A primeira vez que ouvi falar sobre The Internet foi com uma amiga que queria fazer um teste. “Você precisa ouvir essa música, mas só depois vou te mostrar o clipe e a banda”. Ok, eu disse. E ouvimos “Dontcha”, de primeira já me apaixonando pela voz e swing de pessoas que eu ainda não conhecia os rostos.

Na época eu não soube porque ela quis fazer esse teste, e depois de ter visto todos os clipes e ter acompanhado o show da banda nesta quinta-feira dia 02 na Audio em São Paulo, ainda sinto que estou conhecendo The Internet pela primeira vez.

O grupo formado por Syd (vocalista), Matt Martians (produtor), Steve Lacy (vocalista e guitarrista), Patrick Paige II (baixista) e Christopher Smith (baterista) estrearam sua vinda ao Brasil com uma turnê que passou por Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo, com realização da Queremos! e da Heineken.

Misturando gêneros contemporâneos como R&B alternativo, neo-soul, eletrônico e outros, a banda já foi nomeada ao Grammy Awards na categoria de Melhor Álbum Urbano Contemporâneo, e não deixou a desejar para a legião de fãs brasileiros que nas três cidades da turnê lotaram as casas de show.

E QUE SHOW. Acho que finalmente entendi porque a minha amiga quis fazer aquele teste. The Internet é uma banda extremamente peculiar, que vai nos surpreender todas as vezes. E como é bom termos uma variedade musical que abrange diversos gostos, pessoas, sem ter um lado ruim. Você pode não saber o que vem por aí, mas você sabe que vai ser bom.

“Hoje é dia de declarar todo meu amor pra ela”

“Hoje é dia de ouvir sex songs com os amigos”

“Hoje é dia de sofrer gostoso por amor”

“Hoje é dia de suar meu corpo inteiro de tanto dançar”

“Hoje eu canto até ficar sem voz”

Essas foram algumas das muitas respostas diferentes que recebi depois que falei: hoje tem show do The Internet, você vai?

Syd entrou no palco do mesmo jeito que apareceu no clipe em que a vi pela primeira vez. Camiseta branca básica, calça lisa, pega o microfone e dá ao público o que todos estavam pedindo aos gritos. Normalmente é nessas horas que vemos em alguns shows os artistas fazerem suas coreografias gravadas, suas falas roteirizadas, seus movimentos carta na manga para elevar a energia do show, mas Syd não. Com um carisma único, dentro do palco ela mantém sua personalidade levemente tímida, sua voz calma e macia, até mesmo transpassa uma pequena insegurança, e como é bonito ver alguém se manter verdadeiro em situações como essas.

Acredito fielmente que a transparência é uma forte essência da banda. Nas letras, nas melodias, nos músicos, nas suas performances. Não é a toa que por trás do conceito do novo álbum Hive Mind, Syd declarou abertamente que eles tinham uma nova motivação política de servir de inspiração para a comunidade negra. “Depois de compor algumas músicas, percebemos que nós queríamos usar esse álbum para dar o exemplo e promover a camaradagem entre jovens negros. Percebemos que somos a única banda com as nossas características”

Outro ponto muito interessante sobre o novo álbum e que fica muito bem explícito durante o show, é que todos os músicos possuem momentos individuais para brilharem. Ali tínhamos fãs da Syd, do Steve, do Matt, do Chris e do Patrick. E precisamos falar como Steve, de um lado, é super dançante, colorido e explosivo, enquanto Syd é mais intimista, introvertida e calma, e o quanto eles são brilhantes e complementares dividindo os vocais e o palco.

Quando somos verdadeiros assim, também recebemos a verdade em troca. E todos os milhões de sentimentos da enorme legião de fãs dançando, cantando, vibrando com The Internet no show não teve nem 1% de falsidade.

Pra quem não sabe, o nome da banda vem de uma piada. O produtor dos músicos já estava cansado demais de responder a mesma pergunta dos jornalistas: de onde vocês vem?. “From the internet”, ele passou a dizer, e o nome ficou. Irônico, não? Diante de um milhão de fake news na internet, talvez a banda tenha sido uma das poucas coisas fielmente verdadeiras que encontrei por aí recentemente.

Fotos: @roncca

Por Rebeca Dantas