Alerta de spoilers! J.K. Rowling pediu para todos os fãs #KeepTheSecrets (manterem o segredo) depois de assistirem a “Harry Potter and the Cursed Child”, mas a gente sabe que nem todo mundo tem a chance ou pretende assistir a peça em um futuro próximo. A peça está em cartaz em Londres e com os ingressos esgotados até dezembro do ano que vem, então foi pensando nisso que nós vamos #TellTheSecrets.
O Balde de Pipoca assistiu “Harry Potter and the Cursed Child” no começo de agosto e a intenção desse post é desvendar alguns desses mistérios pra quem já leu o roteiro. Muitos detalhes da peça passam despercebidos, o mais impressionante é que tudo realmente te pega de surpresa e o primeiro reflexo é acreditar que tudo é mágica, mas prestando bastante atenção, dá pra reparar em algumas coisas. O livro em português foi lançado hoje pela editora Rocco, mas muitos fãs já leram antes no lançamento em inglês no final de julho.
Logo no começo da peça vemos a gangue toda reunida com seus filhos na estação Kings Cross, a mágica nessa cena está no elenco correndo em direção a parede entre as plataformas 9 e 10. A parede seria onde está a plateia, e o elenco vem correndo em direção a nós e “giram”. Eles trocam de roupa enquanto estão girando (o que se torna mais mágico ainda graças aos efeitos de iluminação) e de repente estão com as vestes de Hogwarts na plataforma 9 3/4. A próxima cena que chama muita atenção no roteiro é a com Albus e Scorpius andando em cima do Expresso de Hogwarts em movimento. Vale comentar que o centro do palco é um círculo enorme que gira, então essa cena toda acontece em cima disso!
O trem é composto por todas as malas (que foram usadas em todas as cenas na plataforma e na chegada em Hogwarts) empilhadas, e possivelmente outra estrutura central mais solida para garantir que nada caia enquanto os atores estão ali em cima, já que o círculo fica girando pra dar a sensação de que o trem está em movimento. A iluminação, novamente, e a sonoplastia dão o tom mágico da cena.
Um pouco depois temos a cena em que Albus, Scorpius e Delphi tomam a poção Polissuco para se transformar em Ron, Harry e Hermione. Todos estão usando uma capa preta então isso disfarça bastante o “tamanho” deles, e no primeiro momento, nem da pra reparar que eles estão em duas pessoas ali. O efeito da poção começa pelos braços, os atores que interpretam Ron, Harry e Hermione colocam os braços pra fora onde antes estavam os de Albus, Scorpius e Delphi, e depois as cabeças trocam de lugar (sai um, entra outro). Como eles se locomovem em dois dentro da roupa é o verdadeiro mistério.
Logo em seguida vemos Albus/Ron, Scorpius/Harry e Delphi/Hermione entrando no Ministério da Magia pela cabine telefônica. É tão impressionante a ponto de você esquecer que está numa peça e achar que aquilo é um filme muito bem editado com vários efeitos especiais gravados com tela verde. Eles realmente “entram” no telefone. O espaço do telefone em largura no palco não deve ter muito mais do que um metro, e não da pra arriscar a dizer o tamanho a abertura no telefone por onde eles passam, mas é pequena a ponto de você não reparar nela em momento algum, nem quando eles estão passando por ela. E o mais impressionante é a velocidade. É provável que tenha mais de uma pessoa ali atrás puxando os atores um por um EM UMA VELOCIDADE IMPRESSIONANTE! Sim, com certeza eles tem ajuda da iluminação nessa parte, mas ainda assim é um dos momentos que deixa a plateia inteira se perguntando como aquilo é possível. Após a peça, na stage door, uma fã perguntou a Jamie Parker (o brilhante ator por trás do Harry) como eles fizeram essa cena. Ele riu e disse que precisava “Keep The Secrets” (manter o segredo).
Na cena em que o novo trio tenta roubar o vira-tempo da sala da Ministra da Magia, temos a biblioteca tentando “engolir” os personagens. A biblioteca é uma escada, como já foi divulgada oficialmente pela página da peça no Facebook. O princípio dos personagens serem “engolidos” pela biblioteca é o mesmo do telefone na entrada do Ministério da Magia. Tem alguém dentro da escada puxando os atores por trás dos livros. Os livros levantam como uma portinha de cachorro, e os atores passam por ali. Algumas cenas depois, temos a primeira viagem no tempo da peça. Mais uma vez, o crédito é todo da equipe de iluminação. O efeito que temos no palco para mostrar que realmente aconteceu uma viagem no tempo é algo semelhante a um véu tremendo. E não tem nenhum tecido no palco, acredite. O efeito é 100% com luz e MUITO mágico. A sensação de fascínio não passa em nenhuma das viagens no tempo, o público continua achando incrível até o final.
Depois de estragar tudo e voltar da primeira viagem no tempo, Albus retorna com o braço quebrado e fica medicado. Na cena em que Harry está com Albus desacordado, recebemos a visita de Dumbledore no quadro. Vale ressaltar que em diversas cenas, uma boa parte do fundo do palco fica completamente escura, tão escura que você não enxerga nada a não ser que saiba muito bem o que você está procurando. Esse é o caso nessa cena. Atrás da “parede” (inexistente, o que define a parede é a posição do quadro) não existe iluminação alguma, é como se o palco terminasse ali. Dumbledore aparece no quadro vindo do lado esquerdo, como se realmente tivesse “passando” por ali e resolvesse parar. Para sair é a mesma coisa, mas sabendo onde olhar, não é muito difícil ver o ator indo em direção a uma saída no fundo do palco que fica bem no centro.
Algumas cenas depois, vemos Albus e Scorpius no banheiro feminino no primeiro andar. Esse cenário ficou muito parecido com o do filme. As torneiras estão em volta de um ornamento central, assim como no filme. Então, é dele que a Murta surge, e não exatamente da torneira. É também por ali, que Albus e Scorpius entram no cano que leva até o Lago Negro. Isso nos leva a cena do lago. Essa realmente não teve jeito. Uma tela redonda do tamanho do palco em altura e largura desce e nós temos uma visão de dentro do lago. Vemos um vídeo de Albus, Scorpius e Cedrico dentro, e o resto vocês já sabem. Em ambas a cenas saindo do lago (uma só com Scorpius e a outra com Scorpius e Albus) que é um retângulo de mais ou menos 2×4 na frente do palco no canto esquerdo. Esse retângulo é um tanque, e os atores emergem de dentro do tanque como se estivessem saindo dali.
Na cena em que Harry, Hermione, Ron, Ginny e Draco revistam o quarto da Delphi, em um certo momento, está no o roteiro que “palavras são reveladas em todas as paredes do auditório”, isso é uma descrição bem básica do que realmente acontece. O choque dentro do teatro é geral. Realmente, as palavras aparecem nas paredes, mas também no teto, nos colunas, em literalmente TODAS as superfícies que alguém poderia observar por alguns segundos. É a melhor surpresa de toda a peça. Como essa é a ultima cena antes do intervalo, todos continuaram dentro do teatro observando onde antes era possível ler a declaração da Delphi graças à luz negra. Agora, a gente até enxerga que tem algo ali, mas nada supera o choque do momento.
É indiscutível que a quantidade e qualidade de efeitos existentes na peça são essenciais para o espetáculo. Quem leu o roteiro só tem um gostinho de toda a experiência proporcionada no teatro. Se você tiver a oportunidade de ir ver “Harry Potter and the Cursed Child” em Londres, não pense duas vezes: VÁ!
Por Heloisa Ferrari, para Balde de Pipoca