Após o sucesso da The Joshua Tree Tour, encerrada no Brasil, sem pausas, U2 já tem preparado um novo espetáculo musical: Songs Of Experience.
Sendo explicitamente a continuação de Songs Of Innocence, o novo álbum aborda temas mais maduros sobre experiências mundanas com ideias realistas, políticas e conflituosas, tendo ainda alguns toques otimistas. O clássico e particular rock n’ roll da banda marca presença novamente.
A inspiração surgiu de um conselho dado pelo poeta Irlandês Emeritus Brendan Kennelly ao Bono dizendo “escreva como se você estivesse morto”. De fato, os textos têm uma visão aérea e Bono destaca assuntos mais externos do que internos.
“Love Is All We Have Left”, primeira faixa do álbum é airosa e já prepara nossos ouvidos e corações para o que está por vir, deixando o álbum muito bem introduzido. Seguindo com “Lights Of Home”, a música aparenta negatividade, mas há esperança num plano de fundo, quando Bono canta “Shouldn’t be here ‘cause I should be dead” e “I believe my best days are ahead”. Como no contexto do álbum inteiro, a música passa visões acerca dos acontecimentos do mundo num tom de insatisfação “Oh Jesus if I’m still your friend/ What the hell you got for me”.
Na sequência vem o primeiro single, “You’re The Best Thing About Me”, com certeza a faixa mais pop do álbum e na qual Bono teve como inspiração sua mulher, Ali Hewson, para compor.
“Get Out Of Your Own Way” e “American Soul” são praticamente contínuas. A transição acontece na voz de Kendrick Lamar fazendo um discurso que tem como referência uma das passagens mais conhecidas da Bíblia (Mateus 5:3-11). O resultado foi magnífico.
O álbum toma uma direção política acompanhada de um rock mais forte das faixas, também lembrando o contexto problemático dos Estados Unidos com Trump no poder. “American Soul” tem no seu refrão um trecho de “Volcano”, 6ª faixa de Songs Of Innocence, o que deixa a ligação entre os álbuns mais sensível.
“Summer Of Love” é um pouco diferente da maioria dos trabalhos da banda, bem chill. No fim, surge um trecho inesperado com violino que faz toda a diferença.
A próxima, “Red Flag Day”, faz alusão à crise dos refugiados, episódio em que muitos sírios escaparam do país pelo mar. A expressão que nomeia a música é geralmente usada para se referir a um péssimo dia. “Baby it’s a Red Flag Day/ Baby let’s get in the water/ Taken out by a wave/ Where we’ve never been before”.
Então chega-se ao clímax do álbum com as duas próximas faixas. “The Little Things That Give You Away” é linda e atmosférica protagonizada pelo baixo do Adam e a guitarra do The Edge, que deixa o fim emocionante, com riffs que lembram um pouco “Where The Streets Have No Name”.
“Landlady” é certamente uma das mais magníficas e românticas composições do álbum. Com instrumental calmo, mas intenso, Bono canta para Ali novamente, contando como ela sempre esteve ao seu lado até mesmo antes do U2 “Cos when I was broke, it was you that Always paid the rent.” As duas faixas ficaram estupendas.
Neste momento tem aquele clima “chegando ao fim”. Com mais um single, “The Blackout”, o ponto crítico do álbum é revertido aos poucos com o desenvolver, voltando ao rock enérgico.
“Love Is Bigger Than Anything In Its Way” é uma véspera de desfecho perfeita para o álbum. Depois de falar dos problemas mundanos, Bono mostra uma solução simples para as pessoas: o amor. “Write a world where we can belong/ To each other and sing it like no other”.
Finalizando Songs Of Experience, “13 (There Is A Light)” confirma a relação entre os álbuns, interligando seu refrão ao mesmo da belíssima “Song For Someone” do Songs Of Innocence. Desta vez, porém, Bono dedica a si mesmo “Caus this is a song/ A song for someone/ Someone like me.”
Com este trabalho, U2 colocou em sua bagagem mais peso e experiência de qualidade, como sempre fizeram. Os irlandeses desenvolveram um álbum carregado de fortes composições, com potencial para estar entre as melhores obras da banda.
Com 41 anos de existência, seguem tendo relevância no cenário do rock mundial, ainda criando “hits” de qualidade que agradam gostos musicais diversos. Sabemos que nos dias atuais, é um mérito difícil de ser alcançado pelas bandas e por isso, os caras merecem total reconhecimento, pois, mesmo assim, mantém a essência.
A banda também se envolve bastante com causas sociais tanto em ações externas quanto em seus próprios trabalhos internos, então é esperado que as músicas tenham certo cunho político e social, mesmo que não seja predominante nesta obra em si.
Por fim, Songs Of Experience é um trabalho encantador, bem produzido e harmônico. A continuidade entre as músicas tem elegância e é notável que as composições foram feitas com atenção. Totalmente merecedor de ser escutado.
Por Matheus Lima do On Backstage