. Orgulho define!
Por João Batista (Maze) para Midiorama