Watchmen é diferente de tudo o que envolve super-heróis por aí. Com sua excelente série em HQ, lançadas entre 1986 e 1987, temas mais maduros e uma abordagem mais crítica revolucionou, desde então, este universo. Sua adaptação para o cinema, de 2009, agradou, mas não é considerada uma “obra prima”, da mesma forma que os quadrinhos. a prequel também não foi algo digno da obra de arte que é a história revolucionária de Alan Moore.
Desde então, os super-heróis se transformaram em ícones da cultura pop. A Marvel, com seus blockbusters, arrebatou multidões em todos os seus filmes, que regiam a Saga das Jóias do Infinito. A DC, mesmo sem o mesmo sucesso, garantiu boas bilheterias com uma nova Mulher Maravilha, sua Liga da Justiça. Além de trazer uma nova abordagem ao gênero, com o Coringa.
E ainda por cima, apareceram novas alternativas envolvendo pessoas fantasiadas “combatendo o mal”. As séries Marvel na Netflix, The Boys e The Tick na Amazon Prime, entre outras, mostram diversas iniciativas envolvendo este tema. E é neste contexto, que a HBO apresenta a sua adaptação de Watchmen. A mesma HBO, que, mesmo em um ano com última temporada de Game of Thrones, trouxe diversas boas surpresas, como Chernobyl. Ou seja, boas expectativas.
De fato, não havia casa melhor para Watchmen. A HBO, com o seu know-how, e sua maneira mais livre de abordagem (entenda: sem problemas em exibir violência ou sexo, itens fundamentais em Watchmen) em suas séries, conseguiu tirar o medo inicial de muita gente. A participação de Damon Lindelof (Lost), nos roteiros, também diminuiu o “será que vão estragar a série?” do público, que já começou a trocar a tensão pela vontade de conferir o que viria.
E, enfim, ontem (20) estreou o primeiro episódio. Que, de cara, traz uma proposta bem interessante. Quem nunca ouviu falar de Watchmen, mas assistiu por alguma curiosidade a série, foi facilmente inserido no contexto do seriado. E, se esta pessoa quiser pesquisar mais a respeito, o episódio funcionou como um bom gatilho.
Já os fãs, podem conferir, através da proposta deste primeiro episódio, um tão aguardado “como seria o mundo de Watchmen hoje em dia”. A série original, das HQs, mostra uma realidade diferente da real, com Richard Nixon no poder por mais tempo, devido a seu sucesso no Vietnã. Isso ocasionou um futuro um tanto diferente, com uma Terceira Guerra Mundial ainda mais próxima entre EUA e URSS. Além, claro, dos heróis que colocavam suas fantasias, faziam seus trabalhos de justiceiros, mas tinham que se resolver com questões envolvendo leis, governos, e Justiça.
Entretanto, esqueça a ideia de centralizar o enredo nos personagens. A ideia, pelo menos no primeiro episódio, é contextualizar o espectador em eventos no passado e no presente, usando o plano de fundo da HQ para conectar os fatos, e fazer funcionar a história. Com direito a chuva de lulas, que é um dos elementos que conectam eventos das HQs ao seriado.
Outro elemento interessante a prestar atenção é o fato de que, mesmo em 2019, o mundo da série não avançou muito em tecnologia, apesar do que é visto tanto na HQ, quanto na série. Estamos em 2019, mas as pessoas ainda usam pagers (os famosos bips, populares nos anos 90), e sentimos um ar de “atraso”, ao ver dias atuais vividos como se fossem a década de 90, mesmo com os carros elétricos a todo lugar. Será que saberemos mais a respeito disso? Lembrando que, como a série fala de consequências, podemos ver tanto situações da década de 1920, quanto o mundo atual, baseado nos rumos das HQs.
E o primeiro episódio também serviu para apresentar o contexto deste mundo “Watchmen” aos espectadores. Como grupos de supremacia branca que atacam negros e pessoas que discordam de seus ideais. Personagens mascarados, que tem suas vidas e seus ideais, além de questões semelhantes aos vigilantes do passado, envolvendo comportamento, posicionamento político, entre tantos outros.
O primeiro episódio nos faz querer mais. Não necessariamente em relação a ação, embora tenha bom conteúdo neste sentido já no episódio um. Mas sim, em querer conferir melhor os mascarados, todo o contexto envolvendo o mundo da série e, principalmente, saber como o mundo das HQs fez o mundo caminhar rumo ao dia a dia apresentado nos episódios.
Watchmen, assim, acertou. Exatamente por não querer contar mais uma vez a história de Dr. Manhattan, Comediante, ou de Rorschach. Mas sim, por mostrar que o mundo destes personagens, é tão interessante quanto os mascarados vigilantes. A série está em exibição na HBO, com os episódios exibidos aos domingos, ás 23 horas. E com disponibilidade na HBO GO.
Por Arkade